LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "REFLEXÃO: SUBSÍDIO PARA A FORCA", deixo também as crónicas "QUIM BARREIROS NA BAIXA"; e "MORREU MÁRIO NUNES";
REFLEXÃO: SUBSÍDIO PARA A FORCA
Não é a primeira vez que escrevo
sobre esta medida de incentivo ao trabalho. Desde que seja para a criação de
auto emprego o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) tem dado aos
desempregados de longa duração a possibilidade de estes receberem em acumulado,
de uma vez só, as verbas a que teriam direito durante o prazo máximo de
desemprego. Faz sentido esta possibilidade? Sim, parece que faz e não oferece
contestação. Então, sendo assim, o que me leva a, mais uma vez, trazer o
assunto à colação? Embirrei com o IEFP? Não tenho mais nada para escrever? Vou
tentar responder e explicar melhor.
Nos últimos anos, aqui na Baixa,
abriram alguns negócios deste género que conheci bem. As pessoas, com a sede
natural e legítima que se adivinha de precisar e querer trabalhar, sem
experiência de gestão e algumas vezes do tipo de comércio, lançaram-se em projetos
de alguma envergadura. Sem citar nomes, abriram-se casas de pronto-a-vestir
onde a oferta era excedentária; nasceram novas sapatarias onde a escassos
metros havia dezenas de lojas do mesmo ramo. As que eu conheci, como fado
triste, acabaram por ter por destino a insolvência. Com rendas exageradas e
custos fixos associados imensuráveis para os proventos que deveriam ter sido
alertados em tempo útil e não foram, estas pessoas, alguns deles jovens, entraram
vulneráveis de mão estendida e saíram pior que mendigos com as suas vidas
destroçadas.
Lembrei-me de escrever sobre isto
porque, no mesmo âmbito e sem critério de avaliação, novos negócios estão a dar
à estampa no Centro Histórico. Tal como os anteriores, e sem que se vislumbre
mudança, o quadro de implantação é o seguido há vários anos, abrir mais um
ponto de venda quando os que já lá estão não aguentam a alavancagem para o
futuro. Bem sei que, dentro do princípio da liberdade de livre iniciativa,
esmiuçar o certo e o errado nas vontades de cada um parece colidir com a
autonomia individual. Mas se a prática mostra uma elevada percentagem de
insucesso –haverá estatísticas?-, então é preciso parar para pensar e fazer a
destrinça entre os dois males, maior e menor. É que, atente-se, o subsídio de
desemprego, intrinsecamente, fará sentido se constituir uma fonte de rendimento
para evitar que o outrora assalariado e agora sem emprego se arraste e caia na
indigência. Ora, depois dos factos consubstanciados, facilmente se adivinha que
esta subvenção está a ser desvirtuada do fim a que se destina. Pior, embora sem
generalizar, está a ajudar a enriquecer alguns proprietários menos escrupulosos
que, sem pudor, se aproveitam da inocência destas pessoas. E o Estado, tal como
Pilatos, lava as mãos desta responsabilidade? Talvez valha a pena pensar nisto.
QUIM BARREIROS NA BAIXA
Na penúltima terça-feira, a convite
da sua amiga Isabel Leão, com estabelecimento de malas e carteiras na Rua
Eduardo Coelho, Quim Barreiros, o
popular instrumentista e cantautor brejeiro
do Casamento
gay, andou pela Baixa a distribuir charme. Procurou Meias
de Renda e, numa grande confusão, acabou a comprar
cuecas na loja da Rosinha. Entrou na perfumaria Baviera, também na mesma rua,
e, como perdido em busca d’A Cabritinha, começou a ter Insónia, perguntou à Mikas, funcionária da loja dos odores: “viu Minha Vaca louca?”. É claro
que a rapariga não estava a entender mesmo nada e, meio a titubear, ainda
disse; “se calhar pode estar na Garagem da Vizinha”. Mas o Quim, que
tem pinta de malandreco, embora não
gostando d’A coisa, enfatizou: “Fica amor tá cedo”. Mas a
empregada, que até estava ligada Na Internet, achou aquilo meio Tico,
Tico. E lá com seus botões,
em solilóquio, lá foi pensando que “Quem pode, Pode. Os Bichos
da Fazenda são o que são!”
