(Foto do Diário as Beiras)
Meu caro Luís Quintans:
Li com atenção a “carta aberta” que me dirigiu e a que só agora respondo devido a
ausência de Coimbra e a múltiplos afazeres profissionais.
Como cidadão e um dos
responsáveis do CPC, Cidadãos por Coimbra, conheço bem a sua dedicação à causa
pública e a frontalidade com que expressa os seus pontos de vista. O que numa
cidade em que se debate e polemiza tão pouco não pode senão ser louvável.
Dito isto, não posso deixar de
lhe dizer, meu caro amigo, que fico preocupado com o balanço que faz da
atividade do CPC na Câmara Municipal, sobretudo, quando diz que “(…) é mais do mesmo”. Com a mesma frontalidade com que se expressa
permita que lhe diga que entendo estar profundamente errado, por várias razões:
Nunca antes, ao que me lembro, uma força
política, sem pelouro atribuído, colocou na ordem do dia tantos assuntos,
fazendo as correspondentes propostas: acessibilidades a Coimbra (A13, Coimbra B
e Terminal Rodoviário); mobilidade interna com destaque para o metro (com a
promoção de um amplo abaixo assinado que colheu mais de 5000 assinaturas) e
para o estado decadente dos SMTUC que perdem passageiros a cada dia; património
classificado pela UNESCO que, quase três anos depois, continua ignorado, sem
ter sequer sinalética adequada; requalificação e reabilitação do centro,
questionando o papel da SRU deixada totalmente ao abandono durante largos anos;
ligação da cidade ao rio para fruição deste; Terreiro da Erva, Rua da Sofia,
Pátio da Inquisição, Jardins do Mondego e alargamento do Parque Verde;
estacionamento caótico nos CHUC; etc, etc, etc.;
Propusemos que diversos assuntos fossem objeto
de ampla discussão pública, mesmo para além daqueles em que a discussão resultou
de imperativo legal, organizámos debates, mobilizámos cidadãos e convidámos
técnicos qualificados para ajudarem a reflexão: destaco o Terreiro da Erva que
permitiu elaborar uma proposta que, a ser aprovada, teria enormes benefícios
para a cidade e o Regulamento das Águas, em que apresentámos uma proposta,
quando mais ninguém o fez;
Batemo-nos na CMC pela democracia, pelo
respeito do direito da oposição, pelo agendamento das propostas que
apresentamos, contra sistemáticos ajustes diretos, (por regra, a favor de
amigos ou correligionários do partido no poder), contra a nomeação para a
Empresa Águas de Coimbra de uma pessoa cuja única qualidade para o cargo era a
de ser líder distrital do PS (como já o anterior era líder distrital do PSD). E
sinceramente custa-me ouvi-lo dizer que “é
chover no molhado” ou “é pouco e não
serve de analgésico” porque no CPC estamos profundamente convictos que sem
democracia, sem transparência, sem um combate intenso ao nepotismo, não há
desenvolvimento económico e social.
Deixe-me agora abordar especificamente a
questão dos horários dos estabelecimentos. Não sei onde o meu prezado amigo foi
buscar a ideia de que “(…) o CPC defendeu o alargamento de abertura dos
estabelecimentos pela madrugada dentro ao arrepio do harmónico e legítimo
interesse dos moradores”. Não, caro Luís Quintans, o que defendemos não foi
nada disso. Ao contrário: foi o CPC que, na Câmara e na opinião pública,
primeiro levantou a questão dos horários sem limites que se praticavam em
várias áreas da cidade. Visitámo-las. Organizámos três debates com moradores,
com técnicos, com o Presidente da AAC e com os poucos comerciantes que acederam
a participar, apesar de todos e suas respectivas associações terem sido
convidados. Elaborámos uma proposta global alternativa ao Regulamento que foi
posto em discussão, tendo presentes três preocupações essenciais: a salvaguarda
do direito ao repouso dos moradores; o estabelecimento de regras em função da
classificação económica da atividade (CAE), como forma de gerar igualdade e
combater a concorrência desleal; e, finalmente, a requalificação dos
estabelecimentos de modo a proporcionar boas condições e qualidade adequada aos
clientes, sobretudo jovens. Mau grado o documento final ter absorvido muitas
das nossas propostas, que a melhoraram substancialmente, alguns aspetos, entre
os quais o seu restrito âmbito territorial de aplicação, como se houvesse
cidadãos que têm direito ao repouso e outros não, votámos contra.
No que respeita à chamada “via central” penso que a posição do CPC
é muito clara e bem fundamentada, não sendo eu capaz de dizer mais do que o
arquiteto José António Bandeirinha já disse. Para debater esse tema, fica desde
já convidado a participar no debate que vamos organizar no próximo dia 30 de
março, pelas 21h, no Rancho de Coimbra, com a participação de José António
Bandeirinha, Tiago Castela e Vítor Marques.
Quanto à votação do aumento de estacionamentos
para uma superfície comercial a instalar na margem esquerda, o Pedro Bingre do
Amaral já explicou, com clareza, as razões do seu voto enquanto vereador em
representação do CPC, não havendo, em minha opinião, nada mais a dizer.
E para terminar vou então responder à primeira
questão que coloca na sua carta aberta: “(…)
a posição do movimento Cidadãos Por Coimbra (CPC) perante o necessário
equilíbrio das forças económicas no desenvolvimento da cidade”. E a
resposta, em coerência com a visão que temos da cidade e do seu
desenvolvimento, é que o isolamento a que os sucessivos governos autárquicos do
PS e do PSD deixaram chegar a cidade é o principal responsável pelo atual
estado decadente. Por isso, levantámos a voz perante os estudos territoriais da
Gulbenkian, coordenados por Félix Ribeiro, que consolidam a tendência para
Aveiro ficar com o Norte e Leiria com Lisboa, quando todas as demais forças
políticas ficaram caladas; por isso, também, denunciámos o abandono a que o IPARQ
tem sido votado pela atual maioria camarária, não permitindo o seu
desenvolvimento com a instalação de empresas tecnológicas, que podem dar
emprego qualificado e assegurara permanência de jovens famílias na cidade; do
mesmo modo, batemo-nos contra a degradação dos parques empresariais; por isso
também, damos especial importância à requalificação do centro, com o retorno de
moradores, condição absolutamente essencial à revitalização do comércio local,
cujas dificuldades e carências bem conhecemos e com que somos ativamente
solidários. Mas a não ser que recorrêssemos à demagogia, conhecemos bem os
limites da nossa intervenção.
Creia que foi um prazer poder responder à sua
“carta aberta“ e que estarei sempre
disponível a debater consigo as coisas da nossa cidade.
Cordiais saudações cidadãs
José Augusto Ferreira da Silva
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