(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
REFLEXÃO:
TOURADAS E OUTRAS QUESTÕES CIVILIZACIONAIS
Como
foi amplamente noticiado até à exaustão, durante cerca de duas
semanas o tema de conversa de café foi o Imposto sobre o Valor
Acrescentado a incidir em espectáculos tauromáquicos. Uns defendiam
23%, outros 13% e outros ainda 6%. Como se sabe, com quase metade da
bancada socialista a votar contra no Parlamento, a medida foi
aprovada pelo agravamento 6 por cento.
Embora
tenha para mim que qualquer uma das taxas que fosse aplicada nem
aquecia nem arrefecia para desmotivar quem quer que fosse a
deslocar-se a uma praça de touros, a verdade é que a harmonização
de taxas para divertimentos culturais veio repor uma igualdade que se
impunha. Deu para ver que o Governo nunca teve uma posição séria
sobre o sacrifício dos touros na arena. Com uma perna em cada lado
das facções em contestação, António Costa apenas estava
interessado em não perder votos em qualquer das barricadas.
Igualmente a oposição mostrou ao país que, na defesa de assuntos
de fumo para entreter a comunidade, não foi credível e apenas
tentava salvar-se aos olhos do eleitorado.
Em
traços gerais, enquanto durou a chama viva das farpas, foi um
não-assunto. Até parece que não havia outras áreas mais
importantes para discutir o recaimento do imposto. E já nem vou para
a electricidade, que pela defesa do IVA a 6% deveria ser uma questão
premente, social e económica, de cidadania por parte dos deputados
da gerigonça se realmente defendessem os mais frágeis.
Sobre
o comércio tradicional ninguém fala que o IVA a 23 por cento está
a contribuir para exterminar um sector que é importantíssimo para
as cidades, vilas e aldeias. O comércio não tem lobismo. Os
comerciantes, salvo pequenas excepções, não têm quem os defenda
com eficácia e os olhe como um motor de desenvolvimento das urbes.
Na Concertação Social, onde a Confederação do Comércio e
Serviços de Portugal tem assento constitucional, nunca se ouve falar
da crise e os dramas consequentes que se arrastam no terciário.
As
associações de classe por este Portugal fora, algumas delas
envolvidas em esquemas de enriquecimento ilícito de alguns e outras
com representantes indignos que nunca lá deveriam estar, na sua
maioria faliram.
Por
tudo isto, não admira, portanto, que, falando de Coimbra, raro seja
o mês que não encerrem lojas comerciais.
FIM
DA HISTÓRIA
Desde
o virar do milénio na Rua Martins de Carvalho, antiga Figueirinhas,
junto ao Café Santa Cruz, que Simão Pedro era o baluarte da antiga
via do jornal O Conimbricense. Seguindo a mesma linha de que tudo na
nossa existência é precário, há dias encerrou a sua loja comercial.
Já
em Outubro de 2011, quando escrevi a “Queda
do Mercador”, a sobrevivência comercial de Simão era
periclitante, no sentido de um equilíbrio difícil e perigoso numa
senda mercantil que não é para todos. Mesmo assim, já com alguns
sintomas da maleita que viria a tolher-lhe os movimentos, e sem
retaguarda financeira, resistiu mais sete anos. Quando lhe pergunto
como foi possível, do alto do seu olhar penetrante e corpo
desengonçado, responde: “para
onde é que eu ia? Como não tenho mais lugar algum para ir,
fui estando… Com a boa vontade do meu senhorio. Foram muitos anos
sem pagar renda. Estou-lhe muito grato pela paciência que teve
comigo!”
Simão
Pedro tem agora 57 anos. De uma vida de subsistência, resta-lhe uma
doença sem cura, a elefantíase - “ou
filariose, é uma
doença parasitária que afeta a circulação linfática, causada por
um parasita nematódeo, chamado Wuchereria bancrofti e conhecido como
filária”.
Se
quiser ler mais clique em cima desta frase.
E
MAIS UMA…
Segundo
a vizinhança, presumivelmente
encerrou
há dias uma loja de material eléctrico na Rua das Padeiras. Embora
os artigos continuem em exposição, pela correspondência postal espalhada
junto da porta de entrada, tudo indica ser verdade.
Este
estabelecimento, que veio substituir a desaparecida “Tecla
Divertida”,
abriu em Julho último. A levarmos em conta o que se consta na
proximidade, fechou após seis meses de actividade.
E
MAIS OUTRA, AINDA…
Depois
de quatro meses, umas vezes aberta outras vezes fechada, encerrou a
semana passada uma
loja
de livros, sobretudo em língua inglesa, na Rua do Corvo, quase em
frente a Ricarlina.
Sobre
gerência de Jacqueline Austin, uma professora inglesa aposentada com
várias paixões, entre elas Portugal e os livros, foi um projecto
que durou pouco. Sobre as razões subjacentes que estiveram na origem
do bater com a porta nada podemos adiantar. Podemos presumir que,
talvez pela inexperiência, teria sido um passo mal calculado.
Com
estes encerramentos que anuncio hoje, sobe para 29 o número de
estabelecimentos que fecharam portas desde Janeiro de 2018.
Não
é a primeira vez que justifico o facto de anunciar aqui todas as
aberturas e fechos de espaços comerciais. Repetindo, a intenção é
manter um registo actualizado, sobretudo a nível comercial, sobre o
que se passa na Baixa da cidade.
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