Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Como
se licitassem as urbes em leilão, aceitando
a parte que desse mais,
venderam os activos, a
massa
consumista, a quem oferecia mais. E quem deu mais
pelos
compradores, de vontade facilmente manipulável,
ávidos
de novidades e progresso, foi o grande capital,
sem
rosto e sem pátria.
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- De uma assentada, neste final de Janeiro encerram
cinco lojas de rua na Baixa de Coimbra. Se ao longo do último ano de 2017
fecharam vários estabelecimentos, entre eles alguns com uma longa
história na compra e venda -Farmácia Nazareth, Casa do Castelo, Lefties, Estrela Verde,
só para enumerar alguns dos mais importantes-, mas nunca como até
agora, e de uma vez só, foram tantos por junto.
A
questão, que sendo arrastada no tempo e sem resposta, é
sempre a mesma: PORQUÊ?
Por
já ter escrito tanto sobre este tema considero que estou a bater no
ceguinho. No entanto, sem entrar agora em todas as variantes que
contribuíram para esta decadência, ficando mais pela rama, sempre
vou adiantando que o que está acontecer hoje é o somatório de um
processo conduzido naturalmente e intencionalmente a nível nacional
para o desaparecimento de uma classe profissional outrora respeitada
e hoje pelas ruas da amargura.
PORQUÊ?
Se,
por um lado, a alteração dos costumes da sociedade civil, em
consequência de novos gostos e rituais assumidos pelos nossos
ascendentes, veio colocar tudo em causa, sobretudo abalando a
fidelização a uma loja comercial que servia várias gerações da
mesma família, por outro, os governantes dos últimos vinte anos,
numa visão mercantilista, narcísica, e calculista, sem o mínimo
respeito pelo passado ancestral que constituiu a infra-estrutura do
desenvolvimento dos burgos, apenas interessados em serem eleitos,
encarregaram-se de reescrever a história à sua maneira e encaminhar
o coração das cidades, vilas e aldeias para o charco do
envelhecimento e desertificação. Como se licitassem as urbes em
leilão, aceitando a parte que desse mais, venderam os activos, a
massa consumista, a quem oferecia mais. E quem deu mais
pelos compradores, de vontade facilmente manipulável, ávidos de
novidades e progresso, foi o grande capital, sem rosto e sem pátria.
Dinheiro nunca foi problema para
este investidor global. Em cada grande superfície comercial -as
primeiras apresentando face portuguesa no logótipo e na gestão para
enganar os tansos- que abria ao público anunciando a criação de
centenas de novos empregos -a destruição colateral que causava no
comércio de proximidade nunca foi tomada em conta, esta alínea foi
sempre inscrita na coluna do passivo e a pagar à
la longue.
Com estas novas implantações mastodônticas consumistas, no imediato, vinham as contrapartidas em piscinas, pavilhões multi-usos, estradas e infra-estuturas que criavam novas centralidades e, para além de alargar o perímetro urbano, através de grandes e modernas torres habitacionais, gerando taxas para as autarquias, mexendo na auto-estima dos munícipes, davam uma ideia de progresso, e sempre em comparação com outros lugares. E entretanto foram passando para cidades low cost. E, ao mesmo tempo, foram surgindo textos que se tornam bandeiras de desabafos sentidos. Para entendermos melhor, temos de conhecer a Economia Nacional, na ascensão, pico, queda, e o seu contrário.
Com estas novas implantações mastodônticas consumistas, no imediato, vinham as contrapartidas em piscinas, pavilhões multi-usos, estradas e infra-estuturas que criavam novas centralidades e, para além de alargar o perímetro urbano, através de grandes e modernas torres habitacionais, gerando taxas para as autarquias, mexendo na auto-estima dos munícipes, davam uma ideia de progresso, e sempre em comparação com outros lugares. E entretanto foram passando para cidades low cost. E, ao mesmo tempo, foram surgindo textos que se tornam bandeiras de desabafos sentidos. Para entendermos melhor, temos de conhecer a Economia Nacional, na ascensão, pico, queda, e o seu contrário.
O
discurso destes políticos, vazio de futuro mas cheio de promessas
formais, estudado ao pormenor, em decalque, atravessou Portugal de
Norte a Sul. Com palavras a tocar o coração do consumidor, elo
fraco e dependente de uma massa abstrata que age sem sentimentos e
somente virado para o seu umbigo, foi sempre tudo feito em nome do
interesse maior do comprador. É certo que por parte dos comerciantes, desagregados e sem vínculo associativo de união, sempre muito preocupados com o legítimo descanso, também nunca houve uma resposta que combatesse o prenúncio de devastação. E entre o trabalhar e o descansar, optou-se pelo lado mais fácil.
