sábado, 19 de março de 2016

CÂMARA DE COSTAS VOLTADAS PARA A SUA PADROEIRA




TEXTO ESCRITO A QUATRO MÃOS.
POR MÁRCIO RAMOS E LUÍS FERNANDES


Para muitos, 15 de Abril é uma data como outra qualquer. Seria assim, vulgar, não fosse o caso deste ano se comemorar o 5.º centenário da beatificação da Padroeira de Coimbra, Rainha Santa Isabel. E também que, pela ocasião especial, se pode admirar a sua mão praticamente intacta.
Quer sejamos hereges, não crentes, e não valorizemos os atribuídos milagres, quer, pelo contrário, se acredite na sua santidade, há duas coisas que não podemos ignorar: a primeira, é que, segundo a história, a rainha piedosa beatificada em 1516 e canonizada em 1742, ajudou muito os pobres. Reza a lenda que foi ao tentar auxiliar os mais desfavorecidos que aconteceu o milagre das rosas.
A segunda é que Santa Isabel, nascida em Saragoça, Espanha, em 1271, e falecida em Estremoz em 1336, como rainha consorte e a par com seu marido D. Dinis, contribuiu para desenvolver a Nação, nomeadamente entre vários decretos, com a criação da primeira Universidade portuguesa, em Lisboa, em 1290. Depois transferida para Coimbra em 1308 viria novamente a voltar à capital do Reino e em 1537 seria instalada definitivamente na cidade dos estudantes.
No seu testamento escolheu como sua última morada esta bela cidade de Coimbra. Foi sepultada no Convento de Santa Clara-a-Velha, mas o rio,  o sempre rebelde bazófias, como provocação, teimava em visitar muitas vezes o seu túmulo, tantas que a catedral começou a ficar parcialmente submergida. Em consequência, foi construída uma nova igreja, digna de uma rainha santa e uma das mais belas igrejas  do país. No seu interior repousam os seus restos mortais, o seu corpo,  num sepulcro revestido a prata. É reverenciada em Coimbra, como sua padroeira, em 4 de Julho coincidindo com o feriado municipal de Dia da Cidade.

UMA CIDADE ALHEIA AO MILAGRE TURÍSTICO

Coimbra não tem valorizado suficientemente o espectro de santidade da rainha. É uma riqueza hagiográfica, sobre os mártires considerados santos, que não tem sido explorada devidamente. Quer a Diocese, quer a Câmara Municipal pouco têm feito para rentabilizar a riqueza que detém no seu seio. Comemorar através de uma procissão de dois em dois anos, nos anos pares, é residual, é pouquíssimo e mostra uma cidade de pouca ambição. No mínimo, por que não se realiza esta festa sacra e profana todos os anos?
Pela história da Rainha Santa, se fosse devidamente valorizada, a Lusa Atenas poderia perfeitamente competir com Fátima no turismo religioso.
Especulando, tentamos adivinhar que, sobretudo, por parte da Diocese de Coimbra o mais provável é argumentar que a Igreja, enquanto instituição de fé credível, não contribui para espalhar a crendice popular. Já por parte da edilidade, se respondesse –o que não acreditamos- diria que não se mete em questões religiosas já que o país é laico. Salvo melhor opinião, duas posições que se fossem verdadeiras, pela apatia cómoda de pouco fazer, dão muito jeito.
Em complemento, lembramos aqui umas declarações de Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, ao Diário as Beiras em 2014, em que defendia que “a criação dos “Caminhos da Rainha Santa” tem “toda a pertinência” e diz acreditar que o próximo quadro comunitário pode contribuir para a dinamização do projeto”. Ou seja, defende-se a exploração turística do acessório e não se defende o essencial –que é o turismo na cidade em volta da “marca” Rainha Santa.

E NÃO VAI NADA?

Mas voltemos à comemoração dos quinhentos anos da beatificação da Rainha Santa e que se vai realizar no próximo dia 15 de abril.   Para além de iniciativas promovidas pela Confraria da Rainha Santa e em associação com o Museu Machado de Castro, ouviu-se falar em mais alguma acção, sobretudo, promovida pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC)? Como munícipes interrogamos: mas este não é o papel -dando ênfase a tudo o que localmente mereça relevo- que cabe por inteiro ao pelouro da Cultura, da CMC?
Dá Deus nós a quem não tem dentes”, poderia ser este o mote para explicar a imobilidade camarária. Até parece que 500 anos são quinhentos dias! Em vez da efeméride ser festejada com solenidade, pompa e circunstância, quem o deveria fazer, a bem da Baixa, da Alta e toda a cidade, encolhe-se e trata a comemoração envergonhadamente, com quase desprezo, pelo silêncio de provocação, como se nada se passasse.
Não fosse a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, pedir o envolvimento dos comerciantes para enfeitar as montras e, provavelmente, os turistas que nos visitam na quadra nem se aperceberiam do acontecimento.
No mínimo, para não escrever mais nada, é lamentável! Claro que não é nada que já não estejamos habituados. Talvez por isso poucos notem a lassidão.

1 comentário:

Luís Alberto Meneses Almeida disse...

Eu sou conimbricense e fiz os meus estudos em Coimbra desde a escola primária até aos estudos no ensino superior,mais concretamente na faculdade de Ciências e Tecnologia de Coimbra. O facto da Câmara Municipal de Coimbra pela voz do seu Departamento ou Pelouro da Cultura estar indiferente às comemorações da beatificação da Rainha Santa Isabel que por informação é a padroeira da cidade
deixa-me de boca aberta por ser tão execrável. Estamos num ambiente e num cidade que tem a mais alta concentração por quilómetro quadrado, de diplomados por cursos superiores, que talvez seja a maior de Portugal.