O
jornal Público de ontem, em primeira página e a contar um alerta na
Web Summit, escrevia o seguinte: “Estamos
a deixar-nos colonizar pelas empresas de tecnologia”.
A Web Summit é
uma
das feiras mais importantes na área da ciência, principalmente
para quem está ligado a “startups”
e ao empreendedorismo. Depois da ideia ter sido vendida a
peso de ouro ao
Governo como a entrada para a caverna
de Alibabá,
em que ficará por cá até 2028, esta
iniciativa
realiza-se, este ano, pela primeira vez em Lisboa, depois de 7
edições em Dublin.
Num
exercício estapafúrdio, creio que vale a pena fazer uma análise ao
que está acontecer na Baixa de Coimbra. Será que esta zona
comercial segue a moda apregoada, isto é, as empresas de inovação
e ciência estão a monopolizar o Centro Histórico?
Relembramos
que
em Abril, último, foi noticiado na imprensa que a APBC, Agência
para a Promoção da Baixa de Coimbra, num
projecto de 300 mil euros, comparticipado pela CCDRC, Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento
Regional do Centro, em 85 por cento, foi-lhe também atribuída pela
autarquia uma verba de 45 mil euros para a instalação de 20
empresas “startups”,
indústrias criativas, na Baixa. Passados
mais de seis meses não se vislumbram estes investimentos. Por onde
andarão
os ditos?
ENTRE
O DEVE E O HAVER
Desde
Janeiro, último, e
até esta data, encerraram
na Baixa 26 espaços
comerciais, alguns
deles com história e levando vários funcionários para o desemprego.
Faço
notar que não incluo algumas transferências de lojas que se
deslocalizaram por questões de rendas ou melhor localização.
Em
contrapartida, reabriram 20 estabelecimentos de áreas diferenciadas:
Hotelaria
e alimentar: 7
Rádio
e audiovisual: 1
Velharias
e artigos decorativos: 2
Roupas:
3
Bugigangas/
artigos eléctricos: 2
Artesanato/tabacaria:
2
Sapataria:
1
Livraria:
2
Em
observação sobre os novos empreendimentos, constata-se que só
mesmo na restauração - em dois casos, nomeadamente o Nut’s,
no Largo da Portagem, e o
restaurante Refreito,
no Terreiro da Erva – e
num alimentar – a Comur,
no Largo
da Portagem - foram
feitos investimentos de monta e originando novos postos de trabalho.
Nas
restantes amostras de novas aberturas, retirando um caso de uma
livraria - a Casa
do
Castelo,
na Rua da Sofia- e uma sapataria – a Veludo
Carmim,
na Rua da Louça – salvo algum olhar menos atento, praticamente todos os 15 investimentos foram
originados na lógica de auto-emprego.
Por
outro lado ainda, dá para verificar que em aplicações de roupas
(3) quem chegou de novo, no artigo que vende, é igual ao que já
havia. Quem veio, sem ter o cuidado de fazer uma prospecção de
mercado, ou ouvir quem cá está há muitos anos, sem
enriquecer a diversidade, implantou-se notoriamente para se
auto-flagelar
e, numa
concorrência improcedente,
prejudicar
e
dificultar
a vida aos que por cá já andam
aos
papéis.
QUE
ÁREAS FAZEM FALTA NA BAIXA?
Como
se pode ver, na maioria, os investimentos que têm sido realizados
são sempre precários, numa óptica de pouco
risco e facilitismo,
e na direcção de preencherem o auto-emprego. Isto é, para além de
se estar a tornar tudo igual, com a mesma oferta, a Baixa, para além
de ficar cada vez mais empobrecida, fica cada vez mais
descaracterizada.
Contrariando
a onda do politicamente correcto, de que o futuro reside unicamente
na área tecnológica, no Centro Histórico não existem ofícios que
fazem falta todos os dias, como exemplo:
-
Carpintaria/marcenaria/torneiro de madeiras
-
Construtor de instrumentos musicais
-
Ceramista, pintor de louça (salienta-se que a fábrica Antiga de
Coimbra, no Terreiro da Erva, está a relançar a arte para, creio,
turista ver)
-
Restaurador de arte sacra/dourador
-
Restaurador de móveis
-
Oficina
de Ferro forjado
-
Loja dedicada a bordados/ tear/ensino de ajour
-
Restaurador de cerâmica/oleiro
-
Vitralista
-
Picheleiro (o vulgo latoeiro)
-
Espaço dedicado a pequenas reparações familiares
Bem
sei que para que estas profissões em desaparecimento regressassem à
Baixa de Coimbra seria necessário a intervenção camarária,
nomeadamente com apoios a incluir o Cearte e alteração do uso do
espaço privado e público. Mas,
interrogo, o executivo municipal quer lá
saber
sobre
o que se passa nesta parte da cidade?
Será
que não valerá a pena pensar nisto?
1 comentário:
é um vazio cada vez maior. O lobby dos grandes centros comerciais, a falta de lugares de estacionatemto na baixa. Uns com vistos "Gold", outros forçados a fechar portas e despedir colaborades. "Criativos & Ideias" para a baixa ; precisam-se.
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