segunda-feira, 24 de junho de 2013

PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE... QUÊ?



 Depois de um trabalho árduo e exemplar, resultado de várias personalidades envolvidas no processo, no último Sábado, a Universidade e a Rua da Sofia, na cidade, foram classificadas como Património Universal da Humanidade pela Unesco –a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura é uma entidade internacional que, através da classificação, busca a preservação e salvaguarda do património cultural, material e imaterial, mediante o reconhecimento público mundial, cativa milhões de visitantes e receitas turísticas para os sítios dos países reconhecidos.
Enquanto decorreu esta candidatura, Coimbra, na sua modorra costumeira, manteve-se adormecida, apática, para esta alta distinção de consequências políticas, sociais e económicas. Depois do acto declarativo já ser conhecido de todos os citadinos, talvez fosse bom ouvir um comerciante com loja na Rua da Sofia. Chama-se Alípio Mendes Pereira. Tem 69 anos de idade e está na rua dos antigos colégios há mais de meio-século. 
Gerente da Retrosaria Mendes, coloquei-lhe a pergunta de chofre: o que significa para si esta distinção? É boa? É má? Ou assim, assim?

Se lhe respondesse de uma forma objetiva, e até do “politicamente correcto”, diria que sim, que era boa. Porém, como lhe disse, tenho 69 primaveras e se, por um lado, a idade nos torna mais sábios, por outro, atribui-nos uma responsabilidade manifestada numa certa desconfiança, um cepticismo, perante um dado adquirido. E assim sendo, se os procedimentos mudarem talvez seja o caminho para a recuperação do património, público e privado, na Rua da Sofia –e, apesar de alguma apreensão, tenho esperança de que assim vá acontecer. Se tudo continuar como até aqui nem aquece nem arrefece. Vou contar-lhe a minha experiência. Tenho um prédio virado para o Terreiro da Erva que quero recuperar. Ando há um ano à volta do processo. Ainda está tudo no zero. Até agora ainda não me disseram o que querem de uma forma clara, nem consegui perceber. Há três entidades envolvidas e, entre si, não se entendem. Para piorar, na última reunião, uma delas faltou. Diga-me lá, isto é alguma coisa? Isto não é um desrespeito? Ou melhor, não há respeito nenhum! Assim, desta maneira, algum particular pode restaurar o seu património? Eu já não tenho paciência e, por isso mesmo, a minha filha é que tem acompanhado estas tentativas de acordo. Ela é geógrafa em uma autarquia próxima, acompanhando de perto estes trabalhos, e enfatiza comigo que nunca viu nada assim. Ela acha que eles não sabem o que querem. Estas entidades continuam a viver o seu dia-a-dia, contrariamente ao que deveriam ser, pro-activos,  desempenham um lugar de impedimento, sem se importarem nada com os privados. Devo esclarecer que não culpo o Departamento de Urbanismo da Câmara Municipal de Coimbra. Esta divisão está à espera da decisão desta troika,  que, até agora, não aparece. Devo salientar também que tenho muito boa ideia do engenheiro Sidónio Simões. É um homem prático. Vejo bem que tem vontade de resolver as coisas rapidamente mas não consegue porque, como disse, as três entidades envolvidas nem atam nem desatam. Nesta recente classificação da Rua da Sofia, se não houver outra forma célere de decidir, esta dignidade pode vir complicar ainda mais. A Baixa, entre outros obstáculos, está em quase completa ruína por causa destas situações. É muito fácil passar a culpa para os proprietários mas eu sinto na pele o que se está a passar comigo e sei bem que não é assim. Esta nomeação seria boa se abrangesse a Baixa toda. Esta zona é um todo. Veja o que se passa na Rua Direita e vias circundantes. Aquilo é um cancro com metástases à vista.
No tocante ao comércio local tradicional confesso que também não tenho muita esperança de que vá melhorar. Se calhar irá ser bom para a hotelaria. Isso sim! Mas oxalá eu esteja enganado e seja bom para todos!”

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