quinta-feira, 29 de novembro de 2018

BAIXA: CRÓNICA DA SEMANA PASSADA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




REFLEXÃO: TOURADAS E OUTRAS QUESTÕES CIVILIZACIONAIS


Como foi amplamente noticiado até à exaustão, durante cerca de duas semanas o tema de conversa de café foi o Imposto sobre o Valor Acrescentado a incidir em espectáculos tauromáquicos. Uns defendiam 23%, outros 13% e outros ainda 6%. Como se sabe, com quase metade da bancada socialista a votar contra no Parlamento, a medida foi aprovada pelo agravamento 6 por cento.
Embora tenha para mim que qualquer uma das taxas que fosse aplicada nem aquecia nem arrefecia para desmotivar quem quer que fosse a deslocar-se a uma praça de touros, a verdade é que a harmonização de taxas para divertimentos culturais veio repor uma igualdade que se impunha. Deu para ver que o Governo nunca teve uma posição séria sobre o sacrifício dos touros na arena. Com uma perna em cada lado das facções em contestação, António Costa apenas estava interessado em não perder votos em qualquer das barricadas. Igualmente a oposição mostrou ao país que, na defesa de assuntos de fumo para entreter a comunidade, não foi credível e apenas tentava salvar-se aos olhos do eleitorado.
Em traços gerais, enquanto durou a chama viva das farpas, foi um não-assunto. Até parece que não havia outras áreas mais importantes para discutir o recaimento do imposto. E já nem vou para a electricidade, que pela defesa do IVA a 6% deveria ser uma questão premente, social e económica, de cidadania por parte dos deputados da gerigonça se realmente defendessem os mais frágeis.
Sobre o comércio tradicional ninguém fala que o IVA a 23 por cento está a contribuir para exterminar um sector que é importantíssimo para as cidades, vilas e aldeias. O comércio não tem lobismo. Os comerciantes, salvo pequenas excepções, não têm quem os defenda com eficácia e os olhe como um motor de desenvolvimento das urbes. Na Concertação Social, onde a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal tem assento constitucional, nunca se ouve falar da crise e os dramas consequentes que se arrastam no terciário.
As associações de classe por este Portugal fora, algumas delas envolvidas em esquemas de enriquecimento ilícito de alguns e outras com representantes indignos que nunca lá deveriam estar, na sua maioria faliram.
Por tudo isto, não admira, portanto, que, falando de Coimbra, raro seja o mês que não encerrem lojas comerciais.

FIM DA HISTÓRIA





Desde o virar do milénio na Rua Martins de Carvalho, antiga Figueirinhas, junto ao Café Santa Cruz, que Simão Pedro era o baluarte da antiga via do jornal O Conimbricense. Seguindo a mesma linha de que tudo na nossa existência é precário, há dias encerrou a sua loja comercial.
Já em Outubro de 2011, quando escrevi a “Queda do Mercador”, a sobrevivência comercial de Simão era periclitante, no sentido de um equilíbrio difícil e perigoso numa senda mercantil que não é para todos. Mesmo assim, já com alguns sintomas da maleita que viria a tolher-lhe os movimentos, e sem retaguarda financeira, resistiu mais sete anos. Quando lhe pergunto como foi possível, do alto do seu olhar penetrante e corpo desengonçado, responde: “para onde é que eu ia? Como não tenho mais lugar algum para ir, fui estando… Com a boa vontade do meu senhorio. Foram muitos anos sem pagar renda. Estou-lhe muito grato pela paciência que teve comigo!
Simão Pedro tem agora 57 anos. De uma vida de subsistência, resta-lhe uma doença sem cura, a elefantíase - “ou filariose, é uma doença parasitária que afeta a circulação linfática, causada por um parasita nematódeo, chamado Wuchereria bancrofti e conhecido como filária”.


E MAIS UMA…



Segundo a vizinhança, presumivelmente encerrou há dias uma loja de material eléctrico na Rua das Padeiras. Embora os artigos continuem em exposição, pela correspondência postal espalhada junto da porta de entrada, tudo indica ser verdade.
Este estabelecimento, que veio substituir a desaparecida “Tecla Divertida”, abriu em Julho último. A levarmos em conta o que se consta na proximidade, fechou após seis meses de actividade.


E MAIS OUTRA, AINDA…



Depois de quatro meses, umas vezes aberta outras vezes fechada, encerrou a semana passada uma loja de livros, sobretudo em língua inglesa, na Rua do Corvo, quase em frente a Ricarlina.
Sobre gerência de Jacqueline Austin, uma professora inglesa aposentada com várias paixões, entre elas Portugal e os livros, foi um projecto que durou pouco. Sobre as razões subjacentes que estiveram na origem do bater com a porta nada podemos adiantar. Podemos presumir que, talvez pela inexperiência, teria sido um passo mal calculado.
Com estes encerramentos que anuncio hoje, sobe para 29 o número de estabelecimentos que fecharam portas desde Janeiro de 2018.
Não é a primeira vez que justifico o facto de anunciar aqui todas as aberturas e fechos de espaços comerciais. Repetindo, a intenção é manter um registo actualizado, sobretudo a nível comercial, sobre o que se passa na Baixa da cidade.

Sem comentários: