Pouco
passava das treze horas deste Sábado. Embora o tempo acinzentado
parecesse estar de semblante encoberto e descarregar a sua
frustração a qualquer momento sobre quem se aventurasse nas ruas,
não chovia.
O
Mercado Municipal Dom Pedro V, com poucos compradores a circular nos
corredores, apresentava-se igual a outro qualquer dia da semana. Como a
clientela mais fiel, nomeadamente os mais antigos, vai durante a
manhã, a maioria dos vendedores está nas limpezas e a arrumar a
trouxa para rumar ao aconchego do lar. Nada indica haver na velha
praça algo diferente. Pergunta-se aqui e ali, mas poucos parecem
saber de alguma coisa. Mas há! Há? Onde?
Com
pouca luz a promover o evento, sem qualquer indicação dentro do
mercado, na maior discrição, no piso por cima das bancas do peixe
está a decorrer a Feira de Artesanato Urbano de Coimbra. Este
certame, fundado com o nome de “Mercado de flores e Plantas
(doçaria regional e algum artesanato)” há cerca de uma década
por Mário Nunes, um emérito vereador da Cultura da Coligação
PSD/CDS já falecido, decorreu sempre nas Ruas Visconde da Luz e
Ferreira Borges. Com a entrada deste executivo PS, em 2013, parecendo
que tudo o que vem do anterior regime cheira a mofo, onerando
os custos públicos com a gratuitidade mas, ao mesmo tempo,
desconsiderando os operadores, vão mexendo, remexendo e
deslocalizando até acabarem com tudo – para exemplo, basta pensar
na Feira de Velharias.
Desta
vez a mudança de local para a popular praça, aparentemente,
deveu-se ao previsto mau tempo para o fim-de-semana, anunciado pelo
IPMA, Instituto do Mar e da Atmosfera. Claro que sabemos que a
intenção foi apalpar o terreno para a transferência definitiva
desta mostra e inclui-la na futura remodelação do popular espaço
público. Teoricamente, já que é preciso usar todas as armas
disponíveis para a sua revitalização, até se entende, o problema
é como logo no primeiro acto se faz tudo atabalhoadamente e se mata
a ideia à nascença. Decidida em cima do joelho, esta alteração
foi anunciada nos jornais diários de ontem, na página da Câmara
Municipal e do Município de Coimbra, no Facebook. Se o pelouro da
Cultura tivesse algum respeito pelos vendedores que se deslocaram
para o novo local, mandaria o bom-senso que fosse afixado um painel
aéreo nas ruas da calçada e no exterior e interior do mercado
houvesse setas indicativas da alegoria. Como se não houvesse tempo,
nem verba, nem pessoal disponível na Casa Municipal da Cultura,
foram apenas colados dois pequenos cartazes nos vidros das duas
portas laterais de entrada. Haja paciência para tanta
irresponsabilidade, tanto desprezo e despudor para aqueles que, sem
garantias de qualquer verba, se deslocam para animar a cidade!
O
QUE DIZEM OS VENDEDORES?
Cerca
de vinte vendedores, mirando o espaço a seus pés com os peixes expostos a
olhá-los fixamente, parecem interrogar o que fazem ali.
Falei
com duas vendedoras de artesanato sem as identificar. Com o introito premonitório de que não estariam muito satisfeitas,
interroguei: como é que vê e sente esta mudança? Como
vai o negócio?
A
primeira, de rosto fechado, foi adiantando que ainda não tinha
vendido nada. Pouca gente sabia da realização, por isso mesmo,
durante a manhã, houve poucos visitantes. “A Câmara faz tudo
em cima do joelho e não publicita”, acrescentou.
A
segunda operadora, de face sorridente, às mesmas perguntas, foi
dizendo que, por acaso, até estava a correr bem. Contrariamente aos
seus colegas, já tinha feito o mesmo que fazia na rua principal. “O
problema é o desconhecimento de todos”, retorquiu. Mesmo
dentro do mercado, nas pessoas que se deslocaram às compras
alimentares, ninguém parecia saber da nossa existência aqui.
Só se, por acidente, olhassem para cima, enfatizou.
Falei
também com um comerciante de venda de peixe instalado no piso
térreo. À minha pergunta de como via os novos vizinhos, respondeu:
“Vejo bem! A publicidade é que peca por não se ver.
Deixaram ontem aqui uns pequenos folhetos para distribuirmos aos
nossos clientes. O que está mal é a vereadora não ligar
nada a isto. Andou aí durante a manhã – creio que
era a vereadora – e disse-lhe exactamente o mesmo. Creio até que
fui um bocado duro, mas às vezes é preciso dizer na cara das
pessoas o que pensamos. Admite-se não haver publicidade dentro do
mercado e à entrada?”
À
despedida aconselhou: “escreva isto mesmo no blogue. Dê cabo
deles! Esta gente parece que não se interessa nada pelo sucesso dos
eventos. Fazem apenas por fazer!”
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