Tudo começa
logo à entrada, nas centenas e centenas, senão milhares, de automóveis parados.
Depois, à procura de um lugar, constatamos a imensa área disponível para
estacionamento. Lá encontramos um lugar e, a penates, seguimos em direcção ao
recinto da EXPOFACIC. Afinal foi para isso mesmo que fomos lá. Enquanto
caminhamos a pé, mais uma vez, percorremos com o olhar a extensa área destinada
a parqueamento de automóveis. Vamos reparando que o chão, nalguns casos de
terra batida, está bem cuidado. O seu estado não gera implicância com os nossos
sapatos. Continuamos a andar e verificamos que está tudo relativamente bem
pensado, até um riacho que corre ao longo do terreno está com resguardos em
madeira.
Compramos o bilhete de 3 euros,
que, no caso, dará acesso a um concerto de Tony Carreira, e entramos dentro do
recinto da feira. É então que, perante tantos standes de venda e aquele molhe humano que, como pedras rolantes,
quase se atropela, da nossa boca sai uma imprecação: “C’um raio! De onde é que
veio tanta gente?”
Prosseguindo na minha
especulação, continuamos a interrogar. Se Cantanhede conseguiu todo este
sucesso, por qual a razão de Coimbra, com a sua CIC, Feira Industrial e Comercial, nem por sombras andou lá perto?
E aqui, em vez de interrogações,
passamos a dar respostas em forma de constatação.
A feira de Cantanhede é uma
realização do seu município. Ou seja, anualmente a autarquia, metendo as mãos
na massa, candidata este certame ao QREN, Quadro de Referência Estratégico, e a
outros programas de incentivos, e o resultado está à vista.
E em Coimbra o que aconteceu?
Aqui, a meu ver, todos temos culpa no empobrecimento da nossa CIC. Como se sabe
foi sempre uma realização da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra
–que se, por um lado, nunca largou mão da exclusividade da sua realização, por
outro, a Câmara Municipal também nunca se quis envolver activamente. A
edilidade limitava-se a contemplar a associação com uma verba à volta de 100
mil euros –foi o último subsídio cabimentado- e nada mais. Ora este “não me toques que me desafinas”, nesta
centralização por parte da ACIC e na medida em que a de Cantanhede crescia
e a de Coimbra minguava, foi fatal para a nossa Feira Industrial e Comercial.
Depois também na época, na subsequência,
aconteceram momentos peculiares e fatídicos. Peculiares, porque os nossos empresários desde que a CIC saiu da
Praça Heróis de Ultramar nunca mais acreditaram
nesta feira. Conseguir a sua inscrição de participação era mais difícil que ir
a Fátima a pé –saliento que o sucesso da CIC até 1978, na praça agora ocupada
próximo do Dolce Vita, tinha directamente
a ver com o momento que se vivia em Portugal e, sobretudo, por haver meia dúzia
de certames no país. Fatídicos,
porque as poucas unidades industriais que existiam na cidade foram
desaparecendo progressivamente e ficando sem representatividade.
A queda da CIC, no meu entender,
não tem rigorosamente nada a ver com a sua deslocalização mas antes pela forte
concorrência de outras realizações na zona centro, como Figueira da Foz,
Leiria, Batalha, Lousã e Cantanhede, naturalmente.
Quando digo em cima que todos
temos culpa, refiro também o cidadão comum, que, habitualmente, não participa
muito no que se faz na Lusa Atenas. Num certo ostracismo, prefere ir apreciar o
que se edifica nas redondezas. Em resultado do que escrevi até aqui, a CIC está
morta e muito bem enterrada. Estando Cantanhede a pouco mais de uma dezena de
quilómetros não fará qualquer sentido a cidade dos estudantes ter uma feira,
apenas porque tem de parecer concorrente, nem que seja de fantasia, do melhor
que se faz à sua volta. Cada vez mais se deve encarar a Região Centro como
policêntrica, ainda que com as suas diferenças, mas a convergir para o enriquecimento de todos.
Culpar a ACIC, a Câmara
Municipal, culpar os empresários, culpar os visitantes, acho que também será uma
perda escusada de recursos. Todos tivemos culpa no cartório. O tempo, no seu caminhar em
busca da luz, se encarrega de fazer emergir a verdade. Ponto final e parágrafo.
Sem comentários:
Enviar um comentário