(Leonardo Braga Pinheiro)
1
- Ontem,
na Página da
Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial), no
Facebook,
um membro do grupo postou uma foto de um antigo estabelecimento,
felizmente ainda em actividade na Baixa e com cerca de um século,
com a seguinte legenda: “Contra
tudo e contra todos lá vai sobrevivendo.”
Em
seguida um membro fez o seguinte comentário: “Amigo
nem sei como.... Com um empregado que não tem nenhum bom modo de
atender clientes... Já me aconteceu a mim, nunca mais entrei naquela
casa. Menos um cliente.”
Outro
agregado escreveu: “eu
costumo dizer o meu dinheiro só dou ganhar a quem me atende bem. Um
bom ano.”
Outro
participante escreveu ainda: “permita-me
que eu também me pronuncie acerca destes comentários. Não são
agradáveis, é verdade, mas infelizmente não é caso único este
tipo de comportamento para com os clientes. Também é verdade que
não agradamos a todos, mas quem está atrás de um balcão seja
patrão ou funcionário deverá primar pela simpatia, pois é uma
mais valia para angariar clientes. De certeza que a loja não fechará
porque teve um comentário negativo, agora não podemos é esconder o
que está mal pois só assim é que se evolui. Também não conheço
o proprietário, mas estive muitos anos atrás de um balcão. Também
é verdade é que esta loja ficou parada no tempo, o que é bem
visível. E parece-me que compete ao proprietário zelar pelo que é
seu. Se ele não o fizer não há animação da Baixa, revoltas,
críticas, positiva ou negativa, que lhe valham. Estamos no séc.
XXI, a agricultura teve uma grande evolução e agora até está na
moda. Porque não actualizar-se? Será que não atrairia mais
clientela?”
2
– No Diário as Beiras de hoje, um advogado colaborador do jornal,
com o título da crónica “O
futuro da Baixa. Uma questão de mentalidade”,
num longo texto de meia-página, perora sobre o estado anémico da
Baixa de Coimbra. Segundo a sua explicação, porque trabalha o dia
inteiro, decidiu vir depois das 19h00 fazer compras para o Natal e
para o Ano Novo. “Mas
às 19h05 já estava praticamente tudo fechado”,
constatou.
Acerca de o comércio encerrar
às 19h00, o digníssimo articulista procurou investigar a razão.
Citando entre aspas o que ouviu de pessoas ligadas ao comércio,
plasmou: “o
comerciante também tem direito a descansar” e “depois das 19h00
também já ninguém vem à Baixa de Coimbra”. Pelo meio ainda ouvi
o já tradicional queixume de que as “pessoas preferem ir aos
centros comerciais porque têm estacionamento” e “se a câmara
instalasse nos edifícios sua propriedade alguns serviços públicos
as pessoas viriam à Baixa e assim comprariam no comércio
tradicional”.
Acerca
desta parte, termina assim: “Como
já eram 19h25, fui ao Centro Comercial fazer as minhas compras.”
Continuando a reproduzir, “Em
outro dia daquela última semana de 2017, nova tentativa e decidimos
“ajudar o comércio tradicional indo jantar a um típico
restaurante da baixa de Coimbra”. Procurámos um daqueles espaços
característicos da restauração portuguesa que todas as cidades têm
e que Coimbra, pela sua história, terá certamente também!
Escolhemos um restaurante. Começou o calvário: rapidamente fomos
confundidos com forasteiros, fomos mal servidos, convivemos de muito
perto com uma higiene péssima, uma apresentação de meter dó e, o
pior de todos os males: convivemos com as sucessivas tentativas de
enganar os clientes (algo que não aconteceu só com a minha mesa,
mas que estava a acontecer um pouco por todas as mesas). Após as
reclamações, a culpa parecia ser sempre do cliente, pois nós é
que não sabemos apreciar o excelente serviço com que nos
presenteiam... Sei que há excepções e por isso não quero
generalizar, no entanto, após estas duas experiências, vou pensar
duas vezes antes de ir à Baixa gastar o meu dinheiro! Esta foi só a
minha primeira conclusão. A minha segunda conclusão foi que “assim,
a Baixa está mesmo condenada”.
Passando
por dar resposta às suas próprias interrogações, para terminar,
culpa os comerciantes com a seguinte expressão: “Há
que dizê-lo: a principal dificuldade da Baixa de Coimbra é a
mentalidade com o que os comerciantes encaram o comércio.”
