LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "UM ANJO SUPERTALENTOSO A TOCAR VIOLINO", deixo também as crónicas "A SEMANA DA REVELAÇÃO"; "O PRIMEIRO CD"; e "REFLEXÃO: O MATA-DONOS".
UM ANJO SUPERTALENTOSO A TOCAR VIOLINO
Quem passou, na quinta-feira da
semana passada, na Rua Visconde da Luz, em frente às Escadas de São Tiago,
certamente terá ficado surpreendido com a mestria de um miúdo a tocar violino.
Trata-se de Fernando Pereira Meireles, de 6 anos de idade, e é filho de dois
reconhecidos músicos talentosos. O pai, Fernando Meireles, conhecido –e
infelizmente pouco reconhecido por quem tem obrigação de o fazer-
instrumentista na cidade pela sua participação no seu grupo “Os Realejo” e ainda mais como único
construtor de Sanfonas. No entanto, o Meireles, para além de investigador e
executante autodidacta, é um criador de qualquer instrumento acústico que emita
sons. Para além da Sanfona, constrói violinos, guitarras portuguesas, bandolins,
concertinas e violas toeiras. A talhe de foice, há muito tempo que batalha para
que as autoridades locais, da cidade, lhe deem atenção no sentido de ser criada
uma escola de instrumentos musicais e, mesmo sabendo-se que é o único a recriar
a Sanfona, instrumento do século XVII, é preciso aproveitar o seu saber, nada
acontece.
O Fernando Meireles pequenino, o
anjo de que comecei por falar, é também filho da Patrícia, uma exímia
acordeonista e que em 2008-2009 nos presenteou com a sua música nas Ruas Ferreira
Borges e Visconde da Luz. Nessa altura escrevi vários textos no blogue a chamar
a atenção para o seu valor de instrumentista. Pelas suas parecenças físicas com
a diva francesa, batizei-a como a Edith Piaf da Calçada. Fruto de uma
ligação com Meireles viria a nascer este anjo sobredotado para a música. Vamos
ouvir o Fernando (pai): “nunca tive
televisão em casa. Mas cedo me apercebi que o meu filho adorava vídeos de
música e decorava facilmente as melodias. Há um ano atrás, juntamente com o
Manuel Rocha (diretor do Conservatório de Música de Coimbra), começámos a espevitá-lo para o violino.
Aprendeu rapidamente e até a ler a pauta sozinho. Ele é um supertalento.
Reproduz tudo de ouvido. Neste momento, e depois de um ano de execução, toca
cerca de 200 músicas. Ora ouve esta do Rieding (compositor alemão Oskar
Rieding). Toca aí, filho!”
E o anjo, de olhos azuis e
cabelos louros, como se balouçasse numa nuvem e levitasse desta terra carregada
de preocupações, tocou e encantou quem por ali passou.
A SEMANA DA REVELAÇÃO
Até há pouco tempo um pensamento
recorrente me bailava na cabeça:
escrevo n’O Despertar há quase um ano e meio com uma página semanal. Até agora,
nunca vi por cá um desabafo de um leitor a insurgir-se contra ou a favor sobre
o que, tantas vezes subjetivamente, opino. Ora, sendo assim, em silogismo,
extraio três resultados possíveis: ou estão sempre de acordo com o que escrevo;
ou nunca leem o que plasmo no jornal; ou, lendo, pensam para si mesmo: “deixem lá o tipo escrever o que quiser. O
gajo é doido. Não é para ligar”. Continuava eu a imaginar: se assim for, levando
em conta esta última premissa, é mau porque, sendo uma espécie de prerrogativa,
vou persistir no disparate. Como antecipadamente sei que não terei réplica, arbitrariamente,
sinto-me livre para defender o indefensável.
Subitamente, na semana passada,
tudo mudou. Dois acontecimentos, um negativo e outro positivo, fizeram-me crer
que, afinal, muitos leitores leem o mais antigo semanário da cidade –o conteúdo
que, enquanto colaborador, escrevo e os dos meus camaradas de prosa. Sobre o
negativo, não vou debruçar-me. Já basta o facto de o ser, enquanto carga negra
para esquecer. Por isso mesmo vou contar o que foi deveras relevante. Na
terça-feira, 16 do corrente, tinha uma mensagem de uma senhora no telefone: “senhor Luís Fernandes, d’O Despertar, embora
tivesse ligado para o jornal onde trabalha, agradeço que, apesar do meu número
ser sigiloso, me telefone para o móvel”. E eu liguei. “Senhor Luís Fernandes, d’O Despertar, sou parte integrante de uma
congregação religiosa e lemos no nosso jornal a sua crónica “O último
regresso”, onde escreve sobre o músico de rua, o acordeonista Paolo Vasil, e na
necessidade de, novamente, ele poder pisar o chão sagrado da terra que o viu nascer.
Queremos entregar-lhe um envelope com uma comparticipação coletiva. Não
queremos publicidade. Onde o podemos encontrar?”
E eu, surpreendido e meio
atarantado, sem palavras por esta generosidade sublime, lá expliquei que o
Paolo, para além de ser instrumentista na denominada Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra, toca todos os dias junto
ao Museu Municipal do Chiado, na Rua Ferreira Borges. Só me ocorreu exclamar:
em meu nome e, essencialmente, do Paolo muito obrigada. Respondeu a senhora: “não agradeça. A nossa contribuição não é
para merecer reconhecimento. Estamos a fazer o que devemos. Que Deus o abençoe e
ao senhor Paolo Vasil.”
