Encerrou esta semana o restaurante
Blue Friday Club, no Edifício horizonte, ao fundo da Rua Direita.
Vinte meses depois, passando por cima de um investimento avultado, e de um
sonho gorado, este estabelecimento de hotelaria claudicou. Para além dos
patrões, pelo menos quatro funcionários foram para o desemprego.
Em Outubro de 2012, Armando Van
Zeller, na altura em sociedade com Vitor Silva, quando lhe perguntei se
acreditava na regeneração da Baixa, retorquiu assim sem pestanejar: “não tenho
dúvida! Esta vai ser a zona do futuro. Aqui está o amanhã dos nossos filhos!”
Ultimamente várias pessoas se me
tem dirigido a criticarem o facto de os meus escritos serem muito “carregados
de dor”, demasiadamente pouco optimistas. Estou a lembrar-me de uma minha amiga
que vai abrir um negócio proximamente e, perante os meus alertas de muito cuidado, me replicava: “Bolas, senhor Luís! O senhor está muito pessimista! Temos de ter
esperança!”
Entendo perfeitamente ser natural
partimos para uma aventura cheios de força. O mal seria se estivéssemos
derrotados logo a começar, mas, diz o povo, cuidados
e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Também é verdade que me
sinto sem alento e com pouquíssima fé no futuro desta Baixa –confesso que sim,
também e sobretudo, derivado a alguns problemas familiares que atravesso e, juntando
ao que assisto à minha volta, sinto-me quase sem forças. Quando assim acontece
não há optimismo que resista.
Cada vez mais é necessária
temperança nas pessoas que legitimamente procuram ganhar a vida com dignidade. Estou
farto de escrever textos a chamar atenção para este facto. Estão acontecer
falências demais aqui no Centro Histórico. Jovens e pessoas de meia-idade que
apostaram tudo numa única cartada e, como gelo que se transforma em água, vêem
a sua vida ir para o charco. Ainda ontem escrevi uma crónica sobre os maus
investimentos que estão acontecer nesta zona. São feitos sem pensar nas
consequências futuras. Em parte por uma ignorância assente em falsos
pressupostos, não olham à renda e aos custos fixos dos projectos que pretendem
encetar. As tragédias estão à vista de todos. Para além de uma notória omissão
de quem deveria aconselhar estas pessoas, há muita irresponsabilidade por parte
de quem está a abrir um estabelecimento.
Apenas como exemplo, e para
melhor se entender, vou voltar ao Blue
Friday Club –e vou tentar não parecer um moralista armado em sabichão. Há
cerca de 18 meses, segundo me contou na altura o empresário, a renda andava
muito próximo de 3000 euros mensais –sei que actualmente, num acto de
boa-vontade do senhorio que viu o desastre antecipadamente, o montante já estava
em pouco mais do que 1000 euros. Mais ainda, foi-me dito também na altura pelo
gerente do restaurante que haviam sido gastos cerca de 100 mil euros na
decoração do estabelecimento. Que me perdoe o senhor, mas coisas destas não
podem acontecer, São demasiadamente levianas
para ocorrerem. Mais ainda, terá lógica criar um restaurante, com uma apresentação
fantástica e com uma área fora do comum, numa zona decrépita, com prédios a
cair, e onde os toxicómanos, agora mais do que nunca, estão a dar imensos
problemas a toda a zona envolvente com assaltos nocturnos a pessoas e bens? –Conto
para a semana fazer um trabalho sobre os lamentos imensos de quem ali mora e
trabalha e que me têm chegado. No limite, se calhar, até fará sentido uma casa
destas, outras e outras, numa zona degradada. Mas, para isso, seria preciso que
vivêssemos numa cidade, de um país, preocupada com quem investe e tudo aposta.
Acontece que não é assim, todos falam na criação de emprego, mas apoio verdadeiro,
em assessoria técnica, informação e desoneração de impostos para pequeníssimas empresas, não há. Os resultados estão ao virar da esquina.
E mais ainda: por mais culpas, na
negligência, que se atribuam aos que tentam abrir um negócio, o Estado, essencialmente
ao não garantir o cumprimento da segurança que deveria estar obrigado, está a ser
o coveiro destes pequenos empresários. Até quando?
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