“O
que não é dito é que é que em 14 anos foram injectados
625
mil euros do erário público nesta agência e, numa
espécie
de marcha fúnebre abrilhantada por orquestra,
com
festas e festinhas, nada evitou o encerramento de
cerca
de uma centena de estabelecimentos comerciais na
Baixa
da cidade, alguns com grande relevo histórico.”
Ontem,
em reunião do executivo, foi aprovado um subsídio à Agência para
a Promoção da Baixa de Coimbra, de 55 mil euros, atribuído pela
Câmara Municipal de Coimbra, para desenvolver as suas actividades
durante este ano. Salienta-se que a proposta levada à discussão foi
aprovada por unanimidade.
Antes
de prosseguir, começo com uma ressalva: nada de pessoal me move
contra os dirigentes desta associação sem fins lucrativos criada
como embrião em 2004 e chamada de “Condomínio Comercial da
Baixa de Coimbra” e em 2006, por força de lei, modificada para
Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC). Aliás, há
mais de uma década que, mesmo quando os membros da direcção eram
outros, escrevo sobre a actuação e os seus efeitos no tecido
comercial da Baixa. Tal como outras normas políticas que poucos
entendem, estes problemas já vêm de longe.
Continuando,
a
explicação por parte do município para a concessão deste apoio,
citando o jornal Notícias de Coimbra, foi: “APBC
tem desenvolvido iniciativas de cariz comercial, cultural, turístico,
de animação e interação com o comércio local, contribuindo para
a dinamização do comércio tradicional e revivificação da Baixa
de Coimbra, e tem sido apoiada pela autarquia para esse fim. Que
as variadas as atividades que a APBC tem vindo a organizar com o
objetivo de dinamizar o comércio local e atrair pessoas à Baixa de
Coimbra. Desde eventos de vários géneros musicais a festas
gastronómicas, passando pelas Marchas Populares, entre outras
celebrações festivas, o programa proposto no ano passado foi
cumprido. Para este ano a APBC já levou a cabo várias iniciativas,
como por exemplo a Semana do Bacalhau, as Marchas Populares, a Festa
da Sardinha, o Festival (in)Comum e as noites temáticas de fado e
jazz”.
O
que não é dito é que é que em 14 anos foram injectados 625 mil
euros do
erário público nesta
agência e,
numa
espécie de marcha fúnebre abrilhantada por orquestra,
com
festas e festinhas, nada
evitou o encerramento de cerca de uma centena de estabelecimentos
comerciais na Baixa da cidade, alguns
com grande relevo histórico. Tomemos atenção, também, que, para além da prestação camarária de 625 mil euros, houve mais do triplo atribuído através de fundos comunitários e aprovados pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.
Sublinha-se
que este executivo rosa, do PS, é mais, muito
mais,
generoso do que os anteriores pró-laranja, PSD/CDS/PPM. Adivinha-se que a
razão desta magnanimidade residirá
na simpatia. Há sempre alguns que, pelo
saber mamar sem reclamar,
são mais considerados que outros. E
outros
ainda que nem sequer são recebidos
pelo chefe da edilidade. Mas, sem pretender ofender alguém, podemos perguntar: para que serve a APBC? Para entreter o povo? Para se substituir à Câmara Municipal? Para dar ideia que a edilidade está ao lado do sector comercial?
Enquanto
o "antigo regime", desde
a fundação como condomínio,
bafejou anualmente a APBC com 35 mil euros, este
novo governo, embora seguisse os seus antecessores com a mesma verba
a partir de 2013 quando tomou posse, a partir de 2017, aumentou para
90 mil euros. Neste 2018, com a trapalhada da FanZone,
já ultrapassou a importância do ano passado.
POR
ONDE ANDA A OPOSIÇÃO? COMO É
HÁBITO, DORME EM SERVIÇO
Ao
aprovar por unanimidade esta nova
ajuda à APBC, é
a prova provada que a
oposição, a
reboque
do
partido mais votado no executivo, para além de estar pouco atenta ao
que se passa e agir igualmente com displicência, não tem qualquer
estratégia para o Centro Histórico. No mínimo, antes de aprovar
este desperdício de verbas públicas, deveria pedir um balanço de actividades, avaliar se o que foi feito até agora foi um investimento ou despesa estéril, e questionar o que
trouxe de positivo ao desenvolvimento desta parte velha o
pródigo perdulário de mais de meio milhão de euros gastos em
festas
e assinaturas de protocolos. Já
o escrevi anteriormente, com a tácita e
santa
ignorância desta oposição, em bloco, qualquer medida passa
facilmente. Só não é aprovado se o seu veto implicar grande
“show
off”
para mostrar aos eleitores o seu cumprimento pelas regras
democráticas – como foi o caso do recente chumbo do projecto para
o edifício da EDP. Está de ver que coerência não mora nas hostes da contraposição, sobretudo na CDU, que muda de opinião como o vento.
E
OS COMERCIANTES? FALTA MUITO PARA
ACORDAREM?
Por
parte dos comerciantes, também como vem sendo costume, ninguém
perde tempo a questionar as repetidas decisões de
contra-desenvolvimento, pelo
esbanjamento a peso de ouro de
decisões que não trazem qualquer retorno à comunidade.
Chegámos a
uma época
em que, por pior que seja, nada importa. Perderam-se
a capacidade de manifestação de sofrimento, a massa crítica e a
dignidade. O tempo presente é o da magia. Sem qualquer sustentação,
surgem do nada as iniciativas espectaculares. A
assistência, como anestesiada, bate palmas fervorosamente. Os
efeitos, que não têm qualquer efeito de mudança na Baixa, como
nevoeiro em manhã de Agosto, morrem tão rapidamente como nascem.
Exemplos? Ai tantos, senhores! Só para relembrar alguns: o MuseuTemporário da Memória, o Orçamento Participativo.
Claro
que tudo isto tem levado à deserção dos operadores comerciais
em alinhar em encontros e aceitarem mensagens messiânicas, sobretudo
em “dejá vù”.
Os comerciantes podem estar apáticos e sem fé no futuro, mas não
são estúpidos! Nem sempre com papas e bolos se enganam todos os tolos!
E
isto, digo eu, por mais semanas do bacalhau quer alho que se promovam
para beneficiar o sector da hotelaria. O resultado disto tudo é uma
Baixa abandonada, sem esperança e sem planos para o futuro. Também é certo que é preciso saber para onde se quer ir, o que não é o caso.
Mas
não há problema de maior. Pelo menos enquanto o silêncio de
conluio da colectividade for o maior grito surdo de rebelião e
houver dinheiro público, de todos nós, para distribuir aos muitos
amigos – naturalmente que, em muitos casos, este remanso, esta paz
podre, é o exigido
ressarcimento
em troca de uma inscrição anual nas Grandes Opções do Plano. Eles
sabem-na toda!
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