Neste fim-de-semana, a nossa querida colega
Maria de Fátima Almeida Santos, de 50 anos de idade, proprietária da loja Tico
& Teco, na Rua Eduardo Coelho, foi acometida de um súbito AVC, Acidente
Vascular Cerebral. Transportada de imediato para o hospital, onde se encontra a
recuperar, tanto quanto consegui saber, felizmente, para além do susto, não
houve sequelas graves.
Há cerca de um ano atrás também a sua vizinha
Isabel Leão, dona do estabelecimento ao lado foi acometida de um AVC. Como foi
também imediatamente assistida, passando o sobressalto, para sua felicidade e de
todos, recuperou bem e hoje lá se encontra na sua casa comercial a lutar
diariamente para, como qualquer um de nós, conseguir andar de cabeça erguida.
Porque acompanho diariamente por
dentro o negócio no comércio tradicional, já escrevi muitos textos a pedir
ajuda para a saúde dos profissionais de balcão. Pelo desânimo manifestado em rostos
tristes de tantos, estava convencido que, sobretudo era necessário apoio psicológico. Já vi que, como soldados que se habituam à solidão e ao silêncio pessimista
das nuvens negras, esse estado apático já foi ultrapassado –provavelmente com
recurso a fármacos para conseguir aguentar o stresse de guerra- e agora é o
corpo, o físico, que se manifesta contra a forma de o tropear no descanso
necessário e essencial.
Se há coisas que embirro e me faz sair do
sério é o estado de desamparo a que os comerciantes estão expostos. É uma
classe completamente abandonada pelo poder político. Sempre que escrevo sobre
isto, sinto vergonha –repito, sinto vergonha- de ser representado por deputados, vereadores ou outros, que, maioritariamente, tiveram familiares ligados ao comércio e foi através
deste instrumento de labor que conseguiram atingir o patamar de notoriedade em
que se encontram. Desde a esquerda à direita, num inconcebível ostracismo,
desprezam e fazem orelhas moucas para a miséria que alastra entre estes
trabalhadores que, ao longo da vida, deram tudo. Se é certo um egoísmo legítimo
-afinal como todos, sejamos artistas ou trabalhadores comuns-, é também certo
que deram tudo para desenvolver as áreas em que sempre estiveram inseridos. As
cidades, vilas e aldeias, revitalizaram-se sempre à custa da iniciativa privada.
O comércio é o motor central de um país. Basta olhar para o interior, quando o
comércio fenece morre tudo em redor.
Sobretudo os mais velhos, nascidos nas décadas
de 1950/60/70, começaram a trabalhar mal saíram da então escola primária e
hoje, com 60/70 anos, os que ainda vão resistindo, continuam agarrados ao
balcão como se este fosse a sua bengala existencial. Outros, e milhares, devido
à conjuntura económica, faliram e estão nas malhas da indigência.
Não tenho dúvida em classificar este abandono dos
comerciantes pela classe política como um problema ideológico. Os criadores de
riqueza estiveram sempre associados e foram sempre mal-vistos e classificados por
todos como chupistas. Os negociantes, sobretudo depois do 25 de Abril de 1974,
foram sempre considerados intermediários parasitários. Lembro-me, nessa altura,
de haver um slogan do Partido Comunista a tentar mandar abaixo os
intermediários –e aqui, neste continuum,
considero a esquerda ideológica mais dissimulada e mal formada que a direita.
Em continuada hipocrisia latente,
os políticos sempre se colaram ao êxito dos bem-sucedidos, chegando, muitas
vezes, a ancorar-se na conta bancária de alguns para atingir os seus objectivos.
Se o investidor, mesmo que seja um tirano aproveitador dos mais frágeis, for um
vencedor, é de ver os candidatos ao poder a engolir sapos vivos.
Numa falta de reconhecimento
visível e que mostra bem o íntimo de muitos, estranhamente ou talvez não,
quando algum empresário cai em desgraça é imediatamente esquecido por esta gente
insensível sentada no Parlamento da Nação –desafio os ofendidos a virem a
terreiro defenderem-se e mostrar aos cidadãos que os elegeram que são
diferentes da maioria.
Ainda há dias passou um programa na televisão SIC
a mostrar o estado de desleixo psíquico e o número de suicídios decorrentes na
PSP. É óbvio que nos deve preocupar a todos, mas pergunto: quantos comerciantes
se suicidaram nos últimos cinco anos? Em Coimbra foram demasiados. E alguém se
importa? É curioso que nem os próprios interessados pedem ajuda. Deixam-se
morrer entediados na solidão das suas vidas atribuladas. Ninguém se importa precisamente
porque estes profissionais praticamente não têm ninguém a representá-los. São uma espécie de
párias, errantes, desprotegidos e abandonados à sua sorte, que há muito
perderam a capacidade de reivindicar seja lá o que for. Felizmente, e aqui fica o agradecimento, às vezes consegue-se chegar à televisão pública mas e depois? Depois é o esquecimento.
Voltando ao assunto que me levou a escrever
esta crónica, espero e desejo ardentemente que a nossa querida colega e grande
amiga Fátima Santos recupere depressa. É uma lutadora que conheço bem e, por
isso mesmo, sei que vai fazer tudo para rapidamente retornar ao nosso meio.
Estamos à sua espera, Fátima! Para além de, todos sem excepção, gostarmos muito
de si a Rua Eduardo Coelho precisa da sua luz. Até breve!
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