(Foto do Diário as Beiras)
Meu caro Dr. Ferreira da Silva –como nos
conhecemos pessoalmente tomo a liberdade de retirar o apêndice estatutário-,
enquanto coordenador político, escrevo-lhe esta carta numa tentativa de
perceber a posição do movimento Cidadãos por Coimbra (CpC) perante o necessário
equilíbrio das forças económicas no desenvolvimento da cidade.
Como deve saber, estou ao lado do CpC desde as
primeiras reuniões embrionárias ali para o lado da Escola Secundária José
Falcão. Embora sem me envolver activamente –por que me considero cidadão
independente de qualquer facção política-partidária- acompanho o trabalho geral
desenvolvido pela moção política que o caro amigo preside e, como vereador com
assento no executivo municipal, a sua prestação individual mas de representação
do CpC. Sempre que possível respondo afirmativamente aos convites formulados
para discussão de temas sobre a cidade e cidadania.
Como ressalva, digo-lhe que acompanhei,
abracei e votei no CpC na esperança de uma lufada de ar fresco na política
local. Ou seja, um grupo de pessoas, ainda que ideologicamente conotados e
notoriamente envolvidos com o Bloco de Esquerda, com Coimbra no coração que
almejavam fazer melhor nas relações entre o munícipe e o poder político
municipal. Esta última premissa é que verdadeiramente me interessou na altura.
Com todo o respeito pela classe universitária, quando comecei a ver tantos professores
do ensino superior nos órgãos estatutários deu-me uma comichão na cabeça que ainda
não me passou. Com o tempo, tentando desvalorizar esse peso intelectual em
detrimento do operariado, achei que era a formação possível num universo pouco participado
pelo cidadão comum.
BALANÇO PESSOAL
Depois de três anos de actividade política do
CpC na cidade –e sobretudo no executivo-, confesso, meu caro Ferreira da Silva
que o desapontamento foi aumentando e tomando conta da minha pessoa. Se me
perguntar hoje o que distingue o CpC das restantes forças políticas
representadas na Câmara Municipal de Coimbra –quer na Assembleia Municipal,
quer na vereação- não consigo responder. Salvo uma ou outra posição, sobretudo
na tentativa de envolvimento do cidadão nas lides da cidade, é mais do mesmo!
Argumentar que o chefe do executivo não respeita a oposição, que é assim,
assado e cozido, é chover no molhado. É pouco e não me serve de analgésico para
a minha frustração e dor de alma. Para votar outra vez no CpC, exijo muito mais
do que foi feito até agora.
O CPC NO DIVÃ
PSICANALÍTICO
As últimas posições políticas do movimento
tem-me feito questionar que objecto persegue para a cidade e sobretudo para a
Baixa. Esta área histórica, talvez por ser a zona mais martirizada da cidade e
que, estrutural, social e comercial, precisa de um holístico olhar de
envolvimento de todos os sentados na cadeira do poder da Praça 8 de Maio e os
que assistem de longe. Cito somente o lado comercial: há pessoas, comerciantes,
com a saúde debilitada e a morrer diariamente aos poucos. Interrogo: o que fez
até agora o CPC para mostrar que está ao lado dos profissionais do comércio?
Como posições controversas, que
embora respeite mas não entendi, vou citar-lhe três: horários da noite –em que
o CpC defendeu o alargamento de abertura de estabelecimentos pela madrugada dentro
ao arrepio do harmónico e legítimo interesse dos moradores –salvo melhor
opinião, e manifestei-a na página da Internet, sem este necessário equilíbrio
não teremos uma cidade saudável como
ouço tantas vezes defender.
Outra posição incompreensível: voto
contra a abertura da chamada agora Via Central. A argumentação
apresentada foi que o corredor foi aberto tendo por objecto o Metro Ligeiro de
Superfície. Ora, não havendo Metro logo deve permanecer “ad eternum” ao abandono e à espera que o errático sepultado
projecto, como Fénix, renasça das cinzas? E a vida das pessoas, que dependem da
revitalização da Baixa? Também devem ficar à espera? Escrevo de profissionais
que (sobre)vivem do seu rendimento diário. Não têm ordenado fixo. Trabalharam
toda a vida e, como eu sinto, julgam-se abandonados por todos os políticos em
actividade –ainda hoje, durante a manhã, escrevi sobre este assunto.
E agora –que foi o que me fez saltar a tampa-
o posicionamento de ontem de Pedro Bingre do Amaral, vereador em substituição
no executivo, em que votou a favor de mais estacionamento para
uma média superfície na margem esquerda. Embora conheça pessoalmente
Bingre, do meu cantinho, interrogo: o vereador saberá, de facto, o que se passa
na Baixa? Conhece o excesso de oferta comercial na zona histórica? Em
complemento, não esqueça que Santa Clara também faz parte da Baixa.
Por acaso sabe que, com a requalificação do
Terreiro da Erva, o centro da Baixa perde o único estacionamento gratuito?
Saberá também que, em princípio, vai ser
abolido o único estacionamento sem ser onerado em frente ao Estádio Universitário
para rentabilizar o do Convento de S. Francisco, o Centro de Congressos, e com
isso abastecer os cofres da edilidade?
