(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
1. Já perdi a
conta aos conhecidos que, quando me encontram, me atiram este
cumprimento: “Parabéns pelo seu desempenho na reunião de
Câmara Municipal! Dê-lhes forte! São uns ditadores! Não respeitam
ninguém! Sabe, às vezes até me apetece comentar os seus post’s
no Facebook mas, como sabe, tenho o meu familiar a trabalhar na
autarquia...”
Para não arranjar
uma discussão gratuita e talvez perder mais um “amigo do
Facebook”, numa certa condescendência paternalista, lá vou
dizendo, pois, entendo! Deixe lá!
Até pode parecer
que não me importo mesmo. Acontece que esta postura de algumas
pessoas me fere profundamente. Já tantas vezes me interroguei:
porquê tanto medo?
2. Já perdi a
conta às vezes que me apercebi que certos confinantes, por lhes
terem deixado sacos com lixo às suas portas durante o dia,
sorrateiramente, agarram nas encomendas e vão colocá-las nas portas
vizinhas. Escusado será dizer que são incapazes de se dirigirem aos
que deixam os dejectos com uma palavra de reprovação.
3. Já perdi a
conta às declarações de alguns hoteleiros que, tentando mostrar o
brilho do Sol através da peneira, vêm para os jornais declararem
que a Baixa está num franco desenvolvimento. Como se o Centro
Histórico não fosse um território integrado entre os serviços, o comércio e a
hotelaria, olham apenas para o seu umbigo.
4. Já perdi a
conta a notícias como a de hoje no Diário as Beiras em que
declarações políticas são proferidas com tal convicção que,
apesar de serem falácias, até parecem verdades verdadinhas. No
caso, hoje noticiado no jornal e proferido ontem na
reunião quinzenal camarária pela vereadora Regina Bento, eleita
pelo Partido Socialista, foi dito: “ (…) Finalmente é
reconhecido que a Baixa está diferente, que há um grande fluxo de
turistas nacionais e internacionais, que há novas lojas a abrirem,
que há diversos edifícios já recuperados ou em fase de
recuperação”. (…) Assim, para além das novas lojas
(mais 30 pedidos que no mesmo período do ano anterior, ou seja, um
crescimento de 136 por cento), Regina Bento deu conta que a câmara
recebeu 87 comunicações de mudança de exploração e actividade –
o que também reflecte um aumento significativo, pois são 27 a mais
do que no ano anterior, e um crescimento da ordem dos 45 por cento.
No plano oposto, as comunicações de cessação da actividade
acontecer apenas por parte de oito estabelecimentos (menos cinco por
cento do que no ano anterior). (…) Em suma, “está sempre
alguma coisa a acontecer na Baixa e as pessoas já perceberam isso”,
concluiu a vereadora com o pelouro da Administração.”
5. Já perdi a
conta às léguas de silêncio instalado que, perante a invisível regeneração que só os detentores do poder vêem, os inúmeros
velhos e novos comerciantes que, sentindo na pele diariamente o
abandono a que foram votados pela edilidade, nem uma palavra a
contrariar tais afirmações vazias de conteúdo.
6. Já perdi a
conta às lojas comerciais que vão encerrando – mostrando
claramente que a profissão de lojista está em franco
desaparecimento –, de tal modo que já deixei de as contar.
Por estes dias, a
somar a 11 encerradas, mais duas claudicaram na Rua Eduardo
Coelho. No final do mês vai encerrar o centenário Olímpio Medina,
na Praça 8 de Maio. Ao que se consta por aqui, mais três estão na
calha numa ruela próximo de nós.
Mas, afinal, se
está tudo a correr tão bem, para quê contrariar? Siga a marcha!
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