TEXTO ESCRITO A QUATRO MÃOS.
Por Márcio Ramos e Luís Fernandes
Ainda estamos no Inverno. A Primavera
espreita na vidraça e levemente bate à nossa porta. A luminosidade vence a
escuridão e, consequentemente, temos mais luz natural. Os dias alongam-se
pelas noites adentro. O Sol estende os seus raios e com eles abraça-nos com
calor. Se bem que, previsivelmente, ainda voltemos a ser borrifados com alguma
chuva e o frio nos belisque ao romper das manhãs e ao cair das tardes, uma coisa
temos certa: caminhamos a passos largos para receber o Verão. Esta estação do
ano é luz, vida, cor, imaginação, liberdade.
O Verão
é a época alta na cidade. Curiosamente, a urbe transfigura-se e torna-se num
catalisador –reduz a energia interna e aumenta a sua velocidade de reação sem,
contudo, participar nela. Diminui a sua velocidade interna pela saída dos seus
naturais para vários destinos, entre estes as praias, mas, pela vinda de
turistas estrangeiros, em compensação, aumenta a sua velocidade de reação sem participar
nela –por não fazer grande coisa pela riqueza que lhe cai no regaço.
A urbe, pelo fluxo de turistas estrangeiros
que nos invade e que vem compensar o seu esvaziamento de nativos, mexe-se e
reme-se nos interstícios negociais, pelo menos para os comerciantes que, como
formigas, tentam facturar o máximo para assegurar o ano todo. Acima de tudo direccionada
para quem nos visita, há maior animação nos cantos e recantos e praças. A
tristeza endémica que nos invade nos meses cinzentos, sobretudo entre Novembro
e Fevereiro, dá lugar à música, à alegria, e o desertificado transforma-se em
vivificado e a falar vários idiomas do mundo inteiro.
Então, voltando atrás, se os conimbricenses
largam a sua terra e partem em busca de emoções novas, mais que certo, é porque
a cidade não lhes oferece o que precisam para preencher os seus anseios.
E
para evitar quer saiam poderemos completar os seus desejos? Se calhar podemos.
Quando
eu era novo o Mondego tinha ilhas de areia e mantos de água à sua volta –sei que
na década de 1940 durante cerca de cinco anos existiu mesmo uma praia fluvial
com estruturas em madeira e serviços de apoio.
Segundo
a imprensa noticiou, o desassoreamento do rio já foi aprovado entre o
Ministério do Ambiente e a Câmara Municipal. Ora, aproveitando as obras de
dragagem das areias, por que não investir numa moderna praia fluvial em frente
ao Choupalinho –que foi a área de localização em 1940? A cidade virava-se para
o rio, já que, desde a construção da Ponte Açude em 1980, a população citadina
abandonou e esqueceu o seu amigo bazófias. Verdadeiramente, só o recorda e toca
nas suas águas quando o Mondego submerge as suas margens e invade tudo em redor
–como aconteceu há cerca de um mês.
Ainda
no campo da animação para manter cá dentro os que vão para fora cansados da rotina
de uma urbe sempre igual, por que não criar uma festa identificativa de marca?
Poderia até ser um festival musical do género Sunset, que se realiza na Figueira
da Foz. Ou tentando ir mais longe, por que não (re)criar uma feira de artes e
ofícios tradicionais durante uma semana em todas as ruas da Baixa e bem ao
jeito de Oliveira de Azeméis, que se realiza em finais de Maio e em que são mostradas todas as profissões em
extinção?
Talvez
valha a pena pensar? O que lhe parece?
1 comentário:
Senhor Luís Fernandes, um festival musical do género Sunset, acho bem. Artes e ofícios tradicionais, já não sei. É que Coimbra não é Oliveira de Azeméis. Mas, se for assim, até podíamos recriar os tempos em que os rebanhos de ovelhas atravessavam o largo de Sansão em direcção ao mercado, para abate, conduzidos por pastores castiços de barrete (se não era bem assim, está bem achado, heim?). Podiam até ser seguidos, em cortejo, pelos afiadores de facas, a assobiar naqueles apitos e por vendedoras de hortaliça descalças. Ia ser um assombro para os turistas, se bem que hilariante para os coimbrinhas menos tradicionais. Mas acho mesmo que devíamos deixar extintas as profissões extintas. Se se justificar, faz-se um museu.
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