(Com a devida vénia à família enlutada, esta foto foi retirada do Facebook)
Maria Amélia Lima e o marido, Francisco Neto,
foram brutalmente espancados e assassinados na sua residência, em Foz de
Arouce, Lousã. Segundo os jornais da
cidade, Francisco Neto era ourives de profissão e, como ambulante, vendia em
feiras da região. O móbil do crime terá sido o facto de terem surpreendido os assaltantes
em flagrante na sua casa de morada.
A Amélia era uma “filha” da Baixa, e que conheci muito bem. Durante muitas décadas
trabalhou na Casa Bambi, na Rua Corpo
de Deus, propriedade do senhor Álvaro dos Santos Chaves, e também já falecido.
A Bambi era um estabelecimento de
batas profissionais. Lembro-me muito bem da Amélia e outra colega –que agora
não recordo o nome- a atenderem ao balcão e desde a década de 1970. Ambas, foram
trabalhar muito novas para esta reputada loja desaparecida –encerrada por volta
de 2005.
A Amélia sempre foi uma pessoa simples,
humilde e muito simpática e, quando saiu da Baixa, deixou muitas saudades,
sobretudo na Rua Corpo de Deus –uma via outrora tão movimentada comercialmente
e hoje, tal como outras artérias da cidade, a agonizar lentamente.
Perante um crime tão hediondo apetece formalizar
que os homicidas sejam apanhados e lhes seja feita e aplicada a mesma pena: a
justiça de Talião. Porém, a humanidade, sem desvalorizar a pena de privação de
liberdade –talvez aqui devam ser criadas outras sanções acessórias, isso é
outra questão- deve caminhar para a ressocialização e para o perdão –mas sem
exageros. Hoje, num economicismo latente por parte do Estado, esquece-se as
vítimas e a dor de quem sofre e a sanção correspondente que, psicologicamente, deve
atenuar, acalmar e evitar o sentimento de vingança e contribuir para a paz
social. Não se entende que verificando-se uma violência inaudita cada vez maior
da sociedade, em contra-senso, o Código Penal, perante crimes de sangue, tenha
cada vez mais mão-leve para os autores. Por outro lado, num desrespeito pelas
forças policiais e a querer mostrar um exemplo que não dá, é este mesmo Estado
que, em conluio no princípio da separação de poderes entre o judicial e o legislativo cozinha as leis no seu próprio interesse. É assim que, numa
morte por dolo eventual provado num assalto a uma empresa, condena um agente da
GNR, que defende a comunidade e colocando em risco a sua vida, a nove anos de
prisão. Para piorar, demora seis anos até apreciar o recurso no tribunal
superior –Já depois de escrita esta crónica, foi anunciado o acórdão do
Tribunal da Relação de Lisboa. Embora a pena baixasse para metade, para quatro
anos, com pena suspensa, e quarenta e cinco mil euros de indemnização à família
da vítima, parece-me, continua a ser um preço demasiado alto para quem defende
a segurança pública e um forte incentivo à desmotivação na produtividade dos
agentes policiais. É evidente que as polícias trazem atrás de si um forte
anátema provindo do Estado Novo. Um medo de que se caia novamente no exagero. O
problema é que a emenda pode ser bem pior do que o soneto e com custos
incomensuráveis para as populações. Nas últimas décadas, em nome de uma
igualdade que nunca poderá existir, continuamos a esvaziar o poder das
instituições, quer seja a família, quer a escola, quer a policial. Os
resultados estão à vista de todos: uma população vulnerável, fraca e sem reacção
de indignação perante a contravenção, e à mercê de um qualquer energúmeno.
Estes, na maioria uma corja de bandidos vira-latas
mas perante a não-oposição, assumidamente, raivosa e forte. Desde homicidas a
corruptos na economia nacional, todos, uns com mais ou menos poder para
passarem pelos pingos da chuva, driblam as leis e parecem gozar com a angústia
do pobre desgraçado que sofre. Num País envelhecido e carregado de velhos em
esquinas e bancos de jardim, o que se espera para o futuro? Alguma coisa vai muito
mal neste reino sem rei nem roque na
justiça. Estas leis, aplicadas no âmbito da magistratura dos juízes enquanto
aplicadores do direito, não servem a comunidade. O Estado, como se minasse um
pilar fundamental da vida em sociedade, está abrir brechas na segurança
interna. Dá até impressão que este deslavar da ordem, enquanto imperativo
categórico de colectividade, parece ter por objecto privatizar os tribunais –é o
passo que falta uma vez que, como disse em cima, presumivelmente, as leis são
elaboradas por grandes escritórios de advogados da capital e de acordo com o
interesse de alguns seus maiores clientes. Os resultados desta mistura
explosiva estão à vista de todos. Para além de se verificar uma desmesurada
violência gratuita dos agressores sobre as vítimas, e vez de desmotivar, está a
incentivar o crime.
À família de Amélia Lima e de Francisco Neto,
em nome da Baixa, se posso escrever assim, os nossos mais sentidos pêsames.
Para que descansem em paz e até um dia.
1 comentário:
Tive o prazer de conviver vezes sem conta com a Amélia( e é dela que falo, porque a ela se destina o meu comentário ) não só porque sou do tempo em que os comerciantes trocavam mercadorias, mas também , porque o falecido sr.Chaves( proprietário da casa Bambi ) era amigo do meu falecido sogro sr.Salgueiro( proprietário da chapelaria Salgueiros),daí o nosso relacionamento. Retenho na mente a Amélia, empregada de balcão!!! Porquê???? Porque era simpática, porque tinha postura, atrás da " trincheira" porque a todos tratava por " você" , porque ( na hierarquia do empregado de comércio) me habituei a vê-la num patamar acima do meu, por tudo isto ou simplesmente por que sim???? Não vou alongar-me mais, já que enquanto escrevo as lágrimas atraiçoam- me as linhas, dizer só que, não posso, não devo, não me permito imaginar, a dor destas famílias . Quero enviar-lhes as minhas sentidas condolências . A vós,Amélia e Francisco,que vosso amor perdure no Reino dos Céus:( Até um dia:(
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