Quase a passar despercebido, na última página do
Diário as Beiras de hoje, o título é devastador: “ACIC não conseguiu cumprir plano e tribunal já decretou a insolvência.”
Prosseguindo o texto assinado
pelo jornalista Paulo Marques, “A ACIC -Associação
Comercial e Industrial de Coimbra não conseguiu cumprir o plano de insolvência,
decretado pelo tribunal. A “culpa” é da burocracia: apesar de todos os esforços
–que incluíram disponibilidade para avales pessoais de directores-, não foi
possível registar o prédio do Alto da Relvinha para proceder à sua dação à
Caixa de Crédito Agrícola Mútuo, conforme constava no plano.
Em causa está a ausência de licença de utilização do referido prédio –que
data da década de 1950 e acolheu, antes da ACIC, as instalações fabris da
Termec. Segundo apurou o Diário as Beiras, de nada valeram as diligências junto
da Câmara Municipal de Coimbra, por um lado, e de praticamente todos os cartórios
notariais do país. Sem licença não houve registo. Ora, sem registo não foi
possível cumprir o estipulado no plano de insolvência da centenária associação
(foi fundada em 1863). (…) Com essa entrega, a ACIC garantiria a liquidação da
dívida à Caixa Agrícola e, ao mesmo tempo, esta concedia-lhe um empréstimo de
200 mil euros –verba destinada a pagamentos previstos no plano, nomeadamente,
aos mais de três dezenas de trabalhadores e ex-trabalhadores. (…)”
VERGONHA VERSUS ESCÂNDALO/
UM PROBLEMA POLÍTICO
Como ressalva, começo por dizer que, sobre
este processo, sei apenas o que li no Diário as Beiras. O que, sendo justo, é
limitativo e, pela falta de informação, tenho de ter algum cuidado nos juízos
de valor. Vou tentar conter-me. Lembro também que em finais de 2014 foi homologado pelo tribunal um plano de insolvência para a ACIC.
Em face das notícias vindas agora a público,
uma ilação poderemos extrair: a posição da Câmara Municipal de Coimbra de,
aparente, não envolvimento na resolução deste problema é um escândalo. Uma
Câmara Municipal que, numa apatia de deixa–correr,
deixa ir para a falência uma instituição com 153 anos de existência, de
história viva e de construção e desenvolvimento de uma cidade, e nada faz só
pode merecer por parte dos seus concidadãos –dos poucos que se interessam- um
enorme desprezo. É preciso dizer olhos-nos-olhos, sobretudo aos responsáveis
que lavaram as mãos deste processo de insolvência e nada fizeram, abertamente: vocês não prestam! São uma nulidade, como políticos, como conimbricenses,
como homens!
A autarquia conimbricense esteve sempre de
costas voltadas para a ACIC -com maior incidência até 2001, no tempo do anterior
mandato de Manuel Machado e agora novamente presidente, e depois também já no
curso de Carlos Encarnação. Foi por esta manifesta exclusão que a CIC, Feira
Industrial de Coimbra, acabou. Os presidentes que até agora passaram pela
cadeira do poder da Praça 8 de Maio, quando deveriam ver na ACIC uma forte
aliada, viram sempre aquela prestigiada associação como uma ameaça ao seu
poderzinho mesquinho. Como até agora, o que temos tido são governantes na
cidade apenas para preencher um lugar político e partidário, dá para perceber o
que está acontecer. Não temos nem nunca tivemos estadistas, homens de tomates
pretos capazes de se desligarem dos seus interesses pessoais e elevarem a causa
pública como um prius, o elemento
preferencial de um comportamento ético.
E HÁ MAIS CULPADOS?
A história recente da ACIC, sobretudo nos
últimos 18 anos, é um exemplo vivo de pura destruição de património material e
imaterial. Pela busca desmesurada de poder pessoal mandou-se para o charco uma
instituição que deveria merecer o respeito de toda uma cidade.
Para que tudo fique mais claro, fiz parte da
direcção da ACIC desde 1998 até 2003 –altura em que, pelos indícios de maus
negócios que estavam a acontecer na vetusta instituição, depois de chamar a
atenção dos colegas da direcção e estes nada fazerem e deixarem correr, fui obrigado a abandonar
o barco. Se houver dúvidas, consulte-se as actas. Está lá tudo! Foi esta mesma
direcção que, num dobrar de espinha incompreensível, fechou os olhos a alguns
desmandos notórios, declarados e que eram visíveis a olho nu. Moralmente também
são culpados no féretro que estamos a assistir para indignação dos que se
dignarem agora verterem uma lágrima pela história da ACIC. Já plasmei muito sobre o “enterro”
da ACIC. Para se perceber melhor, deixo apenas este texto que escrevi em 2010: “Comércio: O alho e o reviralho”.
Uma enormíssima lágrima de saudade! Onde
estiver o espírito de Castro Matoso, mais que certo, deve estar a revolver-se na tumba para
tanta mediocridade e irresponsabilidade colectiva. Valha-nos Deus! Coimbra não merecia!
TEXTO RELACIONADO
"EDITORIAL: QUE CIDADE TEMOS? QUE CIDADE QUEREMOS? O QUE ESTAMOS DISPOSTOS A FAZER POR ELA?"
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