quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A RUA DO CORVO MAIS TRISTE



 Encerrou esta semana a loja dos irmãos Costa, na Rua do Corvo. Durante décadas pertenceu à firma Gouveia & Barros, Lª. Nos últimos 35 anos pertenceu aos irmãos Costa. Teria cerca de 80 anos de história comercial a vender tecidos a metro na Baixa de Coimbra. Esta loja, encerrada na segunda-feira, conservava ainda os seus balcões e prateleiras em madeira, cartão de identidade de uma recordação que se apaga agora. Como sempre, e infelizmente, o seu historial e mobiliário não interessam para ninguém e, mais que certo, como indigentes sem família, ambos, vão ser enterrados em campa rasa. Tal como outras, esta venda não terá direito a epitáfio. Morreu, morreu! Paciência! O seu historial não fará parte dos alfarrábios da memória comercial; e o mobiliário, porque apenas tem valor museológico e não transaccionável, provavelmente, constituirá alimento para uma fogueira de inverno. Na chama amarelada que dela resultar, em espírito, estarão a ser incinerados todos quantos tocaram a sua tangibilidade e, incluindo os vivos, todos aqueles que desprezaram a sua vivência de quase um século.
Apontar culpados deste apagamento? Acho que não vale a pena. “É tarde, muito tarde, meu amor”, apetece dizer. Um dia, talvez, pode ser que alguém se lembre de que naquele local, durante quase cem anos, existiu um estabelecimento que muito contribuiu para a revitalização comercial, habitacional e social da Baixa. Um colectivo que não preserva a memória e a sua história é um povo ignorante, e estúpido, que apenas vive o dia-a-dia como biscateiro que não se preocupa com o futuro. É uma falta de respeito pelos nossos antepassados que tanto sofreram para entregarem as cidades a gente insensível e que apenas olham para os empresários como números de balancete.
Porque me faltam as palavras, apenas termino assim: que pena!

2 comentários:

São Rosas disse...

Luis Fernandes, ler o seu blog é triste. Mas apenas porque a realidade da baixa de Coimbra é triste.
Parabéns pelos alertas que faz. Seria óptimo se fossem ouvidos por quem de direito... mas parece-me que nem por quem de torto...

Conversas... disse...

Realmente, quem conheceu a Baixa e quem a visita hoje..., tudo tão triste e vazio..., reflexos das politicas do País de há umas décadas para cá.
É pena que ninguém, ligado talvez á Camara, digo eu, pudesse ao menos salvaguardar essas memórias de que fala, e que tão bem representam uma época e várias gerações. Uma pena perderem-se coisas tão genuinamente nossas! Um bem-haja pelos seus alertas! talvez acordem alguém por aí...