quinta-feira, 25 de julho de 2013

O LIXO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO



 Em 12 do corrente, o Departamento de Qualidade de Vida, Divisão de Ambiente, da Câmara Municipal de Coimbra, fez constar em edital publicado nos jornais da cidade a alteração de horário de funcionamento para recolha de resíduos urbanos na cidade entre as 17h00 e a 1h00 da madrugada.
Recorrendo à publicação nos diários, “Assim solicita-se a melhor colaboração dos munícipes residentes na Alta e na Baixa de Coimbra para que a deposição de sacos na via pública se efectue no período entre as 17h30 e as 21h00”.
A primeira tentação que nos impele é criticarmos esta mudança, considerando a recolha demasiado cedo, se levarmos em conta os imensos restaurantes que laboram até tarde nesta zona velha da cidade. Na minha forma de avaliar esta transformação estará correcta e virá de encontro às necessidades da população das zonas velhas. Várias vezes escrevi alguns textos a insurgir-me contra o desmesurado barulho que os funcionários camarários faziam noite dentro. Mais do que uma vez, cerca das 3h30 da manhã, me levantei e vim reclamar junto dos faxineiros a falta de respeito por quem dormia. Até se poderá pensar que seria embirração minha. Nada disso. Uma das vezes, lembro-me, com um ferro em forma de marreta, dois trabalhadores começaram a desmantelar um frigorífico junto à minha porta. Naturalmente que dei conta destes factos na autarquia. Em conversa com vários vizinhos, todos entendiam que havia uma grande falta de cuidado por parte dos funcionários da ERSUC. Ora, sendo assim, entre escolher o descanso dos residentes e antecipar a apanha de detritos nos restaurantes, em escolha, qual será o mal menor? Em princípio não haverá dúvida. Nesse caso, tudo estará muito bem, dirá o leitor em ilacção. Acontece que não. Não está mesmo. Antes pelo contrário, agora está ainda pior. Como as pessoas não sabem das novas modificações, continuam a abandonar os excedentes no antigo horário e, durante todo o dia, permanecem para quem os quiser ver e cheirar –não podemos olvidar a nova classificação desta área circundante como Património da Humanidade e a responsabilidade acrescida pela distinção.
É evidente que esta medida de troca de horários só fará sentido se for acompanhada de uma campanha de sensibilização junto dos comerciantes e residentes e, numa segunda fase, a aplicação de multas aos infractores. Mais ainda, de uma vez por todas, os serviços camarários em vez de despejar a informação através do edital publicado no jornal e darem por concluído o processo, é obrigatório passar a comunicação pessoalmente e de porta em porta. Dá trabalho? Acredito que sim, mas, para almejar sucesso, não se vê outra forma de procedimento. Recorra-se às juntas de freguesia; recorra-se a voluntariado. É preciso sair dos confortáveis gabinetes e investir no contacto individual. Por se pensar que, para que a informação chegue a todos, basta carregar num botão é que, cada vez mais, temos uma população disfuncional, do ponto de vista organizacional, info-excluída, a renegar os computadores, e a sentir-se cada vez mais perdida neste oceano de modernidade. Talvez valesse a pena pensar nisto, não?!?

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