quinta-feira, 1 de agosto de 2013

DEZ DIAS DEPOIS...



 No princípio do mês passado, de Julho, abriu uma nova sapataria na Rua do Almoxarife –saliento que é uma transversal, com cerca de 50 metros, que liga as artérias das Padeiras e Eduardo Coelho. A chover no molhado, digo também que, na Baixa, há umas ruas principais que ainda vão tendo movimento de transeuntes, como é o caso das que referi Padeiras e Eduardo Coelho, e outras sem movimento e que pouquíssima gente atravessa, no caso em análise e a servir de exemplo, como esta de Almoxarife. Para complementar o meu raciocínio e melhor se entender, estas duas vias principais estão em excedente, maioritariamente, ocupadas comercialmente com o ramo de venda de sapatos. Ora, penso, que já podemos antever que a abertura de mais uma sapataria numa ruela secundária ao pé de gigantes com décadas de traquejo –e que alguns estão a encerrar- é puro suicídio empresarial. Continuando na especulação, poderemos também interrogar: o que temos nós a ver com a vontade livre e legítima de alguém abrir um qualquer estabelecimento, nem que seja no cu de Judas? Nada! Ninguém tem absolutamente nada a ver com o assunto. A não ser que…?
A não ser que este projecto tivesse sido financiado pelo IEFP, Instituto de Emprego e Formação Profissional. Nesse caso, uma vez que, embora seja uma retribuição do desempregado, o financiamento é com dinheiros públicos, já temos. E ao que parece foi mesmo. Não consegui ouvir o investidor, que neste caso era uma senhora ainda nova. Passei lá nos primeiros dias e prometi passar mais tarde para fazer a notícia. Quando voltei já estava encerrada. Só o eterno “volto já” lá permanece, como símbolo de um futuro que acabou ontem. Por aquela impossibilidade, falei com a proprietária da loja que, não identificando intencionalmente, me afirmou que de facto assim aconteceu: “o plano de investimento foi através do IEFP. Não sei como é que aprovam um projecto de sapataria para aquele local. O arrendamento do espaço foi contratualizado através de uma agência imobiliária. Estranhei, mas arrendei por um ano. A renda até não era cara: 150 euros. A senhora pagou dois meses adiantados, como prescreve a lei. Foi um mês para o intermediário do negócio e eu recebi outro. Passados uns dias a minha arrendatária já me estava a comunicar que a coisa não estava a dar. E que, mais que certo, não estaria lá mais do que esse tempo determinado. Sei agora que já não está –de facto só lá se encontram os balcões e a máquina registadora, acrescento eu. Continua a senhoria,  "acho que está a tentar vender a sua existência ao desbarato. Admite-se uma coisa destas?
Já escrevi vários textos sobre a ligeireza com que estão aqui a abrir novos negócios com verbas antecipadas do IEFP. Em juízo de valor que vale o que vale, parece-me que se houvesse mais bom senso e uma maior responsabilidade neste instituto público, que se exige necessariamente a quem decide, poder-se-iam evitar desastres como este. Porque é preciso interrogar: como se sentirá a senhora agora depois desta experiência falhada? Quantos dramas em subsequência, como castelo de cartas, se vão seguir na sua vida? Calculo que quem deu luz verde a este absurdo plano, depois de ter ratificado a sua assinatura, lavou as suas mãos da responsabilidade social e teria ficado com a sua consciência em paz. Talvez valesse a pena pensar nisto. Não?


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