(Imagem retirada de aqui)
Conheço bem o homem que está sentado à minha
frente. Há um mês que não o via desde quando encerrou o seu estabelecimento e,
como menino envergonhado por ter sido apanhado em falta, recolheu às divisões
da solidão, bebendo os conselhos na amargura e procurando forças nos
interstícios da mente para encarar os olhos de quem se cruza com os seus. Na
longa noite de insónia e, certamente, pedindo ao silêncio que lhe trouxesse por
favor um momento de sono, imagino o matraquear constante das suas interrogações:
“porquê? Porquê? O que fiz de mal? Tenho
81 anos, trabalhei durante os últimos setenta anos. Sempre cumpri com todos.
Porquê…?”
O comerciante de olhos encovados e encravados
em olheiras negras, que sempre preferiu torcer que quebrar, parece-me um
carvalho centenário alquebrado pelo peso enorme dos seus ramos e resignado à
sorte que o tempo lhe destinou. No meio de um lamento com olhos humedecidos
enfatiza: “Embora as minhas forças
estejam debilitadas, estou muito bem psicologicamente. Se alguém me desse
trabalho…”
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