Todos sabemos, como é normal uns
estarão mais de acordo outros menos, Mário Nunes foi um vulto das artes, sobretudo
na sua divulgação. Com vários livros publicados sobre o património público e
privado, incluindo sobre a toponímia, onde a história do nome das ruas é focada
com o relevo que merece, este homem foi um defensor da cidade. Para além disso,
durante oito anos, foi vereador da Câmara Municipal de Coimbra. Ora, a meu ver –e
não sei a quem cabe a responsabilidade pela omissão- não se pode entender que
este meu amigo –que para aqui é despiciente- falecesse no sábado, durante a
manhã, e, quase a correr, fosse enterrado logo no domingo, também durante a
manhã. Repetindo, não sei a que se deveu tal pressa. O que sei é que muitos
amigos, como eu, não puderam incorporar o féretro. Por outro lado, a coberto do
anonimato, disse quem esteve presente, que a homenagem pública que a cidade lhe
deveria ter prestado, e não prestou, foi simplesmente de uma pobreza
franciscana, sem ofensa para os mesmos. “O funeral, como sabe, foi realizado no
Espinhal (Penela) terra-natal de Mário Nunes. Em Coimbra realizou-se o velório
e missa de corpo presente antes da partida para o Espinhal. Escolheram a capela
mortuária de S. José, na freguesia dos Olivais, dado que vivia não muito longe
dali, junto ao pavilhão do OAF e fazia a vida religiosa naquele templo. O
problema é que o espaço foi pequeno para tanta gente! Aguardaram no exterior,
sob calor e sol, o sêxtuplo das pessoas que conseguiram ficar no interior,
aguardando pela sua vez para se despedir do ex-vereador. Muitas acotovelaram-se
para aceder ao interior da capela. Não sei se a ideia da cerimónia naquele
espaço foi da família ou do município. Mas, de uma ou doutra forma, não foi
modo de se despedir duma figura que, apesar de vários defeitos, foi vereador da
Câmara Municipal de Coimbra (CMC)! Algumas pessoas ficaram indignadas, e disso
fizeram viva voz no local, chegando a afirmar que «se fosse outra
personalidade, mais próxima ao clube» a CMC teria feito justa homenagem. Carlos
Encarnação, Barbosa de Melo, Manuel Oliveira, entre outros não conseguiram
melhor do que um lugar no exterior diante da porta principal da capela. Viu-se
pouquíssima gente do PS e CDU. O momento de maior indecoro viveu-se no decorrer
da missa, com as pessoas no exterior a falarem, algumas muito alto como se fosse
uma feira, outras a rirem -um ruído imenso que abafou por completo a cerimónia
religiosa. A Dr.ª Isabel Vale, da área cultural da Fundação Bissaya Barreto,
apresentou-se com vestido verde-alface a roçar a mini-saia. Outras lhe seguiram
o exemplo. Só visto amigo, só visto! Coimbra trata assim as suas figuras
públicas!”
É preciso salientar que na hora
do perdão e do juízo final, individualmente, se formos contemplados com esse
sentimento, crescemos todos como pessoas e tornamo-nos mais cidadãos.
Se no nascimento e na morte,
intrinsecamente, todos somos iguais, no entanto, e no derradeiro, é legítimo uma
discriminação positiva para “aqueles que, por obras valorosas, se vão da lei da
morte libertando”. É justo que, pelo seu trabalho em prol do social, tenham um
merecido tributo na hora da partida. Quanto mais não seja para servirem de
incentivo aos vindouros. Alguém, dos vivos, esteve muito mal no reconhecimento
que todos devemos a Mário Nunes.
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