No dia seguinte este homem bom,
trabalhador e solidário com quem muito necessita como ele, embaixador de boa
vontade de um povo que nos fez criar um estereótipo pouco lisonjeador, recebia
um envelope com uma verba que não vou revelar e que, de certo modo, irá
permitir fazer face à sua doença e apoio para o seu regresso. Há palavras para
comentar este ato fantástico de magnanimidade? Há, mas deixo os comentários
para quem me ler. Apesar de ser contra o estabelecido pela senhora anónima,
apenas resumo numa frase: Muito obrigados a todos quantos se preocupam com quem
vive horas de aflição. Bem-haja!
O PRIMEIRO CD
Neste último sábado, a denominada
Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra -constituída pela Celeste, o Gastão, o
Armando, o Lourenço, o Emanuel, o Paolo e este vosso servidor- passou a registo
digital, em cd, 13 temas originais. “Leva-me contigo” será o título que lhe
dará asas para voar e que assentará
num dos mais bonitos temas deste trabalho discográfico. O lançamento desta
obra, creio que a primeira em Portugal em que juntando individuais artistas de
rua se compõe um agrupamento, está programado para o Pavilhão de Portugal em
final de Agosto. Desde o princípio da criação deste conjunto musical, em
Dezembro último, que se conta com o apoio incondicional de Emília Martins, presidente
da direção da Orquestra Clássica do Centro, a quem aproveito para agradecer
publicamente o ter acreditado em nós.
Com uma pequena edição de uma
centena de exemplares, os proventos deste lançamento serão atribuídos ao Paolo
Vasil, acordeonista desta banda de rua, doente e sem meios próprios, para poder
fazer face às despesas e, de cabeça erguida, poder regressar à sua terra. Em
boa verdade, não deixa de ser irónico o facto de, fazendo ele tanta falta a
este pequeno grupo, se estar a contribuir para que um bom músico, como é o
Vasil, se vá embora de vez. Mas, com honestidade, teremos o direito de reter
alguém numa terra que não é a sua? E, acima de tudo, quando o que ele aufere,
no dia-a-dia, não lhe permite sobreviver com dignidade? Penso que a resposta é
clara. Enquanto mentor desta ideia e autor dos temas agora gravados, sinto
muita pena que o Paolo, por motivos de força maior, nos abandone. A Baixa, a
Rua Ferreira Borges, não voltará a ser a mesma. Mas a vida, no seu correr em
busca da paz interior a que cada um de nós tem direito legitimamente, é assim
mesmo. A maior felicidade para este bom homem que, para sempre, guardarei no
coração. Foi essencialmente graças à sua imensurável disponibilidade e
generosidade que foi possível levar este projeto em frente.
REFLEXÃO: O MATA-DONOS
Nas últimas semanas estamos a ser invadidos por
notificações das Finanças, respetivamente, para pagamento de IMI, Imposto
Municipal sobre Imóveis, e IRS, Imposto sobre o Rendimento das pessoas
Singulares. Tudo estaria bem se os valores a liquidar fossem de acordo com uma
necessária previsibilidade, levando em conta a queda abrupta dos rendimentos
das famílias. Acontece que não é assim. No IRS, por força dos alargamentos dos
escalões sujeitos a impostos, com os mesmos proveitos do ano transato, estamos
a ser bombardeados com números assustadores. No IMI, devido à atualização
recente da propriedade, a mesma história repetida. Numa altura em que, por um
lado, os lucros provenientes do trabalho, de rendas e de juros, como um dominó
alinhado, caem continuamente e, por outro, as faturas da eletricidade, água,
comunicações são cada vez mais elevadas, pergunta-se: depois de década e meia a
semear proprietários no país, o que
vai acontecer ao pequeno possessor particular? Privado de meios de receita que
possam fazer face ao confisco por parte do Estado, como vai responder a este
ataque brutal contra a propriedade e só igual na história, em 1834, quando
Joaquim António de Aguiar, o Mata-Frades,
incorporou na Fazenda Nacional todo o património pertencente às ordens
religiosas? Quase dois séculos depois, a coberto de linhas ideológicas muito
claras e onde a expropriação, através da lei, passou de instituto de exceção a
regra geral, só apetece gritar: “salve-se
quem puder!”
ATENÇÃO COMERCIANTES E OUTROS ARRENDATÁRIOS
Após o dia 15 deste mês de julho, e depois das alterações
ao Regime de Arrendamento Urbano terem entrado em vigor em novembro último,
finalmente começaram a ser emitidas pelas Finanças as declarações de RABC, Rendimento
Anual Bruto Corrigido, documento essencial para o cálculo do aumento das rendas
antigas, anteriores a 1990.
Gostaria de chamar a atenção para
um pormenor muito importante. Nas novas comunicações dos proprietários aos
inquilinos para atualizar a renda, por obrigatória carta-registada, indica-se a
nova verba proposta e a seguir vem uma frase mais ou menos assim: “Proponho
que o contrato passe a contrato com prazo certo, com a duração de 5 anos”. É
de supor que esta frase passe despercebida a uma grande maioria e, se não for
levada em conta, venha a custar muito caro no futuro.
Ora, o que quer isto dizer para
os menos avisados? Significa que, se o inquilino não responder no prazo de 30
dias, opondo-se a esta alteração, o seu silêncio valerá para transformar um
contrato sem termo num acordo a prazo de 5 anos. Passado este tempo irá ter a
maior surpresa da sua vida. Muita atenção, portanto.
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