Por
parte da administração destes grandes espaços comerciais, na sua
implícita relação de conflitualidade surda com os pequenos
comerciantes, foi sempre o aplicar uma estratégia militar de guerrilha comercial, no seu todo social, de força e bem planeada, que numa rivalidade entre espécimes
completamente antagónicos em poder económico, inevitavelmente
conduz ao extermínio do mais fraco. O
resultado destes projectos de transformação dos lugares habitados
centrais, sempre acompanhados de uma oferta comercial desmesurada com
preços em dumping,
a
prática de colocar no mercado produtos abaixo do custo com o intuito
de eliminar a concorrência e aumentar as quotas de mercado,
nos primeiros dez anos teria
por objecto aniquilar as mercearias e pequenos espaços dedicados ao
ramo alimentar. Na segunda década, esta que estamos a viver, com a
escandalosa conivência dos governos -como o de Passos Coelho, em
2014, ao liberalizar os saldos-, está em curso a depuração, a caça
ao pequeno comerciante de têxteis e artigos para o lar, calçado,
livraria, electrodomésticos, área digital e artigos decorativos
-atente-se que até as lojas de comerciantes chineses nos centros históricos, que, igualmente, laboraram sempre no voo rasante do falcão, estão a encerrar.
O
resultado desta pseudo-concorrência dita saudável, foi chegarmos a um
comércio a duas velocidades: apesar da oferta continuar a crescer, o
das grandes áreas comerciais está cada vez mais forte e o dos
centros históricos apresenta-se cada vez mais fraco. Não podemos apenas culpar a Troika desta consequência. O medo de amanhã está cada vez a invadir a alma dos resistentes.
Então,
emerge uma pergunta lógica: para uma viciada disputa entre entes
completamente diferentes podem continuar as regras a serem iguais?
Podemos continuar a aplicar os mesmos sistemas de estrutura,
organização, funcionamento e método de trabalho?
2
– No que toca
concretamente à Baixa de Coimbra, depois de vermos desaparecer nos
últimos anos grandes firmas comerciais que empregavam centenas de
empregados -só para lembrar algumas, Casa Santiago, Galerias Coimbra, Traje, El Dorado, Fetal, Saul Morgado, os Marthas, a Casa Bonjardim-, salvo pequenas excepções, o
que temos hoje no seu lugar são negócios sem grande pujança -que,
na melhor das hipóteses, aguentam um ano-, na maioria ocupados por
uma única pessoa -a título de curiosidade, as mulheres estão em
grande força no comércio da Baixa. São
projectos direccionados para áreas que não impliquem grande
conhecimento técnico e apenas para o preenchimento de auto-emprego,
muitas vezes sem qualquer experiência na nobre arte de negociar. Com
custos fixos a raiar o absurdo -nomeadamente, entre outros, as
rendas-, o desastre é mais que previsível -só os próprios o não
vêem. Claro que os dramas em perspectiva já eram visíveis há meia-dúzia de anos. Há muito tempo que se pede um debate sério sobre a Baixa.
Respeitando-se
as opções e livre iniciativa de cada um, com este procedimento
continuado, assistimos a um enfraquecimento cada vez maior do
comércio no centro histórico. A consequência de uma oferta fraca e
pouco diversificada é uma desertificação acelerada. Se não fosse
o turismo, com a classificação de Património Mundial, em 2013,
pela UNESCO, a tragédia ainda seria maior. Como estamos a atravessar
o deserto -entre Novembro e Março, em que há menos turismo-, nesta
altura a Baixa não está a gerar riqueza suficiente para manter a
maioria de estabelecimentos abertos. Vão fechar muitos mais? Não é
preciso ser adivinho para intuir o que se avizinha. Manuel Machado, o
presidente da Câmara Municipal de Coimbra, vai continuar a fazer de
conta que está tudo bem? Mais que certo! A
darmos crédito a boatos, como está muito ocupado a fazer as malas
para zarpar e deixar Coimbra para um grande cargo de nomeação
governamental, está sem tempo. Resta-nos a esperança de que Carlos
Cidade, o vice-presidente que ascenderá a primeiro, seja melhor -o
que, para o conseguir, nem será muito difícil. Basta ser diferente. No mínimo, dialogar com as pessoas. Fica a esperança no
ar!
1 comentário:
O Sr. Luís Fernandes agora espalha boatos? Fica-lhe bem.
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