sexta-feira, 26 de julho de 2013

"ULTRAPASSA OS TEUS LIMITES. ARRISCA!"



 Sempre tive uma certa desconfiança em relação aos concursos. Achei sempre que, deixando os melhores de fora, discriminam a maioria dos concursantes e não avaliam os candidatos como deve ser –escusado será dizer que, apesar da natural discricionariedade do júri dentro da subjectividade humana, eu não sei como fazer melhor.
Ainda hoje li no Diário de Coimbra (DC) “Concurso de ideias já distribuiu 400 mil euros –Universidade de Coimbra Projecto “Arrisca C” abre-se este ano, pela primeira vez, aos alunos do ensino secundário”. Continuando a ler, “(…) A edição deste ano, que vai ser pela primeira vez aberta a estudantes do ensino secundário, vai distribuir mais de 150 mil euros. (…) Até aqui dirigido aos estudantes ou recém-diplomados há menos de cinco anos de qualquer instituição de ensino superior do país que tenham um projecto e que queiram coloca-lo em prática, esta 6ª edição do “Arrisca C” resolveu ultrapassar todas as convenções e aumentar ainda mais a fasquia, explica a Universidade.”
Por aqui, por este pequeno extracto, já se vê a brutal discriminação da Universidade. Sim da Universidade –é o que se escreve no texto do DC, não se fala em nome personalizado. Só vindo de uma velhota com mais de 700 anos se pode entender ficar meia histérica ao considerar que com este pequeno alargamento aos “secundaristas” se está a ultrapassar todas as convenções. E os outros? Os que não são estudantes do segundo escalão, universitários e recém-diplomados não podem ter boas ideias? Todos os dias, ao virar da esquina, nos apercebemos de invenções geniais. Simples. Tão simples que até nos perguntamos como foi possível não termos nós descoberto aquilo. Estes “arquitectos” não merecem ser contemplados? Por exemplo, ainda hoje reparei numa extraordinária ideia de um qualquer brilhante funcionário camarário –a menos que partisse de outra freguesia. Às vezes até fico mais burro do que já sou. Então não é que -por coincidência, está de ver- ontem escrevi um texto sobre o novo horário de recolha de lixo? E, então, lá defendia que era preciso personalizar a informação aos moradores e aos comerciantes, porque, como desconheciam as alterações, continuavam a colocar os resíduos à mesma hora de antigamente. É óbvio que, para além de ser muito lerdo e a cair para a idiotice, não tenho nem uma ideia feliz. Está de ver que falar pessoalmente com umas centenas de residentes na Baixa será uma tarefa hercúlea. E, acima de tudo dá uma trabalheira. É lógico que se as minhas ideias fossem realmente boas, sei lá, provavelmente seria advogado. Se continuo a despejar postas de pescada por alguma razão será. É ou não é? Ainda escrevo mais, se fosse minimamente inteligente teria visto logo que estava a defender o impossível.
Graças a Nosso Senhor Jesus Cristo e ao Nosso Pai do Céu, temos gente criativa na autarquia de Coimbra. Então –não vou dizer que tivessem lido o texto que escrevi ontem, nada disso!-, em resposta –quase parece mas não é-, o que fizeram os diligentes supra citados? Recorreram a algo excepcional. Diria antes fantástico! Durante a noite, creio, imitando os “corujas” –sem ofensa, está de ver-, fartaram-se de colar avisos em tudo quanto é esquina na Baixa. Um acto simples deste desmesurado alcance não é uma ternura? Confesso, fiquei sem palavras. Graças ao Altíssimo que temos gente competente a decidir. É que faz todo sentido. Como é que eu não vi isto, caramba! –e bato com a mão aberta na minha testa rugosa de tanto se esforçar por pensar mas não sai nada. Não há dúvida, já dizia a minha mãezinha, que Deus tenha em boa guarda,: “ai, Toino, Toino, complicas tudo, rapaz!”. É assim mesmo que se racionalizam os custos. Pois claro. É certo que durante a noite também se distribuíram uns panfletos debaixo das portas e gastou-se algum pilim, mas isso não é nada! Mesmo assim, poupou-se muito, sobretudo esforço físico. Alguém imagina o que é subir três e quatro lances de escadas para bater no quarto andar? E depois se a velhinha não abre, porque confunde o mensageiro com um vendedor da Meo ou outro qualquer operador de comunicações? Sim, não há dúvida: uma brilhante solução, simples, de grande eficácia e perfeitamente inserida dentro do âmbito da classificação de Património Mundial.
Volto outra vez à introdução, esta ideia, não estará perfeitamente dentro dos parâmetros “Ultrapassa os limites. Arrisca”? Será que não deveria ser contemplada pela Universidade de Coimbra? É por essas e por outras…


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