sábado, 10 de novembro de 2018

FEIRA DE ARTESANATO: UMA MUDANÇA EM SEGREDO (O HABITUAL, PARA NÃO SE ESTRANHAR)





Pouco passava das treze horas deste Sábado. Embora o tempo acinzentado parecesse estar de semblante encoberto e descarregar a sua frustração a qualquer momento sobre quem se aventurasse nas ruas, não chovia.
O Mercado Municipal Dom Pedro V, com poucos compradores a circular nos corredores, apresentava-se igual a outro qualquer dia da semana. Como a clientela mais fiel, nomeadamente os mais antigos, vai durante a manhã, a maioria dos vendedores está nas limpezas e a arrumar a trouxa para rumar ao aconchego do lar. Nada indica haver na velha praça algo diferente. Pergunta-se aqui e ali, mas poucos parecem saber de alguma coisa. Mas há! Há? Onde?
Com pouca luz a promover o evento, sem qualquer indicação dentro do mercado, na maior discrição, no piso por cima das bancas do peixe está a decorrer a Feira de Artesanato Urbano de Coimbra. Este certame, fundado com o nome de “Mercado de flores e Plantas (doçaria regional e algum artesanato)” há cerca de uma década por Mário Nunes, um emérito vereador da Cultura da Coligação PSD/CDS já falecido, decorreu sempre nas Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges. Com a entrada deste executivo PS, em 2013, parecendo que tudo o que vem do anterior regime cheira a mofo, onerando os custos públicos com a gratuitidade mas, ao mesmo tempo, desconsiderando os operadores, vão mexendo, remexendo e deslocalizando até acabarem com tudo – para exemplo, basta pensar na Feira de Velharias.
Desta vez a mudança de local para a popular praça, aparentemente, deveu-se ao previsto mau tempo para o fim-de-semana, anunciado pelo IPMA, Instituto do Mar e da Atmosfera. Claro que sabemos que a intenção foi apalpar o terreno para a transferência definitiva desta mostra e inclui-la na futura remodelação do popular espaço público. Teoricamente, já que é preciso usar todas as armas disponíveis para a sua revitalização, até se entende, o problema é como logo no primeiro acto se faz tudo atabalhoadamente e se mata a ideia à nascença. Decidida em cima do joelho, esta alteração foi anunciada nos jornais diários de ontem, na página da Câmara Municipal e do Município de Coimbra, no Facebook. Se o pelouro da Cultura tivesse algum respeito pelos vendedores que se deslocaram para o novo local, mandaria o bom-senso que fosse afixado um painel aéreo nas ruas da calçada e no exterior e interior do mercado houvesse setas indicativas da alegoria. Como se não houvesse tempo, nem verba, nem pessoal disponível na Casa Municipal da Cultura, foram apenas colados dois pequenos cartazes nos vidros das duas portas laterais de entrada. Haja paciência para tanta irresponsabilidade, tanto desprezo e despudor para aqueles que, sem garantias de qualquer verba, se deslocam para animar a cidade!


O QUE DIZEM OS VENDEDORES?


Cerca de vinte vendedores, mirando o espaço a seus pés com os peixes expostos a olhá-los fixamente, parecem interrogar o que fazem ali.
Falei com duas vendedoras de artesanato sem as identificar. Com o introito premonitório de que não estariam muito satisfeitas, interroguei: como é que vê e sente esta mudança? Como vai o negócio?
A primeira, de rosto fechado, foi adiantando que ainda não tinha vendido nada. Pouca gente sabia da realização, por isso mesmo, durante a manhã, houve poucos visitantes. “A Câmara faz tudo em cima do joelho e não publicita”, acrescentou.
A segunda operadora, de face sorridente, às mesmas perguntas, foi dizendo que, por acaso, até estava a correr bem. Contrariamente aos seus colegas, já tinha feito o mesmo que fazia na rua principal. “O problema é o desconhecimento de todos”, retorquiu. Mesmo dentro do mercado, nas pessoas que se deslocaram às compras alimentares, ninguém parecia saber da nossa existência aqui. Só se, por acidente, olhassem para cima, enfatizou.
Falei também com um comerciante de venda de peixe instalado no piso térreo. À minha pergunta de como via os novos vizinhos, respondeu: “Vejo bem! A publicidade é que peca por não se ver. Deixaram ontem aqui uns pequenos folhetos para distribuirmos aos nossos clientes. O que está mal é a vereadora não ligar nada a isto. Andou aí durante a manhã – creio que era a vereadora – e disse-lhe exactamente o mesmo. Creio até que fui um bocado duro, mas às vezes é preciso dizer na cara das pessoas o que pensamos. Admite-se não haver publicidade dentro do mercado e à entrada?
À despedida aconselhou: “escreva isto mesmo no blogue. Dê cabo deles! Esta gente parece que não se interessa nada pelo sucesso dos eventos. Fazem apenas por fazer!




Sem comentários: