(Fotos de arquivo. Nesta altura, em 2011, com 50 anos de idade)
Desde
o virar do milénio na Rua Martins de Carvalho, antiga Figueirinhas,
junto ao Café Santa Cruz, que Simão Pedro era o baluarte da antiga
via do jornal O Conimbricense. Seguindo a mesma linha de que tudo na
nossa existência é precário, ontem encerrou a sua loja comercial.
Já
em Outubro de 2011, quando escrevi a “Queda do Mercador”, a
sobrevivência comercial de Simão era periclitante, no sentido de
um equilíbrio difícil e perigoso numa senda mercantil que não é
para todos. Mesmo assim, já com alguns sintomas da maleita que viria a tolher-lhe os movimentos, e sem retaguarda financeira, resistiu
mais sete anos. Quando lhe pergunto como foi possível, do alto do
seu olhar penetrante e corpo desengonçado, responde: “para onde
é que eu ia? Como não tenho mais lugar algum
para ir, fui estando… Com a boa vontade do meu
senhorio. Foram muitos anos sem pagar renda. Estou-lhe muito grato
pela paciência que teve comigo!”
Simão
Pedro tem agora 57 anos. De uma vida de subsistência, resta-lhe
uma doença sem cura, a elefantíase
-
“ou
filariose, é uma doença parasitária que afeta a circulação
linfática, causada por um parasita nematódeo, chamado Wuchereria
bancrofti e conhecido como filária”.
É
certo que também tem muitos amigos - e, pelos vistos nos últimos
tempos, são eles que lhe tem valido -, mas quando a insuficiência
é
demasiada tudo se torna mais complicado. E neste grupo de chegados,
Simão também recorda algumas assistentes sociais que o tem ajudado
a calcorrear os dias, sobretudo quando teve de largar a sua casa de
renda e se transferiu para um quarto arrendado na Baixa, a sua zona
de conforto que alimenta a sua alma nos momentos mais difíceis e o
ajuda a recarregar o ânimo.
Não
se pense que Simão Pedro é tristonho e sorumbático. Nada disso! Há
muito que aceitou que a vida não é o resultado do que queremos que
seja mas uma soma de parcelas possíveis. Arrastando
a sua perna tocada pela doença, é uma pessoa afável e sorridente.
Num rosto endurecido e emoldurado por óculos de grossas armações
em massa, o sorriso aberto parece querer dar-nos uma lição.
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