3
- Comecemos
pela similitude entre as manifestações dos comentadores do Facebook
e do causídico articulista:
a) -Todos
amam cegamente a Baixa. Esta cegueira fá-los agir em contra-mão, no
interesse contrário do centro histórico;
b) -Em
nome desse incondicional amor, como anjos anunciadores da boa-nova,
crêem ter a solução para um problema que só é irresolúvel
porque os comerciantes não estão dispostos a mudar;
c) -Em
nome desse incondicional amor que apregoam, sem terem conhecimento de
todas as premissas, julgam-se no direito de julgar uma classe apenas
com assento em um ou dois casos em que foram intervenientes -no caso
do legisperito é mais grave. O doutor, pela profissão que exerce,
pelo equilíbrio entre partes, pela justiça que deve defender, sabe
que está a ser profundamente injusto. Embora diga que não, num
apriorismo bacoco, parte de citações particulares para o geral, o
que não se admite vindo de um jurisconsulto. Basta ler os seus
desabafos para se verificar que confunde facilmente o rebanho com o
pastor;
d) -Em
nome desse incondicional amor que apregoam, sem se aperceberem, pelas
suas injustas frases escritas, estão a contribuir para o mais rápido
afundamento da zona comercial e também da indústria hoteleira -no
caso dos comentadores do Facebook, parecem ignorar que ao
particularizar o queixume numa empresa e difundindo-o através das
redes sociais com o possível intuito de a prejudicar -mesmo que a
razão lhe assista-, correm o risco de serem demandados por difamação;
e) -Quer
uns quer outros, no caso o advogado e os comentadores de ocasião,
sabem que há instrumentos apropriados para fazerem desaguar o seu
desagrado. Entre outros e mais à mão: o Livro de Reclamações.
Pediram-no no local próprio? Aposto que não! Como Maria Madalena no
santo sepulcro, é mais fácil vir carpir mágoas para as redes
sociais ou para os jornais diários. Dá mais status, mais pica!
4
–
Diz-nos a experiência, como boa conselheira, que quando apreciamos
uma situação sem percorrermos todos os passos necessários para
aferir da verdade corremos o sério risco de cairmos no ridículo. Se
eu afirmar que, para tratar de um assunto jurisdicional, fui a dois
advogados e, cobrando-me principescamente, ambos não me souberam
esclarecer, ou seja, fui mal servido, posso afirmar que aqueles
profissionais não dignificam a classe? Que
a principal dificuldade da advocacia é a mentalidade com o que os
advogados encaram a sua profissão?
Posso, mas devo tratar disso em local próprio: isto é, a
Ordem dos Advogados.
5
– Para terminar, a meu ver, a recuperação da Baixa dispensa
completamente este tipo de comentários. Sendo sério, uns e outros
têm alguma razão? Têm sim, mas apenas alguma. Não toda, como
querem fazer parecer a quem não está dentro das dificuldades da
zona comercial. Ou seja, armados em salvíficos, tomando a parte como
o todo, querem apenas defender a sua tese destrutiva. Só quem está
no convento é que sabe o que lá vai dentro.
Qualquer
solução para um problema que se arrasta no tempo é sempre
resultado de vários factores: estruturais,
conjunturais
e ocasionais.
Tomarmos apenas uma asserção e dela fazermos a demonização é
cair numa análise curta e deficiente. Para melhor exemplificar, é o
mesmo que afirmarmos que os incêndios de Junho e Outubro, que
ocorreram em Portugal, foram apenas uma consequência do elevado
calor atmosférico.
1 comentário:
Não me parece que alguém ame cegamente a Baixa, como diz, nem vi em lado nenhum essas manifestações de amor acrisolado. Isso é um bocado exagerado. Os clientes gostariam é que a que a baixa fosse diferente. O cliente faz escolhas e compete ao comerciante “seduzi-lo”. Não me parece que isso lá vá com tanto azedume. A verdade é que os clientes se sentem desconfortáveis na baixa e se sentem mais confortáveis noutros lados. Quanto às ameaças de difamação por queixas de atendimento de uma empresa em particular, não sei a que propósito vem isso. Em qualquer lugar do mundo, aliás, em qualquer lugar do mundo civilizado, são normais e correntes as reclamações nas redes sociais, de comércio, hotelaria, etc. Imagine que existem mesmo sites dedicados a isso e que isso é visto como um direito de cidadania. É um sinal de maturidade que os comerciantes se habituem a isso.
Ainda não entendi, e digo isto sinceramente, sem nenhuma reserva, o que pretendem os comerciantes da baixa. Se as estruturas associativas que existem actualmente não lhes servem para dizer ou fazerem o que querem, arranjem outras, com alguém mais habilitado à frente. Não são os clientes que o têm que fazer por eles.
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