Por me ter sido pedida hoje uma informação
acerca de Manuel dos Reis -o “afinador de pianos”, que durante vários anos foi
nosso companheiro e caminhante destas pedras milenares-, depois de ter ido
investigar, fiquei a saber que o “senhor
Manel” –como era tratado por mim- faleceu há cerca de um ano sozinho mas acompanhado
na maior indignidade que pode acontecer a qualquer ser humano. Morreu nos HUC,
Hospitais da Universidade de Coimbra.
Segundo me foi dito, alegadamente, como a sua família da zona da Figueira da Foz não se interessasse em fazer-lhe um funeral decente e como deveria ser legitimo para qualquer humano finado, o corpo do “senhor Manel” esteve “engavetado” no frigorífico cerca de dois meses, vindo, depois, a ser enterrado, como indigente, em campa rasa –sublinho que transcrevo as informações como me foram cedidas.
Segundo me foi dito, alegadamente, como a sua família da zona da Figueira da Foz não se interessasse em fazer-lhe um funeral decente e como deveria ser legitimo para qualquer humano finado, o corpo do “senhor Manel” esteve “engavetado” no frigorífico cerca de dois meses, vindo, depois, a ser enterrado, como indigente, em campa rasa –sublinho que transcrevo as informações como me foram cedidas.
Estes velhos do esquecimento
mereciam ter na morte um outro respeito. Há poucos meses aconteceu o mesmo com
o senhor “Xico”, um cordato passante
destes becos e ruelas. Este homem morreu sozinho.
Num tempo –que embirro e me coloca os cabelos
em pé- em que se dá mais dignidade aos animais, animalcentrismo, assiste-se, volta e meia, a
esta indescritível vergonha social. Há dinheiro para tudo, até para grandes
espectáculos, menos para criar um gabinete englobado no Departamento de Acção
Social e Família, da Câmara Municipal de Coimbra, que se encarregasse de encaminhar estas pessoas para uma última morada digna, incluindo cerimónia religiosa, já que até na morte são discriminados e perseguidos pela má sorte até ao derradeiro suspiro. E
aqui na Baixa de Coimbra há dezenas de “mendigos
de carinho” como o senhor Reis. É a sina do desgraçado.
Conforme já escrevi aquando do funeral do “sismólogo”, o senhor “Xico”, o próprio hospital, os HUC, trata estes casos com
pouca consideração –por elementar nobreza por quem nada tem, deveria ser
exactamente o oposto. Por exemplo, verifiquei que, aquando da cerimónia religiosa
na capela mortuária, o capelão do hospital apresentou-se vestido de bata
branca. Custa muito aparecer com as vestes protocolares de padre? Má sorte
nascer sem sorte, viver sem fortuna e morrer em silêncio, pior que um cão vadio.
Tome-se atenção que sendo pensionista da Segurança Social (SS) -e a maioria destes abandonados à sua sorte são-no de facto e de direito- as despesas com o funeral estão asseguradas até ao montante de 1,257.66 euros. O que normalmente se passa é que há três actos a desempenhar. O primeiro, é reconhecer o corpo do defunto -e pode ser qualquer pessoa que o conhecesse em vida. O segundo, é contactar a Segurança Social para a formulação do processo de ressarcimento de despesas com o enterro. O terceiro, falar com uma agência funerária que até nem se importa de aguardar pelo subsídio vindo da SS e assegure as cerimónias fúnebres. O problema é encontrar alguém que se preste a este serviço social. Daí, na impossibilidade de outra entidade localizada na Baixa chamar a si este préstimo, caber por inteiro a um departamento da Câmara Municipal de Coimbra.
Tome-se atenção que sendo pensionista da Segurança Social (SS) -e a maioria destes abandonados à sua sorte são-no de facto e de direito- as despesas com o funeral estão asseguradas até ao montante de 1,257.66 euros. O que normalmente se passa é que há três actos a desempenhar. O primeiro, é reconhecer o corpo do defunto -e pode ser qualquer pessoa que o conhecesse em vida. O segundo, é contactar a Segurança Social para a formulação do processo de ressarcimento de despesas com o enterro. O terceiro, falar com uma agência funerária que até nem se importa de aguardar pelo subsídio vindo da SS e assegure as cerimónias fúnebres. O problema é encontrar alguém que se preste a este serviço social. Daí, na impossibilidade de outra entidade localizada na Baixa chamar a si este préstimo, caber por inteiro a um departamento da Câmara Municipal de Coimbra.
Como elogio, embora já o tivesse feito em vida
no texto que escrevi no jornal “O Despertar”, que o senhor Manuel Reis descanse
em paz e perdoe os insensíveis, os morcões que o rodearam. Até um dia, “senhor
Manel”.
(TEXTO ENVIADO, PARA CONHECIMENTO, À CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)
(TEXTO ENVIADO, PARA CONHECIMENTO, À CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)
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