Sempre tive uma certa
desconfiança em relação aos concursos. Achei sempre que, deixando os melhores de fora, discriminam a maioria dos concursantes e não avaliam os candidatos
como deve ser –escusado será dizer que, apesar da natural discricionariedade do
júri dentro da subjectividade humana, eu não sei como fazer melhor.
Ainda hoje li no Diário de
Coimbra (DC) “Concurso de ideias já distribuiu 400 mil euros –Universidade
de Coimbra Projecto “Arrisca C” abre-se este ano, pela primeira vez, aos
alunos do ensino secundário”. Continuando a ler, “(…) A edição deste ano, que
vai ser pela primeira vez aberta a estudantes do ensino secundário, vai
distribuir mais de 150 mil euros. (…) Até aqui dirigido aos estudantes ou
recém-diplomados há menos de cinco anos de qualquer instituição de ensino
superior do país que tenham um projecto e que queiram coloca-lo em prática,
esta 6ª edição do “Arrisca C” resolveu ultrapassar todas as convenções e
aumentar ainda mais a fasquia, explica a Universidade.”
Por aqui, por este pequeno extracto,
já se vê a brutal discriminação da Universidade. Sim da Universidade –é o que
se escreve no texto do DC, não se fala em nome personalizado. Só vindo de uma
velhota com mais de 700 anos se pode entender ficar meia histérica ao
considerar que com este pequeno alargamento aos “secundaristas” se está a ultrapassar
todas as convenções. E os outros? Os que não são estudantes do segundo escalão, universitários
e recém-diplomados não podem ter boas ideias? Todos os dias, ao virar da
esquina, nos apercebemos de invenções geniais. Simples. Tão simples que até nos
perguntamos como foi possível não termos nós descoberto aquilo. Estes “arquitectos”
não merecem ser contemplados? Por exemplo, ainda hoje reparei numa
extraordinária ideia de um qualquer brilhante funcionário camarário –a menos que
partisse de outra freguesia. Às vezes até fico mais burro do que já sou. Então não
é que -por coincidência, está de ver- ontem escrevi um texto sobre o novo horário
de recolha de lixo? E, então, lá defendia que era preciso personalizar a informação
aos moradores e aos comerciantes, porque, como desconheciam as alterações,
continuavam a colocar os resíduos à mesma hora de antigamente. É óbvio que,
para além de ser muito lerdo e a cair para a idiotice, não tenho nem uma ideia feliz.
Está de ver que falar pessoalmente com umas centenas de residentes na Baixa
será uma tarefa hercúlea. E, acima de tudo dá uma trabalheira. É lógico que se
as minhas ideias fossem realmente boas, sei lá, provavelmente seria advogado.
Se continuo a despejar postas de pescada
por alguma razão será. É ou não é? Ainda escrevo mais, se fosse minimamente
inteligente teria visto logo que estava a defender o impossível.
Graças a Nosso Senhor Jesus
Cristo e ao Nosso Pai do Céu, temos gente criativa na autarquia de Coimbra.
Então –não vou dizer que tivessem lido o texto que escrevi ontem, nada disso!-,
em resposta –quase parece mas não é-, o que fizeram os diligentes supra
citados? Recorreram a algo excepcional. Diria antes fantástico! Durante a
noite, creio, imitando os “corujas” –sem ofensa, está de ver-, fartaram-se de
colar avisos em tudo quanto é esquina na Baixa. Um acto simples deste desmesurado
alcance não é uma ternura? Confesso, fiquei sem palavras. Graças ao Altíssimo
que temos gente competente a decidir. É que faz todo sentido. Como é que eu não
vi isto, caramba! –e bato com a mão aberta na minha testa rugosa de tanto se
esforçar por pensar mas não sai nada. Não há dúvida, já dizia a minha mãezinha,
que Deus tenha em boa guarda,: “ai,
Toino, Toino, complicas tudo, rapaz!”. É assim mesmo que se racionalizam os
custos. Pois claro. É certo que durante a noite também se distribuíram uns
panfletos debaixo das portas e gastou-se algum pilim, mas isso não é nada! Mesmo
assim, poupou-se muito, sobretudo esforço físico. Alguém imagina o que é subir
três e quatro lances de escadas para bater no quarto andar? E depois se a
velhinha não abre, porque confunde o mensageiro com um vendedor da Meo ou outro
qualquer operador de comunicações? Sim, não há dúvida: uma brilhante solução,
simples, de grande eficácia e perfeitamente inserida dentro do âmbito da
classificação de Património Mundial.
Volto outra vez à introdução,
esta ideia, não estará perfeitamente dentro dos parâmetros “Ultrapassa os
limites. Arrisca”? Será que não deveria ser contemplada pela Universidade de Coimbra?
É por essas e por outras…
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