(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Estamos aí com as eleições
autárquicas à porta –e por que não, se calhar e mais que certo, também as
legislativas?! Os candidatos à cadeira do imperador perfilam-se, afiando
espadas, navalhas e, sobretudo, recorrendo aos meios de influência para levar
tudo, desde o cãozinho ao gatinho, e todos lá de casa a votarem nos seus idealizados
projectos, não a pensar no desenvolvimento das zonas locais onde estão
implantados, mas sim no que pode dar no
olho e cativar o eleitor, desde o mais simplório até ao mais importante do
léxico social.
Depois da apresentação das suas
candidaturas em brilhantes colóquios –que no início das suas dissertações o
público convidado mostra as suas gravatas reluzentes na cor partidária em fato
domingueiro e, algumas vezes, fazendo-se acompanhar com um grande bouquet de
flores, começa por ser uma feiras de
vaidades e, no fim do discurso do candidato, se concentram todas as particulares
clientelas pretendentes aos novos tachos,
levando os filhos, os netos e os sobrinhos ao beija-mão- passa-se então à fase
seguinte, que são os almoços em família.
Neste entremeio, os olheiros do aspirante,
sub-repticiamente, vão vendo o posicionamento dos amigos mais próximos. Se o postulante
ao poleiro é do centro-direita, naturalmente mais conotado com a direita, o
mais normal é, perante certas atitudes vanguardistas dos avaliados, serem
inscritos no Index como comunistas.
Se o candidato a chefe de colocação de
empregos é do centro-esquerda, em face de parciais crónicas nos jornais a
favor do opositor, posições públicas assumidas, conversas de café, o mais certo
é o estudado ser relegado para um limbo de condenados ao esquecimento. Se o
pretendente ao maior número de votos é da esquerda retinta, como sabe que
dificilmente assentará o rabiosque no
trono, o mais certo é olhar todos os não prosélitos como inimigos; assim um pouco como os maoistas, nos idos anos de 1960, consideravam todos os não seguidores
da doutrina de Mao. Ou seja, és por mim
ou, não sendo, és inimigo do povo, e, em consequência para abater a
qualquer custo. E depois, como não poderia deixar de ser, vêm os novos movimentos
independentes. Aqui, como sabem e sentem ser discriminados pela Lei Eleitoral, onde
a legislação funciona como preservativo, e tudo é dificuldade criada pelos
partidos tradicionais para evitar a sua multiplicação, neste caso, dentro destas
organizações, intrinsecamente de esquerda mas apregoando a aceitação de todos
os credos ideológicos, apela-se ao papelinho na urna, a todas os idealistas,
venham os votos, sem olhar a quem e com algum cinismo calculista à mistura, nem
que seja do Inferno.
Passando às prováveis eleições
legislativas que aí estão a romper, o cenário não é menos desolador e
catastrófico. O interesse pessoal e partidário domina completamente os actores
sonhadores com um lugar ao Sol no executivo ou, no mínimo, uma cadeirinha na
Assembleia da República. O curioso, neste tempo de vacas magras e de colocações difíceis, é que, como se estivéssemos num
teatro de máscaras, de repente, toda esta gente –esta execrável gente sem
princípios e valores, sublinho-, de uma forma prepotente e cuidada, deixaram
cair as dissimulações e, agora, apresentam-se, sem pudor, como sempre foram:
servidores dos seus próprios interesses. Se nesta feira de ladroagem, cujo país
será já pequeno para conter tantos ladrões, sempre houve alguma esperança no
Presidente da República, cuja função constitucional, hipoteticamente, será a de
árbitro e gestor de conflitos e ansiedades do povo, este último e em exercício,
Cavaco Silva, em nome dos alegados soberanos
interesses do país, ao tornar-se um descarado protector do seu partido de
sempre, veio, de uma vez por todas, afundar o que ainda restava na confiança
que os portugueses depositavam no seu chefe de Estado. A partir de aqui, para a
frente, acabou-se de vez a crença nas instituições. Desapareceu a esperança. O
sistema democrático está em coma induzido. Basta desligar as máquinas para ser
enterrado. Morreu o projecto europeu, assente na livre-circulação de pessoas e
bens. Morreu o Euro e o sistema monetário, assente na crença de uma moeda única
para todos os seus membros. Está aberto o caminho para o ressurgimento de um
novo salvador que vai retirar Portugal das garras dos interesses mesquinhos de
uma classe de elite que, sem freio, abocanha e, sem vergonha, mastiga, tritura
e consome tudo o que for riqueza nesta Nação, levando ao suicídio individual,
ao encerramento da pequeníssima empresa, e destruindo famílias inteiras como se
de um processo de selecção se tratasse. Uma espécie de Eugenia, que Hitler para atingir os seus fins recorreu também com
o sucesso que se conhece traduzido em 80 milhões de mortes com a subsequente
Segunda Guerra Mundial. Por que razão ninguém se sustenta na História e nos
sinais evidentes que perpassam em frente aos nossos olhos? Essa,
verdadeiramente, é mesmo a questão nacional.
Em regressão, fazendo analogia
com os anéis do tempo, provavelmente, estaremos entre 1892, data da bancarrota
e finais da Monarquia Constitucional, e 1933, apogeu e ascensão de Salazar, na
instituição do Estado Novo como bandeira nacionalista. Sem esquecer a ditadura
Sidonista de 1917. Tal como nessa época, para a maioria, para este povo que lavra neste rio de sacrifícios sem
valer a pena, a sensação é a de que se com este sistema não vamos a lado
nenhum e estamos cada vez mais pobres e miseráveis venha lá esse Salvador. Onde
é que ele está? Onde é? Onde é? Venha ele!
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