Cerca das 20h00 de ontem ouviu-se
um estrondo na completamente deserta Rua Eduardo Coelho. Por ainda estar na
loja, assomei à ponta da rua e vi um indivíduo completamente a cair para todos
os lados, que mais parecia uma cana no canavial tocada pelo vento. Como aparentemente
não detectei nada recolhi ao meu cantinho. Passados uns dez minutos vieram dois
residentes e perguntaram: “você não tem o número do telefone das funcionárias
da sapataria Teresinha? É que está lá um vidro da montra partido. Já ligámos à
polícia!”
Não tinha o número de nenhuma das
funcionárias. Entretanto veio um carro da PSP que tomou conta da ocorrência.
Por coincidência, ou não –a dar provimento ao aforismo de que o criminoso volta
sempre ao local do crime-, o presumível agressor passou no mesmo local.
Naturalmente que o indiquei ao agente, embora apenas como suspeito, uma vez que
não presenciei o facto. O cívico lá o identificou e, mais que certo por falta
de provas e não poder fazer mais nada, lá foi o homem à vida. Com certeza a pensar
que a existência de quem não apetece fazer nada é uma chatice das grandes, a
matutar como é que haveria de expurgar a solidão que o consumia, e em descarregar
a sua ira, a sua frustração, em uma qualquer outra loja. Se até lhe correu bem,
porque não tentar mais uma e outra vez? Se calhar, uma montra de sapatos, cujo estabelecimento dá trabalho e emprego a duas pessoas, para este vadio simboliza o paradigma da
riqueza abastada e culpa da sua pobreza –essencialmente espiritual, porque é
dos muitos que por aqui vagueiam e nunca fizeram nada de útil. É de supor que
receberá o RSI, Rendimento Social de Inserção.
Para evitar mais problemas, com a
ajuda dos dois agentes da PSP, colocou-se uma proteção no vidro para evitar
males ainda maiores.
Duas interrogações se retiram
deste caso. A primeira, porque não colocam os lojistas o número de contacto de
telefone na montra do estabelecimento? A segunda, nestes casos concretos de
agressões públicas e particulares ao património, o que se espera para registar os acontecimentos e retirar o
RSI a esta cambada de inúteis, que, quase num gozo displicente, só prejudicam
quem trabalha?
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