sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O MISTÉRIO DO BECO DAS CANIVETAS



 Em meados de 2010 um prédio, propriedade da Câmara Municipal de Coimbra, ruiu no Beco das Canivetas, uma transversal da Rua Adelino Veiga. Mais tarde, pela autarquia, foi construído um passadiço em túnel de modo a proteger os transeuntes para danos futuros. Ainda hoje, passados três anos, lá se encontra no beco da facaria.
Segundo vizinhos, que pediram o anonimato, há cerca de duas semanas começou a ser erigida uma estrutura em barras de ferro no agora vazio espaço e que outrora foi uma habitação de três pisos. Conforme me foi transmitido pelos confinantes, e pressenti, a indignação é grande. Dizia um: “onde é que se viu uma coisa destas? Olhe que gastaram aqui sete toneladas de ferro provisoriamente. Então não seria mais fácil e barato reconstruir o edifício tal como estava anteriormente?”. Corroborava outro, “andaram a colocar o ferro à “chucha-calada”, até parecia que tinham medo de falar connosco. Se esta propriedade fosse de um particular poderia estar três anos assim? Mais, poderia colocar este ferro todo, assim, sem mais nem menos?” –interrogava.
Pelos meus olhos de leigo, olho aquela simetria de aço e vejo ali uma obra de arte, um projecto inteligente. Ou seja, em vez de se utilizarem os materiais tradicionais, cimento e tijolo, optou-se pelo ferro em todo o seu interior e, penso cá com meus botões, só a fachada será reconstruída conforme o existente original. E disto mesmo, nesta dúvida, dei conta aos dois vizinhos que me vieram trazer os seus queixumes. “Não senhor! Estas toneladas de ferro foram apenas utilizadas transitoriamente para impedir o desabamento do prédio vizinho. Qualquer dia voltarão a retirá-lo para reconstruir a obra definitivamente. Há muito dinheiro para gastar naquela Câmara. É o que é! Andamos nós a eleger esta gentinha!” -enfatizaram em coro.

PELA SANTA MADRE, FALEM COM OS CIDADÃOS

 Repetindo, acredito que esta obra é muito mais do que parece. Ou seja, se for certo o que imagino, está muito bem concebida em termos de racionamento e contenção de custos. Depois de se reconstruir a fachada igual ao original o interior deixa de ser visível e, creio, até ficará simples e bonito. Má há aqui uma premissa que interessa salientar: por que não se digna a edilidade, através dos técnicos, informar os vizinhos da obra? É preciso não esquecer que estas pessoas estão há três anos a sofrer toda aquela carga negativa da estrutura em madeira, sobretudo pela ambiência de degradação, e que está a contribuir para a permanência de toxico-dependentes na zona.
Estamos a entrar num novo ciclo, para a semana tomarão posse os novos corpos-gerentes no paço, era bom que os novos escolhidos tivessem em conta que foram eleitos representantes dos cidadãos e, no seu dia-a-dia na Administração Pública, devem satisfações aos representados. Se assim fosse, tal como neste caso, não haveria especulações que, tantas vezes, deturpam bons planos e criam animosidade contra o poder autárquico.

Sem comentários: