(Imagem da Web)
Meu caro Marcelo Rebelo de Sousa, por
inerência Presidente da República, já que intimamente ligados, escrevo esta
carta a Vossa Excelência sobretudo para o saudar -de pé, que foi assim que me
ensinaram na antiga escola primária. Se não levar a mal, penso que não,
vamo-nos tratar com a tal informalidade e quebra de protocolo que tanto defende.
Assim sendo, vamo-nos tratar por tu –afinal somos colegas do mesmo ofício, tu
és o presidente de Portugal e eu presido aos destinos do meu largo. Para além
disso, somos quase da mesma idade, levas-me de avanço oito anos. Felizmente
para mim, já que sou mais novo. Como se vê, salvo pequenos detalhes, entre
aqueles e outros, como por exemplo, o de seres católico militante e eu
agnóstico e teres sido eleito por sufrágio universal e eu não, é praticamente a
mesma coisa.
Começo com uma salvaguarda de interesses e uma
retratação. Como ressalva, é para te dizer, camarada, que não votei em ti não
porque pensasse que não eras o melhor de todos e o mais indicado para
supervisionar o tristonho e anémico estado da Nação, mas porque achei que, para não parecer
que era um passeio para limpar o traseiro aos meninos, deverias ir à segunda
volta eleitoral.
Como retratação, desculpa não ter
ido ao banquete que ofereceste a grandes personalidades (como eu, obviamente)
mas, se é certo que não fui convidado, também não andava muito bem dos
intestinos. Pelos dois motivos, achei melhor não comparecer.
Depois destas emendas vou prosseguir. Acredita,
meu, estou a seguir as tuas passadas
atentamente. Gostei de te ver no Bairro do Cerco, no Porto, cercado pela plebe.
Ainda estive tentado a dar-te um abraço mas deixei esta manifestação de afecto –que
tanto gostas de citar- para os mais necessitados. Há muito tempo que não via
uma coisa assim: a mais recuada, desde 1959, com Humberto Delgado, e a mais
recente, em 1995, com António Guterres. Mas, companheiro, não posso deixar de estar preocupado
contigo. Repara o que aconteceu aos dois: ao Delgado limparam-lhe o sarampo e o
Guterres teve de emigrar e, como refugiado, pedir protecção às Nações Unidas.
Entendo que, recorrendo às ocorrências históricas, deves precaver-te. Olha como crucificaram Jesus Cristo –e nas nossas veias também corre sangue judaico.
Por outro lado, toma atenção, estamos numa terra de invejosos, pedinchas e mal-agradecidos.
Talvez não te apercebas mas, apesar de acólito praticante, podes ser um foco
permanente de conflitos com a Igreja Católica.
A nível nacional, algo me diz que o mais alto
magistério eclesiástico de Fátima já está a torcer o nariz à tua notoriedade.
Tenho de concordar. É de prever que já no próximo 13 de Maio dois terços dos
autocarros carregados com peregrinos, e que seriam destinados à cidade dos
pastorinhos, sejam desviados para Belém. Como teu amigo, aconselho-te algum
afastamento e não te envolvas com os padres. Se permites a sugestão até é fácil
de solucionar: para além de um velário, colocas vários recipientes, tipo caixas
de esmolas, aí no palácio para as pessoas depositarem os pedidos de milagres.
A nível internacional, mais que certo, vais
ter problemas com o Vaticano. Na tua imaculada candura, não te dás conta que em
popularidade mundial estás a rivalizar com o Papa Francisco. Foi uma boa
decisão teres escolhido a Santa Sé como primeira visita. Recomendo-te que
trates o Francisco com espontaneidade, assim tu cá, tu lá. Se há alguém que
pode temer a tua aura de poder intemporal e celebridade é ele!
Já a tua decisão de escolheres a França para
comemorar o Dia de Portugal, aiópá!?!
Passaste-te ó quê? Fazes-me lembrar
aqui o nosso colega, o governador do burgo, que para fazer publicidade ao
queijo a uma terra vizinha de montanha permitiu a invasão de um rebanho de
ovelhas na cidade universitária. Desculpa lá a opinião mas, como ele, estás a
ser parolo. Está de ver que não foste assessorado como deveria ser e só esta justificação
explica este deslize pouco inteligente e falta de finura –bem sei que estás a
necessitar de um “senior” para o
gabinete de imprensa da presidência da República. Se precisares cá do rapaz para te ajudar nas intrincadas
dúvidas é só dizeres. Tudo a bem da Nação, está de ver!
Continuando, como sei que não vais recuar na
comemoração do nosso grande dia pátrio em terras gaulesas, já agora, procura
também tranquilizar a instituição religiosa local e deixares bem vincado que
não desviarás peregrinos de Nossa Senhora de Lurdes. E também para te lembrar –aponta
aí-, já que estás em terras de Astérix, de uma grande cajadada matas dois cães,
salvo seja. Então é assim, no próximo Dia de Portugal, celebrado em França, condecoras
o Tony Carreira com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. E fazes mais,
nas tuas futuras homilias passas a substituir as pautas sacras e enfadonhas
pelas músicas do nosso grande cantante português. Não caias na asneira de fazer
o mesmo que o Costa –o nosso colega das lides governamentais-, de ir a um
concerto do autor de “Porque é que Vens?”
Para terminar, meu, gostava de te dizer que bem lixaste os gajos do teu partido, o PSD –ou, se calhar, eles já desconfiavam que tu nunca foste de direita e,
por isso mesmo, não foram muito claros no apoio à tua eleição. Ou se alguma vez
foste conservador teria sido somente no acto de nascimento. A partir de aí –e fazendo
o percurso ao contrário do “Zé Manel”
Barroso- foste sempre evoluindo até chegares a comunista, camarada.
Recebe um grande abraço cá do teu admirador e,
se Deus Nosso Senhor quiser, prometo que de aqui a cinco anos, na repetição da posse,
não falharei à festa.
Qualquer coisinha, já sabes: é só
pedir.
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