(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Em
jeito de contar histórias, seguindo a mesma linha de anteriores
apontamentos, vou continuar a escrever sobre a APBC, Agência para a
Promoção da Baixa de Coimbra.
Como
ressalva, saliento que não se trata de qualquer obstinação,
intenção obsessiva de perseguir seja quem for. A pretender alguma
coisa, no máximo será fazer pensar se valerá a pena continuar a
derreter milhares de euros de verbas públicas num projecto destinado
à revitalização comercial e que na última década, para além da
animação das ruas, não trouxe qualquer acrescento à Baixa. A
mostrar isso mesmo, basta olhar em redor e verificar que o sector,
num marasmo aflitivo, continuou e continua a empobrecer e as lojas mais antigas,
paulatinamente, têm encerrado umas atrás de outras.
Rebobinando
a cassete, estamos então em 2010. É interessante verificar, pelas
remissões para textos escritos nessa altura, que os problemas eram os
mesmos de hoje. Então, surge a pergunta: agora, passados sete anos,
estamos melhor, igual, ou pior?
A
Baixa, apresentava uma série de edifícios em ruína. A Polícia
Municipal (PM), pela sua não actuação, pelo deixa-correr, era alvo
de reparo pela Junta de Freguesia de São Bartolomeu. Outro novo
comandante da PM, Euclides Santos, foi empossado em Janeiro.
A
Câmara Municipal continuava a apertar os comerciantes até ao último suspiro. A Ourivesaria Costa foi esbulhada de todo o seu recheio, e
eu a perorar sobre a insustentável leveza de ser comerciante. A
minha tia Aida partiu para não mais voltar. Para onde caminhamos? Aflorava a questão.
Coimbra
era uma cidade de ilhotas -pelo menos sob o meu olhar. Hoje estará diferente? O Sol andava
nublado. O prédio decrépito do Largo da Freiria desafiava as leis
da gravidade. Adivinhem se alguma coisa se alterou nestes sete anos.
A Baixa morria perante os nossos olhos. No entanto, como a contrariar
um marasmo implantado numa zona decrépita e a dar início a uma
recuperação vertiginosa na zona das Escadas de Quebra Costas, abria
o Fangas, Mercearia & Bar.
Chamava
a atenção para os jardins suspensos, como quem diz, para o
esquecimento da nossa história recente. O lixo na Baixa era um
problema. O remoer da loucura na vida social foi e será sempre uma
eterna e pertinente questão. Decorria na urbe uma importante peça
teatral: a farsa de Dona Vitália. Era um ver e não ver. O que nos valia era a menina Francelina. Em todo o lado há
sempre uma mulher misteriosa.
O
Centro Histórico teve sempre presidentes de câmara que, fossem de
direita ou de esquerda, sempre castigaram o comércio com taxas do absurdo. Claro que, por vezes, são obrigados a recuar -mas, para
isso acontecer, terá de haver uma forte oposição dos lesados. Em
contraponto, a sorte grande, de vez em quando, sai em Coimbra.
Como
tolinho, em editorial, eu interrogava: o que querem “eles”
fazer da Baixa? É óbvio que ninguém respondia, e a miserável
discriminação continuava: os velhos lobos do comércio, sem dó nem
piedade, estavam condenados ao desaparecimento. Mesmo assim, nessa
altura de 2010, os portugueses eram muito caridosos. O que nunca muda
é a autarquia ao considerar os homens do comércio uma espécie de
burro espanhol.
Uma
infeliz certeza para a Baixa. O lojista era (e é) um cepo sujeito a
todas as pancadas. Mas havia sempre tolos de vaidade. Surgiam imagens
que não eram por acaso. Há dias, de dias, que deveriam acontecer
todos os dias. Como o dia da tremoceira, por exemplo. Há
sempre “Invictus” que nos marcam. Por outro lado, para
nossa desconsolação, com a nuvem a obliterar o nosso olhar, os
políticos, como é costume, fazem pouco dos “pequeninos”...
e também dos “maiorzinhos”.
Dizia
eu que, nessa época de 2010, a Baixa estava em morte clínica. Um
exagero, claro está!
O
que parecia estar em coma era o(a) nosso(a) Império. Mas havia
sempre umas ofertas para esquecer a crise e embalar o consumidor. Era
o começo das promoções em série “XXL”. Mas a Baixa, a
desgraçada, continuava a cair aos olhos de todos. Um ouvido
indiscreto apanhava sempre uma conversa aqui e ali. E podia até
voar-se sobre um ninho de cucos.
Como
já escrevi até à exaustão, o que sempre feriu mais quem trabalha
nesta área velha foram os critérios pouco equitativos da edilidade.
Foi sempre uma insensibilidade assustadora para esta amada terra de
ninguém. Os comerciantes da Baixa até tinham descontos na morte. Os
mendigos viam-se a dormir no patim de muitas entradas de prédios. E
até havia quem colocasse bicos contra a indolência. Os Outlet's
estavam a romper tentando contornar a crise da procura.
Algumas
lojas desapareciam na noite. O comércio independente era já uma
espécie em vias de extinção. Mas os velhos também morriam
sozinhos. Debater o futuro? Sei lá?! Reivindicar o quê? E fez-se um
jantar para falar da instabilidade económica que tocava todos.
Sabia-se o que se queria, o problema era chegar lá. O pessoal resistia, resistia. Até se apelava a Deus para buscar forças. Mas,
mesmo assim, a loja tradicional continuava a encerrar sem apelo nem
agravo. Era o óbvio de La Palisse.
A
direcção da ACIC, havia pouco tempo depois de empossada, realizava
uma conferência de imprensa para falar da instabilidade que assolava
o comércio. Mas a vetusta associação seguia o seu caminho. Há
sempre quem procure o seu menino. Havia também os loucos das vielas
manhosas. E interrogavam-se as estrelas.
A
Perfumaria Pétala, a setenta metros da 2.ª Esquadra da PSP, foi
assaltada. Para que serviam as câmaras de video-vigilância?
Interrogava eu. E até fui à Assembleia Municipal. Chamava-lhe
câmaras de ilusão. Até proclamava que precisava de uma câmara de
inteligência. Eu sabia lá o que era uma revolução? E houve um
desabamento anunciado. E quem era o proprietário? A autarquia, “off
course”.
O
“Aspirante” era o rei das ruas estreitas. A cidade se, por um
lado, continua boazinha com os diferentes, por outro, sempre foi
muito pudica. E quando se mija fora do penico lá vêm os puristas.
Mas há sempre os últimos fingidores. E também os perdidos. O tempo
também nos trocava as voltas. A Dona Altina, uma senhora muito
conhecida, desapareceu sem deixar rasto. A ACIC dava conversa para
boi dormir.
Às
vezes, perante a miséria alheia, era impossível conter as lágrimas.
A Polícia Municipal até multava ao amanhecer. No comércio era o
alho e o reviralho.
Na
política partidária, numa desilusão continuada que nos há-de
levar à tumba, nunca mais aparecia o Dom Sebastião. Nem na crónica
da semana passada. E escrevia sobre o Panteão Nacional, o nosso
esquecido, mesmo à frente dos nossos olhos.
As
fogueiras do Romal eram um espectáculo! Não há dúvida que só há
bons líderes quando estão na oposição. Quando vão para o poder desaparecem no éter.
A Avenida Central
continuava embruxada. E já caiu a maldição?
O
“forró” na Baixa persistia no descontrolo. O pão e circo
sempre alimentou a alma do povo.
E,
nesta crónica em que se remete para outras, conta-se a história dos
primeiros seis meses de 2010.
(ARTIGO
EM DESENVOLVIMENTO)
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