Entrou na Sapataria Paiva e disse
à Fátima e à Célia: “Deixai-me Chutar”. As duas
funcionárias, um pouco nervosas perante a estrela de todas as Queimas das Fitas do país, e natural de
Vila Praia de Âncora, avisaram logo: “Cuidado Zé”, não se meta connosco.
Aqui vendemos sapatos e não chuteiras. Além disso, Use Álcool no bigode para
o deixar branquinho e parecer mesmo o Malhão dos Santinhos. Em coro, um bocado irritadas com as
avançadas do Barreiros, ainda enfatizaram: “não puxe do cigarro que aqui É
proibido Fumar”. Mas o Quim,
vivido como o raio, safardolas até à
quinta casa, não se ficou e devolveu a investida: “Casado também Namora”.
Embora o Quim Barreiros fosse coberto –salvo seja, quero dizer em
reportagem de exterior- pela nossa grande e boa jornalista Rosete Sempre-em-cima”, como o trabalho noticioso esteja a tardar
–suponho que a rapariga não Tá fugindo, ou sofreu algum
afrontamento perante o “Mestre da Culinária” que por aqui
procurava Uma Virgem e, mesmo até n’Os Buracos do chão, não encontrou- e
a ansiedade por parte dos fotografados ao lado do Zé do Pau é grande, cá na
Quinta
da Pentelheira, entendemos publicar uma foto. A qualquer momento, e
assim que recebermos a crónica da nossa enviada especial, contamos dar ao prelo
a sua vivência com o homem do nariz que Quer cheirar teu bacalhau.
MORREU MÁRIO NUNES
Subitamente,
na manhã do último sábado, faleceu Mário Nunes. Pela primeira vez, conheci este
homem por volta de 1982, era ele então funcionário bancário, salvo erro do BNU,
Banco Nacional Ultramarino, ali em frente ao café Nicola. Na altura ele
escrevia para o Diário de Coimbra em crónica semanal, se a memória não me
atraiçoa ao Domingo. Como eu, de vez em quando, também publicava uns desabafos
no mesmo jornal começámos a falar-nos. Para além disso, ele estacionava o carro
no largo da Sé Velha diariamente e, como eu tinha o café com o mesmo nome no
vetusto largo histórico, passámos a entabular conversa facilmente. Acompanhei
de perto, em 1987, o Congresso Internacional “Alta, que futuro?” promovido por este grande vulto defensor das artes
locais enquanto presidente do GAAC, Grupo de Arqueologia e Arte do Centro.
Entretanto, como trabalhador–estudante, licenciou-se em História, na
Universidade, e aposentou-se da entidade bancária onde prestava serviço. Fui
sempre acompanhando o seu percurso até que se tornou vereador da Cultura, em
2002, da Câmara Municipal e fazendo parte integrante da Coligação por Coimbra.
Mário Nunes era um gentleman. Um homem gentil de um sorriso
largo, escancarado, e fantástico. Era um lisonjeador. Ao longo do tempo, fomos
sempre falando. Ainda há poucos dias, um pouco magro e de aspeto cansado, nos
encontrámos e, naquela sua forma de bom comunicador, me dizia: “ó Luís, as suas crónicas n’O Despertar são
fantásticas. Nunca perco uma”. E eu, meio encavacado, sabendo que havia nas
suas palavras exagero, lá argui: lá está o senhor a lisonjear-me. Você é um
adulador nato. Infelizmente, para mim, para Coimbra, para todos nós, Mário
Nunes deixou-nos repentinamente. Se todos na morte somos boas pessoas, para
mim, este homem, para além de ser o paradigma do homem pobre que vem do
interior e sobe a corda a pulso- era natural de Espinhal, ali ao lado de Penela-,
sempre me considerou e me fez ver que, através do seu trato simples, era uma ótima
pessoa. As minhas sinceras condolências à família. Paz à sua alma. Coimbra está
de luto.
