No princípio do mês passado, de
Julho, abriu uma nova sapataria na Rua do Almoxarife –saliento que é uma
transversal, com cerca de 50 metros, que liga as artérias das Padeiras e Eduardo
Coelho. A chover no molhado, digo
também que, na Baixa, há umas ruas principais que ainda vão tendo movimento de transeuntes,
como é o caso das que referi Padeiras e Eduardo Coelho, e outras sem movimento
e que pouquíssima gente atravessa, no caso em análise e a servir de exemplo, como esta de Almoxarife. Para complementar o meu raciocínio e melhor se entender,
estas duas vias principais estão em excedente, maioritariamente, ocupadas
comercialmente com o ramo de venda de sapatos. Ora, penso, que já podemos
antever que a abertura de mais uma sapataria numa ruela secundária ao pé de
gigantes com décadas de traquejo –e que alguns estão a encerrar- é puro
suicídio empresarial. Continuando na especulação, poderemos também interrogar:
o que temos nós a ver com a vontade livre e legítima de alguém abrir um
qualquer estabelecimento, nem que seja no cu
de Judas? Nada! Ninguém tem absolutamente nada a ver com o assunto. A não ser
que…?
A não ser que este projecto
tivesse sido financiado pelo IEFP, Instituto de Emprego e Formação
Profissional. Nesse caso, uma vez que, embora seja uma retribuição do desempregado, o financiamento é com dinheiros públicos,
já temos. E ao que parece foi mesmo. Não consegui ouvir o investidor, que neste
caso era uma senhora ainda nova. Passei lá nos primeiros dias e prometi passar
mais tarde para fazer a notícia. Quando voltei já estava encerrada. Só o eterno
“volto já” lá permanece, como símbolo
de um futuro que acabou ontem. Por aquela impossibilidade, falei com a proprietária
da loja que, não identificando intencionalmente, me afirmou que de facto assim
aconteceu: “o plano de investimento foi
através do IEFP. Não sei como é que aprovam um projecto de sapataria para
aquele local. O arrendamento do espaço foi contratualizado através de uma
agência imobiliária. Estranhei, mas arrendei por um ano. A renda até não era
cara: 150 euros. A senhora pagou dois meses adiantados, como prescreve a lei. Foi
um mês para o intermediário do negócio e eu recebi outro. Passados uns dias a
minha arrendatária já me estava a comunicar que a coisa não estava a dar. E
que, mais que certo, não estaria lá mais do que esse tempo determinado. Sei
agora que já não está –de facto só lá se encontram os balcões e a
máquina registadora, acrescento eu. Continua a senhoria, "acho
que está a tentar vender a sua existência ao desbarato. Admite-se uma coisa
destas?
Já escrevi vários textos sobre a ligeireza
com que estão aqui a abrir novos negócios com verbas antecipadas do IEFP. Em juízo
de valor que vale o que vale, parece-me que se houvesse mais bom senso e uma
maior responsabilidade neste instituto público, que se exige necessariamente a
quem decide, poder-se-iam evitar desastres como este. Porque é preciso
interrogar: como se sentirá a senhora agora depois desta experiência falhada?
Quantos dramas em subsequência, como castelo de cartas, se vão seguir na sua
vida? Calculo que quem deu luz verde a este absurdo plano, depois de ter
ratificado a sua assinatura, lavou as suas mãos da responsabilidade social e
teria ficado com a sua consciência em paz. Talvez valesse a pena pensar nisto.
Não?
TEXTOS RELACIONADOS
Sem comentários:
Enviar um comentário