(Imagem da web)
Até há pouco tempo um pensamento
recorrente me bailava na cabeça: escrevo n’O Despertar há quase um ano e meio.
Até agora, nunca vi por cá um desabafo de um leitor a insurgir-se contra ou a
favor sobre o que, tantas vezes subjectivamente, opino. Ora, sendo assim, em
silogismo, extraio três resultados possíveis: ou estão sempre de acordo com o
que escrevo; ou nunca lêem o que plasmo no jornal; ou, lendo, pensam para si
mesmos: “deixem lá o tipo escrever o que
quiser. O gajo é doido. Não é para ligar”. Continuava eu a imaginar: se assim
for, levando em conta esta última premissa, é mau porque, sendo uma espécie de
prerrogativa, vou persistir no disparate. Como antecipadamente sei que não
terei réplica, arbitrariamente, sinto-me livre para defender o indefensável.
Subitamente, na semana passada,
tudo mudou. Dois acontecimentos, um negativo e outro positivo, fizeram-me crer
que, afinal, muitos leitores lêem o mais antigo semanário da cidade –o conteúdo
que, enquanto colaborador, escrevo e os dos meus camaradas de prosa. Sobre o
negativo, não vou debruçar-me. Já basta o facto de o ser, enquanto carga negra
para esquecer. Por isso mesmo vou contar o que foi deveras relevante. Na
terça-feira, 16 do corrente, tinha uma mensagem de uma senhora no telefone: “senhor Luís Fernandes, d’O Despertar, embora
tivesse ligado para o jornal onde trabalha, agradeço que, apesar do meu número
ser sigiloso, me telefone para o móvel”. E eu liguei. “Senhor Luís Fernandes, d’O Despertar, sou parte integrante de uma
congregação religiosa e lemos no nosso jornal a sua crónica “O último
regresso”, onde escreve sobre o músico de rua, o acordeonista Paolo Vasil, e na
necessidade de, novamente, ele poder pisar o chão sagrado da terra que o viu
nascer. Queremos entregar-lhe um envelope com uma comparticipação colectiva. Não
queremos publicidade. Onde o podemos encontrar?”
E eu, surpreendido e meio
atarantado, sem palavras por esta generosidade sublime, lá expliquei que o
Paolo, para além de ser instrumentista na denominada Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra, toca todos os dias junto
ao Museu Municipal do Chiado, na Rua Ferreira Borges. Só me ocorreu exclamar:
em meu nome e, essencialmente, do Paolo muito obrigada. Respondeu a senhora: “não agradeça. A nossa contribuição não é
para merecer reconhecimento. Estamos a fazer o que devemos. Que Deus o abençoe e ao
senhor Paolo Vasil.”
No dia seguinte este homem bom,
trabalhador e solidário com quem muito necessita como ele, embaixador de boa
vontade de um povo que nos fez criar um estereótipo pouco lisonjeador, recebia
um envelope com uma verba que não vou revelar e que, de certo modo, irá
permitir fazer face à sua doença e apoio para o seu regresso. Há palavras para
comentar este acto fantástico de magnanimidade? Há, mas deixo os comentários
para quem me ler. Apesar de ser contra o estabelecido pela senhora anónima,
apenas resumo numa frase: Muito obrigados a todos quantos se preocupam com quem
vive horas de aflição. Bem-haja!
1 comentário:
Espectacular!Ainda existe gente boa e solidária!Em nome do Sr.Paolo obrigado aos doadores e a si amigo Luís!
Marco,Coimbra
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