sábado, 25 de junho de 2016

APBC: TOMA LÁ MAIS UMA NOITE BRANCA (2)



Sem devidamente informar os comerciantes, a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, decidiu, de per si e unilateralmente, através da imprensa diária desafiar os lojistas a estarem abertos ontem, sexta-feira, até à meia-noite. Para quem leu, a notícia veio publicada nos jornais diários da última quarta-feira. No interior, o Diário as Beiras com o título “Noites temáticas anima a Baixa” e o Diário de Coimbra com “Jogo ajuda a divulgar lojas da Baixa de Coimbra”.
Os periódicos, há três dias, informavam que nos próximos três meses, temas variados como enigmas, arte, moda, fado, teatro, durante quatro noites temáticas, na última sexta-feira de cada mês, a APBC, “para animar “os serões” quentes que prometem “ressuscitar o comércio local da zona histórica”, desafia os comerciantes a abrirem as suas portas até às 24h00.
Tanto quanto sei, para além desta informação jornalística, mais nenhuma comunicação foi passada aos comerciantes. Resultado desta acção? De um leque abrangente de cerca de 300 estabelecimentos comerciais, só 20 lojas estiveram ontem abertas até mais tarde –saliento que onze faziam parte desta iniciativa e, como parceiros, foram contactados previamente para servirem a logística dos jogos de enigma. O que, na prática, quer dizer que, para além deles, só nove colaboraram na pretensão.

HOMEM, NÃO HÁ GRAÇA QUE TE CONTENTE

Pode até parecer que, imbuído de um espírito negativista, estou simplesmente a querer mandar abaixo a diligência encetada pela APBC. Nada disso! O que pretendo é uma reflexão, caso contrário, os poucos que ainda vão colaborando nestas actividades de reanimação urbana desistem também.
Como salvaguarda, estive cá ontem e, até agora, tenho estado sempre que posso. E estando presente, quando outros colegas não estiveram porque presumivelmente não foram informados, tenho toda a legitimidade de pensar que, por parte da direcção da APBC, houve abuso de posição dominante. Transformando isto em miúdos, quero dizer que organizar uma alegoria desta envergadura sem prazo prévio, decidindo e sem contactar os visados, é o mesmo que mostrar que “eu penso, decido e espalho ao vento. Quem quiser colabora, quem não quiser é um problema dele”.
Por que a questão fundamental que se coloca é: para realizar estes eventos a APBC precisa dos comerciantes? Mais abaixo responderei a esta interrogação.

HÁ UM APBCXIT (UM DIVÓRCIO) EM MARCHA?

Há uma semana, também em parceria com outras entidades, foram organizadas pela APBC as Marchas Populares, um espectáculo cénico, de som, luz e cor, que, tal como em anos anteriores, resulta sempre em número de visitantes à Baixa. Ao apelo da agência, para manterem os estabelecimentos comerciais abertos até à meia-noite, responderam positivamente cerca de quatro dezenas de lojistas –lembro que a APBC tem cerca de 70 associados e a Baixa detém, aproximadamente, cerca de 300 estabelecimentos comerciais.

MAS, AFINAL, O QUE SE PASSA?

Há um ano atrás, em 17 de Junho de 2015, no antigo Salão Brazil e perante uma pequena audiência de comerciantes, Vitor Marques, o presidente da APBC, disse o seguinte: “A ideia é debater o futuro da APBC. Por outro lado, também receber os comerciantes. Tentámos nos últimos seis meses e apareceu uma pessoa. Esta é a segunda tentativa. Tomámos posse em Abril de 2014. A APBC é constituída por oito elementos; sete são ligados a actividades comerciais e um faz a ponte entre os anseios dos comerciantes e a Câmara Municipal. A agência tem 70 associados na actualidade”.
Já este ano, em 29 de Fevereiro, também no antigo Salão Brazil e já com uma plateia mais composta, Vitor Marques, perante a assistência, disse, preto no branco, que as noites brancas não faziam sentido e que, enquanto programa conjunto de animação entre os operadores, tinham de ser reformuladas. E foram? Fosse por compromisso prévio assumido ou não, a verdade é que tudo continua igual. Igual, como quem diz, ou melhor, diferente porque a participação dos comerciantes continua a minguar.

E POR QUE SE MANTÉM O SITUACIONISMO?

As noites brancas são um grande negócio para a hotelaria. O comércio, nestas noites de folia, é simplesmente um travesseiro a suportar o suor dos amantes. Pouco ou nada factura, esta é a questão principal. E já vem de longe esta situação. Por outro lado, os lojistas sentem-se actores de um teatro de fantoches, pouco reconhecidos, usados e mal-pagos. É preciso não esquecer que estes programas financiados por dinheiros públicos têm por objecto a dinamização do comércio. Ora, repetindo, o que está acontecer é que estas festas estão a servir exclusivamente a indústria hoteleira. E o definhamento do comércio tradicional continua.
Por outro lado, a meu ver, estes eventos estão demasiadamente politizados. Isto é, perdendo-se a objectividade, na racionalidade, defende-se para a frente. Continuando a fazer mais do mesmo, a transformar uma mentira em verdade, perpassa a ideia pública de sucesso e quem decide e apoia –no caso a Câmara Municipal, com o departamento de cultura- capitaliza dividendos. Porque, como se sabe, o que está em causa é fazer, fazer, fazer. O povo gosta de obreiros. Se os projectos estão feridos de eficácia? Bom, isso, essa discussão é para os descontentes, aqueles que questionam, poucos, que nunca se dão por satisfeitos. E para quem decide num autismo completo sem ouvir ninguém, os inconformados, que só chateiam, não contam para nada. É um mero jogo de poder. Siga a procissão que o senhor abade está a benzer o dia!

E O QUE SE PODE FAZER?
Por ventura, esta será a resposta que valeria um milhão de euros. Mas, de premissa em premissa, alcança-se a conclusão. Ou seja, sabe-se que este arquétipo das noites brancas, a envolver o comércio, já foi chão que deu uvas. Então, seguindo a lógica, se pela noite dentro os comerciantes não embarcam, porque não experimentar durante o dia? Vale a pena continuar a remar contra a maré?

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