AS EXÉQUIAS DA INDIGNAÇÃO
Todos sabemos, como é normal uns estarão mais
de acordo outros menos, Mário Nunes foi um vulto das artes, sobretudo na sua
divulgação. Com vários livros publicados sobre o património público e privado,
incluindo sobre a toponímia, onde a história das ruas, em volta do seu nome, é
focada com o relevo que merece, este homem foi um defensor da cidade. Para além
disso, durante oito anos, foi vereador da Câmara Municipal de Coimbra. Ora, a
meu ver –e não sei a quem cabe a responsabilidade pela omissão- não se pode
entender que este meu amigo –que para aqui é despiciente- falecesse no sábado,
durante a manhã, e, quase a correr, fosse enterrado logo no domingo, também
durante a manhã. Repetindo, não sei a que se deveu tal pressa. O que sei é que
muitos amigos, como eu, não puderam incorporar o féretro. Por outro lado, a
coberto do anonimato, disse quem esteve presente, que a homenagem pública que a
cidade lhe deveria ter prestado, e não prestou, foi simplesmente de uma pobreza
franciscana, sem ofensa para os mesmos. “O funeral, como sabe, foi realizado no
Espinhal (Penela) terra-natal de Mário Nunes. Em Coimbra realizou-se o velório
e missa de corpo presente antes da partida para o Espinhal. Escolheram a capela
mortuária de S. José, na freguesia dos Olivais, dado que vivia não muito longe
dali, junto ao pavilhão do OAF e fazia a vida religiosa naquele templo. O
problema é que o espaço foi pequeno para tanta gente! Aguardaram no exterior,
sob calor e sol, o sêxtuplo das pessoas que conseguiram ficar no interior,
aguardando pela sua vez para se despedir do ex-vereador. Muitas acotovelaram-se
para aceder ao interior da capela. Não sei se a ideia da cerimónia naquele
espaço foi da família ou do município. Mas, de uma ou doutra forma, não foi
modo de se despedir duma figura que, apesar de vários defeitos, foi vereador da
Câmara Municipal de Coimbra (CMC)! Algumas pessoas ficaram indignadas, e disso
fizeram viva voz no local, chegando a afirmar que «se fosse outra
personalidade, mais próxima ao clube» a CMC teria feito justa homenagem. Carlos
Encarnação, Barbosa de Melo, Manuel Oliveira, entre outros não conseguiram
melhor do que um lugar no exterior diante da porta principal da capela. Viu-se pouquíssima
gente do PS e CDU. O momento de maior indecoro viveu-se no decorrer da missa,
com as pessoas no exterior a falarem, algumas muito alto como se fosse uma
feira, outras a rirem -um ruído imenso que abafou por completo a cerimónia
religiosa. A Dr.ª Isabel Vale, da área cultural da Fundação Bissaya Barreto,
apresentou-se com vestido verde-alface a roçar a minisaia. Outras lhe seguiram
o exemplo. Só visto amigo, só visto! Coimbra trata assim as suas figuras
públicas!”
É preciso salientar que na hora do
perdão e do juízo final, individualmente, se formos contemplados com esse
sentimento, crescemos todos como pessoas e tornamo-nos mais cidadãos.
Se no nascimento e na morte,
intrinsecamente, todos somos iguais, no entanto, e no derradeiro, é legítimo
uma discriminação positiva para “aqueles
que, por obras valorosas, se vão da lei da morte libertando”. É justo que,
pelo seu trabalho em prol do social, tenham um merecido tributo na hora da
partida. Quanto mais não seja para servir de incentivo aos vindouros. Alguém,
dos vivos, esteve muito mal no reconhecimento que todos devemos a Mário Nunes.
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