Encerrou esta semana a loja dos irmãos Costa, na Rua do Corvo. Durante décadas pertenceu à firma
Gouveia & Barros, Lª. Nos últimos 35 anos pertenceu aos irmãos Costa. Teria
cerca de 80 anos de história comercial a vender tecidos a metro na Baixa de
Coimbra. Esta loja, encerrada na segunda-feira, conservava ainda os seus
balcões e prateleiras em madeira, cartão de identidade de uma recordação que se
apaga agora. Como sempre, e infelizmente, o seu historial e mobiliário não
interessam para ninguém e, mais que certo, como indigentes sem família, ambos,
vão ser enterrados em campa rasa. Tal como outras, esta venda não terá direito
a epitáfio. Morreu, morreu! Paciência! O seu historial não fará parte dos
alfarrábios da memória comercial; e o mobiliário, porque apenas tem valor
museológico e não transaccionável, provavelmente, constituirá alimento para uma
fogueira de inverno. Na chama amarelada que dela resultar, em espírito, estarão
a ser incinerados todos quantos tocaram a sua tangibilidade e, incluindo os
vivos, todos aqueles que desprezaram a sua vivência de quase um século.
Apontar culpados deste
apagamento? Acho que não vale a pena. “É tarde, muito tarde, meu amor”, apetece
dizer. Um dia, talvez, pode ser que alguém se lembre de que naquele local,
durante quase cem anos, existiu um estabelecimento que muito contribuiu para a
revitalização comercial, habitacional e social da Baixa. Um colectivo que não
preserva a memória e a sua história é um povo ignorante, e estúpido, que apenas
vive o dia-a-dia como biscateiro que não se preocupa com o futuro. É uma falta
de respeito pelos nossos antepassados que tanto sofreram para entregarem as
cidades a gente insensível e que apenas olham para os empresários como números
de balancete.
Porque me faltam as palavras,
apenas termino assim: que pena!
2 comentários:
Luis Fernandes, ler o seu blog é triste. Mas apenas porque a realidade da baixa de Coimbra é triste.
Parabéns pelos alertas que faz. Seria óptimo se fossem ouvidos por quem de direito... mas parece-me que nem por quem de torto...
Realmente, quem conheceu a Baixa e quem a visita hoje..., tudo tão triste e vazio..., reflexos das politicas do País de há umas décadas para cá.
É pena que ninguém, ligado talvez á Camara, digo eu, pudesse ao menos salvaguardar essas memórias de que fala, e que tão bem representam uma época e várias gerações. Uma pena perderem-se coisas tão genuinamente nossas! Um bem-haja pelos seus alertas! talvez acordem alguém por aí...
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