(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
REFLEXÃO: A BAIXA ENCOLHIDA NA CASCA
A
pouco mais de mês e meio do Natal, outrora um período de
carregamento de baterias financeiras no sector comercial, a Baixa,
quer no âmbito visual, quer a nível psicológico, permanece
dormente, dolente, sem forças para sair do abismo em que há muito
caiu.
Em
analogia, o Centro Histórico está para a cidade como a comemoração
do
Armistício, ocorrida neste fim-de-semana em Lisboa, está para o
país. Ou seja, a vivência actual da zona baixa citadina
e a celebração da participação portuguesa na Primeira Grande
Guerra, ambos
os quadros, na generalidade, são
olhados com alheamento e passividade, no sentido do
facto consumado, não provocando reacção, o público tende a
concordar
e a obedecer
sem reagir.
Por
outro lado, igualmente
em mentira aceite como verdade, os que habitam
e
trabalham na Baixa alimentam-se
do passado glorioso comercial. Basta atentar nos imensos clamores
plasmados nas redes sociais em que as fotos de há três dezenas de
anos são
o espírito que anima a alma e marcam
o tempo. Falar no presente decrépito é tocar com um estilete na
ferida que sangra. Por isto mesmo, numa espécie de auto-censura,
tenta-se esquecer o hoje e apagar os planos para o futuro. Numa
depressão colectiva de
chapéu enfiado nas orelhas,
sem questionar o que está acontecer, onde o medo marca os dias,
fugindo do divã catártico como o Diabo da Cruz, o refúgio é a
covardia endémica. Hoje
cai um, amanhã outro, depois outro, mas parece que a causa e
consequência são problemas de quem se estatela ao comprido.
Quem
escrever sobre o que está acontecer é malquisto e
menosprezado – não será por acaso que os jornais publicados na
cidade pintam sempre o cenário sobre o comércio em tons garridos de
esperança e nunca em cores negras de catástrofe social. No lead,
constituído pelos elementos jornalísticos que no primeiro parágrafo
permitem compreender rapidamente a notícia, o Onde,
Quando,
Como,
Porquê,
este último, o Porquê,
nunca é desenvolvido no corpo da narração. Para
exemplificar melhor: na
semana passada houve uma reunião de comerciantes promovida pela
APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e
compareceu à
chamada uma
dezena de profissionais do comércio. Este número tão restrito de
presenças não deveria provocar o “porquê”
nos jornalistas?
O
COMEÇO DA HISTÓRIA
Neste
último Sábado, na
antiga
loja da desaparecida
TLX, na
Rua Eduardo Coelho, abriu
a
Coimbra 12 €, um novo espaço comercial dedicado a vestuário,
calçado e acessórios, tudo com o preço único de uma dúzia de
euros.
Aos
novos investidores, em nome da Baixa comercial, se posso escrever
assim, desejamos a maior sorte e sucesso.
O
RECOMEÇO DA HISTÓRIA
Já
com uma sapataria na Rua Visconde da Luz e depois de ter abandonado a
Rua Eduardo Coelho, a marca Veludo Carmim instalou-se recentemente na
Rua da Louça, no antigo espaço ocupado pela sapataria Bull’s.
A
INÉRCIA QUE, A
SER VERDADE, INCOMODA
Aparentemente,
o restaurante Itália, que vai ocupar o espaço da Mango na Rua
Ferreira Borges, e a pastelaria Visconde, que vai ocupar a área do
BES na Rua Visconde da Luz, estão prontos a abrir há cerca de dois
meses e, para a inauguração, alegadamente necessitarão somente de luz verde da
administração.
Num
tempo em que tanto se fala em celeridade nos processos de
investimento – o chamado Simplex
– custa a perceber como é que, pela burocracia, uma economia de
mercado se pode dar ao luxo de travar projectos que trazem emprego e
concorrem para a revitalização de um lugar. Se
estiver errado, quem souber mais do que eu que esclareça o que está
a acontecer.
EM
TERRA DE CEGOS...
(Imagem do Notícias de Coimbra)
Segundo
o jornal online Notícias de Coimbra, uma das mais antigas casas de
escanhoar de Coimbra, a barbearia São José, instalada há 53 anos
na Rua do Brasil, abriu, neste último Sábado, a sua segunda loja no Coimbra
Shopping,
no Vale das Flores.
Ainda
que no campo da especulação, ninguém estará a ver um ofício
tradicional, competindo
com outras áreas mais lucrativas, a pagar uma renda mensal de um
milhar de euros. Então, ainda no campo da conjectura, o que estará
acontecer com a administração da empresa do emérito Belmiro de
Azevedo?
O
mais certo, enveredando na continuação da réplica do modus
vivendi
dos lugares habitados, aproveitando uma riqueza que está a ser
desperdiçada pelo poder político das cidades tradicionais, a
gerência da grande área comercial, com um outro olhar em
que o pormenor atento marca a diferença
que já nos habituou, está a dar a mão a profissões em avançado
estado de desaparecimento. É óbvio que outros ramos, sem
quaisquer apoios da tutela nem reconhecimento pela sua história e
a
caminhar para a morte lenta, se seguirão.
Em
terra de cegos, quem tem olho é rei!
Uma grande salva de palmas para a administração do Coimbra Shopping!
Uma grande salva de palmas para a administração do Coimbra Shopping!
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