quinta-feira, 20 de junho de 2013

O ÚLTIMO REGRESSO

Foto: Paolo Vasil
Temos que ajudar
 SIM !
(Foto de Emília Martins)


 O Paolo Vasil é um músico de rua. Toca acordeão junto ao Museu Municipal do Chiado. Para além disso, desde Novembro, último, faz parte integrante da denominada Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra. De rosto cheio de bonomia, trabalhador, cumpridor da palavra dada, que se nega a estender a mão em humilhação sem dar algo em contra-prestação, este romeno de 63 anos, veio quebrar o estereótipo que normalmente se inventariam todos os seus compatriotas.
Trabalhou no seu país-natal até aos 53 anos. Para além de ali ter tido uma banda de baile, onde tocava nas horas vagas como acordeonista, era empregado numa fábrica de utensílios metálicos. Até ao dia em que foi dispensado como se fosse um ferro-velho sem utilidade. Decorria o ano de 2003. Tinha de continuar a trabalhar para sobreviver. Deixou a sua única filha na Roménia, pegou na mulher e rumou a Portugal onde residiam uns familiares, em Coimbra. Agarrou-se ao que sabia fazer: tocar acordeão. Andou pelo Sul do nosso país até que um acontecimento trágico, em 2009, veio alterar todo o seu destino previamente concebido em noites de solidão. Há quatro anos levou o maior sopapo que um pai pode levar: a sua querida e única filha morreu de cancro na Roménia. Tudo fez para a salvar, mesmo recorrendo a um empréstimo particular de uma vizinha no país de Nicolae Ceausescu. Pouco depois largou o Sul e, conjuntamente com a esposa, veio para a cidade dos doutores morar para casa dos consanguíneos. Para fazer face às despesas, desde essa altura, toca nas ruas principais da calçada. Até agora, o que tem auferido, em moedas deixadas no pequeno cesto pelos transeuntes, tem dado para viver. Nunca pediu ajuda à Segurança Social. Nunca recebeu qualquer subsídio. Hoje está com imensos problemas. O que ganha na rua já não dá para comer. Para piorar, está doente. Sofre da Diabetes e tem graves problemas na Cervical. Passou este último fim-de-semana no hospital. Acompanhado da mulher, veio ter comigo. Na sua linguagem de português arranhado, como andorinha abandonada, com rosto triste e resignado, entabulou: “Sinhor” Luís, preciso de ajuda. Quero regressar à Roménia, mas não tenho dinheiro para as passagens. Para além disso, precisava de, ao menos, poder amortizar a dívida lá com a minha vizinha. Sabe, tenho vergonha na cara –e passa a mão no rosto. Se ao menos conseguisse uns 600 euros poderia entrar na minha rua de cabeça erguida. Quero morrer lá. Aqui não posso mais continuar. Financeiramente estamos a passar muito mal. Não consigo ganhar para comer e comprar medicamentos. Animicamente, desde que a minha filha nos deixou, nunca mais recuperei. Sinto-me morrer todos os dias. Pode fazer alguma coisa por mim, “sinhor” Luís?”



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