Então como perceber o dar de bandeja maior
número de lugares para um privado? E ainda por cima sendo um operador que vem dificultar
ainda mais o já difícil aguentar dos micro-comerciantes? A explicação de que,
com o seu voto, “vai ajudar a reabilitar
uma zona da cidade que se encontra bastante degradada e a necessitar de urgente
intervenção” é no mínimo estranha. Quem segue de perto a expansão da margem
esquerda facilmente chega à conclusão de que, nos próximos tempos e sobretudo
para o turismo, vai ser a melhor e mais rica zona comercial da cidade. E sem
precisar de mais ajudas do que as que já tem. A meu ver, um tiro muito infeliz!
Lamento imenso mais este posicionamento contra a corrente.
3 comentários:
E estava à espera de quê? Todos querem tacho.
Estimado António Luis Fernandes Quintans, agradeço-lhe o comentário que fez à nossa votação de ontem a favor de mais estacionamento para uma média superfície na margem esquerda, qual entende ser prejudicial para os estabelecimentos comerciais da Baixa de Coimbra.
Tenhamos em atenção os detalhes do pedido que votámos favoravelmente: tratous-se concretamente da autorização de 35 lugares de estacionamento suplementares (em adição aos 42 já permitidos pelo PDM) para um supermercado relativamente pequeno (1000 metros quadrados de área comercial dedicada essencialmente à venda de produtos de mercearia). Este estacionamento privado será aberto num terreno privado a mais de um quilómetro de distância, feito a pé, do Largo da Portagem.
Importa então questionar se esta obra irá pôr em causa a viabilidade do pequeno comércio da Baixa.
Ora, uma tendência recente do comércio de mercearia a retalho é a proliferação de pequenas e médias superfícies ditas "de proximidade", em detrimento das grandes superfícies a que chamamos hipermercados. Os habitantes citadinos começam a preferir fazer pequenas compras quase quotidianamente em pequenas lojas do que comprar grandes cabazes em extenuantes visitas quinzenais a hipermercados. Ao mesmo tempo, preferem comprar no bairro onde residem: a mercearia serve a rua, o supermercado o bairro, o hipermercado as grandes aglomerações suburbanas onde não há comércio local. É nesse contexto que surgiu este pedido de licenciamento.
Sob este ponto de vista, as mercearias tradicionais da Baixa não competem com os supermercados da margem esquerda do Mondego; quando muito sofrem competição de médias superfícies já existentes junto à Estação Nova e à Rua da Sofia — e mesmo assim as preferências dos consumidores afastam-se cada vez mais destas últimas, e aproximam-se das primeiras. A vantagem de uma mercearia é, do ponto de vista do cliente, o ser acessível a pé a partir de sua própria casa; por isso, o futuro das mercearias da Baixa é tornar repovoar este bairro hoje em dia quase desabitado.
O meu amigo António Luis afirma ainda que a abertura deste novo estacionamento privado, somada ao encerramento do estacionamento gratuito do Terreiro da Erva, irá retirar ainda mais clientes ao comércio da Baixa da cidade. Quanto a isto, devemos ter em conta que a reabilitação do dito terreiro visa torná-lo mais atractivo a visitas. Pela mesma ordem de ideias, o Terreiro do Paço deveria ter continuado a servir de parque de estacionamento para fomentar o comércio na Baixa de Lisboa…
Estamos de acordo que o comércio da Baixa e Coimbra precisa de ser estimulado, e para isso necessita de estacionamento barato para os visitantes e gratuito para os residentes. Mas para atingir esse objectivo é contraproducente manter o Terreiro da Erva na condição em que se encontrava, e é inconsequente proibir a criação de estacionamentos privados a mais de um quilómetro de distância. Por isso a luta dos Cidadãos por Coimbra tem passado por, entre outras coisas, propor ao executivo a criação de uma Agência Municipal de Arrendamento que propicie habitação acessível no centro histórico da cidade, reabilitando e reabitando os inúmeros prédios que na Baixa não têm outra utilização senão o comércio a retalho no rés-do-chão, enquanto os restantes apartamentos permanecem desertos.
Qual será, afinal de contas, a maior causa de problemas para o comércio da Baixa? A falta de estacionamento ou a falta de povoamento?
Amigo Luís quem o não conhecer até é capaz de pensar «este tipo nunca está contente com nada» ou «este gajo é chato e tem memória de elefante».Talvez por causa da sua «memória» e por ser,como dizem alguns «politicos»,politicamente incorrecto, é que tem perdido alguns amigos ou,se quiser,para ser mais positivo,tem ganho mais uns inimigos(outrora amigos do peito).
Isto para dizer o quê? Para dizer que as pessoas no geral não estão habituadas a ser questionadas,nem a ser lembradas do que disseram no passado em relação a certos assuntos.Os «politicos profissionais» desta cidade então nem pensar em os criticar ou pedir explicações,é meio caminho andado para arranjar um inimigo.E não sei porquê parece-me que são estes os mais «esquecidos» do que disseram e ads suas opiniões acerca de assuntos por vezes fracturantes para a cidade,e o mais grave é que foram as afirmações que entretanto «esqueceram» que lhes deram votos e por consequência lugares em assembleias,pelouros,instituições publicas,etc.
Só este motivo era mais do que suficiente para se poder questioná-los,mas quem o faz(ai Luís,Luís...)está sujeito a receber alguns epitetos,represálias ou de algum modo a ser censurado,por exemplo,na comunicação social regional.Ou,mais grave,a ser ignorado/boicotado em locais publicos,seja em reuniões de câmara,de associações,etc
Um abraço,Luís.
Marco,Coimbra
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