(Foto de Emília Martins)
O Paolo Vasil é um músico de rua.
Toca acordeão junto ao Museu Municipal do Chiado. Para além disso, desde
Novembro, último, faz parte integrante da denominada Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra. De rosto cheio de bonomia, trabalhador,
cumpridor da palavra dada, que se nega a estender a mão em humilhação sem dar
algo em contra-prestação, este romeno de 63 anos, veio quebrar o estereótipo que
normalmente se inventariam todos os seus compatriotas.
Trabalhou no seu país-natal até
aos 53 anos. Para além de ali ter tido uma banda de baile, onde tocava nas horas vagas
como acordeonista, era empregado numa fábrica de utensílios metálicos. Até ao
dia em que foi dispensado como se fosse um ferro-velho sem utilidade. Decorria
o ano de 2003. Tinha de continuar a trabalhar para sobreviver. Deixou a sua
única filha na Roménia, pegou na mulher e rumou a Portugal onde residiam uns
familiares, em Coimbra. Agarrou-se ao que sabia fazer: tocar acordeão. Andou
pelo Sul do nosso país até que um acontecimento trágico, em 2009, veio alterar
todo o seu destino previamente concebido em noites de solidão. Há quatro anos levou
o maior sopapo que um pai pode levar: a sua querida e única filha morreu de
cancro na Roménia. Tudo fez para a salvar, mesmo recorrendo a um empréstimo
particular de uma vizinha no país de Nicolae
Ceausescu. Pouco depois largou o Sul e, conjuntamente com a esposa, veio
para a cidade dos doutores morar para casa dos consanguíneos. Para fazer face
às despesas, desde essa altura, toca nas ruas principais da calçada. Até agora,
o que tem auferido, em moedas deixadas no pequeno cesto pelos transeuntes, tem
dado para viver. Nunca pediu ajuda à Segurança Social. Nunca recebeu qualquer
subsídio. Hoje está com imensos problemas. O que ganha na rua já não dá para
comer. Para piorar, está doente. Sofre da Diabetes e tem graves problemas na
Cervical. Passou este último fim-de-semana no hospital. Acompanhado da mulher,
veio ter comigo. Na sua linguagem de português
arranhado, como andorinha abandonada, com rosto triste e resignado,
entabulou: “Sinhor” Luís, preciso de
ajuda. Quero regressar à Roménia, mas não tenho dinheiro para as passagens.
Para além disso, precisava de, ao menos, poder amortizar a dívida lá com a
minha vizinha. Sabe, tenho vergonha na cara –e passa a mão no rosto. Se ao menos conseguisse uns 600 euros
poderia entrar na minha rua de cabeça erguida. Quero morrer lá. Aqui não posso
mais continuar. Financeiramente estamos a passar muito mal. Não consigo ganhar
para comer e comprar medicamentos. Animicamente, desde que a minha filha nos
deixou, nunca mais recuperei. Sinto-me morrer todos os dias. Pode fazer alguma
coisa por mim, “sinhor” Luís?”
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