quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O TEMPO E A DINÂMICA DAS COISAS





Pode até parecer que coloquei este vídeo do vice-primeiro-ministro simplesmente para o desancar. Nada disso! Antes de continuar e a título de ressalva, declaro que nunca votaria no CDS-PP com este senhor à frente. Não gosto deste personagem que, desgoste-se ou não, faz parte da nossa história hodierna e merece respeito.
O que me levou a postar o vídeo foi o facto de, ipsis verbis, aqui se mostrar, preto no branco que todo o homem é incoerente. E não se pense que esta qualidade/defeito é apenas património de Paulo Portas. Custa a admitir mas somos todos assim. Sem dúvida que uns são mais congruentes e petrificados nos seus princípios –e estou a lembrar-me de um grande político de esquerda já desaparecido que foi um ícone dogmático. À distância do seu sumiço do reino dos vivos, poder-se-ia perguntar: se ele não se tivesse pregado à sua cartilha repetida à exaustão a história política portuguesa moderna seria como é hoje? Se calhar não! Poderia ser muito diferente. Quero dizer, portanto, que lamentamos as mudanças de cada um, consoante o sopro dos dias, mas também criticamos aqueles que, como burros amarrados à argola da parede não mudam nem que o prédio caia.
Creio que em suma, mesmo não indo à bola com o ex-director do desaparecido Independente, ele está mais certo do que Álvaro Cunhal –que foi um personagem marcante da política partidária portuguesa. O que ganhou o País com a coerência deste grande líder comunista?
Tudo na vida é dinâmico. Coisas e pessoas. Toda a materialidade está sujeita a um desgaste e influência directa do que a rodeia. Se nas coisas se assiste a uma erosão natural passiva –uns dizem que é o tempo que as torna velhas-, nas pessoas apercebemo-nos que embora o ciclo de vida se cumpra –nascimento, apogeu e morte-, de um modo geral, a durabilidade não é estática nem passiva. Neste caminhar em ziguezague em direcção ao derradeiro, há uma busca intensa pelo interesse, reconhecimento e pela salvação. O homem muda o seu comportamento não por que queira mudar por si mesmo mas porque, sendo gregário, o ambiente que o rodeia se transforma e o obriga a alterações comportamentais. Então, dividido entre o interesse egoísta e a auto-defesa, vai-se adaptando aos novos acontecimentos –ocorrências estas que são sempre resultado, ou projecção dessas mesmas eventualidades. Contrariamente ao que se diz, não se pode culpar o tempo pelas modificações que vão reformando tudo o que nos rodeia. O tempo, se não se convencionasse calendarizá-lo e cronometrá-lo em fatias seria infinito, seria sempre igual. Só a imaterialidade, o que não se toca ou sente, é interminável. Tudo o que é massa, tangível, é finito pelas leis naturais, com uma duração existencial – o que a ser assim nos remete para uma falácia comum quando se afirma que o Universo é infinito. Se é constituído por matéria só pode ser finito –ainda que se possa assistir a uma auto-regeneração dos elementos que o compõem- e um dia, não se saberá quando, poderá ter alterações substanciais que poderão levar, ou não, ao seu fim.
Para terminar -porque veja-se bem onde comecei, no Paulo Portas, e fui dar ao Universo- tenho para mim que todo o homem só é coerente na sua própria incoerência. 


TEXTOS RELACIONADOS

"Este é o tempo"
"A angústia do Natal"
"Mulher"
"Muda tudo... até a hora"
"Em busca da tradição e do tempo perdido"
"A Baixa em guarda e à espera de um outro tempo"
"Se burro dado não serve..."
"A França Socialista"
"Feliz Ano Novo..."
"A inutilidade da pobreza"

Sem comentários: