Escrevo-te esta carta, Manel –espero que não te abespinhes por te tratar por tu mas como
sabes, segundo o evangelho de Marcelo, agora é assim-, caro e futuro amigo lá para as calendas –embora
ache que o tempo urge, as eleições estão quase à porta e se não fazemos as pazes,
já vi, não me vais dar o lugarzito de adjunto em substituição do nosso amigo
que já foi- para te informar que a rampa das Escadas do Gato já foram
arranjadas hoje. Depois de 50 dias da primeira comunicação e treze da segunda e dois feridos
transportados em ambulância para o hospital, finalmente a pedra lisa, tão lisa
como os meus bolsos de tanto catar, já está lá a fazer cócegas na sola dos pés a quem se roçar nela.
Escrevo-te esta missiva, Manel, meu caro
colega das lides cidadãs –tu geres a cidade e eu administro a minha casa, o
que, na comparação, é praticamente a mesma coisa- para te lembrar sobre um
procedimento que devia acontecer e não acontece. Sabes o que é, pá?! É o
seguinte, responde-me se quiseres: uma pessoa que envia um e-mail aos serviços
camarários a dar conta de uma determinada situação que pode redundar em
tragédia para qualquer munícipe não merece uma simples resposta do departamento
correspondente? Repara que não estou a reivindicar loas ou agradecimentos. O
que quero dizer é que os serviços administrativos que encontraste, retirando as
chefias, salvo pequenas alterações pontuais, são constituídos pelos mesmos funcionários
do Anciem Regime, dos monárquicos Carlos Encarnação e João Paulo (II) Barbosa de Melo. Ora até há cerca de três anos, quando ocupaste o lugar de capitão, quase sempre
que eu enviava uma informação de ocorrência recebia na volta do correio uma
comunicação assim do género: “A sua
informação deu entrada nos serviços com o número xpto. Tão breve quanto
possível, daremos andamento à sua reclamação. Agradecemos a colaboração,
sobretudo, por nos ajudar a servir melhor o cidadão.”
Espero estar a ser claro, camarada. Desde que
entraste no palácio presidencial o silêncio passou a ser uma constante. Nem xus nem bus! Não sei se estás acompanhar o meu raciocínio, Manel, mas esta
falta de resposta (dis)funcional transforma-me numa espécie de informador
clandestino, subversivo e perigoso. Não vou alegar falta de respeito, que isso não é para nós, mas que
chateia, chateia! Repara o que aconteceu com o vidro da montra das ex-Galerias
Coimbra. Tive de te mandar uma carta com aviso de recepção para resolver o
problema. No dia seguinte ao envio da missiva com conhecimento arranjaram a coisa.
Diz-me, sinceramente, pá: é preciso esticar a corda assim? Porquê? Não sei se
estás a ver, até parece que estou em guerra aberta contigo! –pelo contrário,
como já percebeste, só quero ser teu amigo –não penses que é por ser interesseiro,
nada disso! Só quero mesmo servir a causa pública! Por conseguinte, nada melhor
do que o tal lugarzito que vai ficar vago de aqui pouco mais de um ano.
Não te vou maçar mais com externalidades- este
termo foi intencional já que és das economias. Fica bem e não precisas de
responder, mas confesso que gostava que alterasses a forma de procedimento dos
serviços.
Recebe um abraço assim tipo de “olhar no burro e outro no cigano” –desculpa
lá a metáfora mas ainda não ganhaste a minha confiança política. Se precisares da minha
ajuda é só assobiares.
(TEXTO ENVIADO, PARA
CONHECIMENTO, À CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)
1 comentário:
Assim, está bem! Só quem é verdadeiramente amigo, do amigo e dos conterrâneos, se entrega desta forma!
Abraço,
Linda
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