O
Angola, um mítico café da Baixa, com cerca de sete décadas de
existência no Largo das Ameias, vai fechar em 30 de Março. O que
está por detrás deste encerramento é o facto de estar inserido no
mesmo edifício do antigo Hotel Mondego, que está desactivado da
hotelaria há cerca de uma dezena e meia de anos, e agora, num
retorno anunciado pelo boom turístico, vai voltar às mesmas
lides que o tornou célebre durante quase oito décadas. A área
correspondente ao hotel foi arrendada há cerca de uma dúzia de anos
aos móveis Okapi, com sede na estrada nacional 111, junto à
Cidreira.
Segundo
o testemunho de quem sabe e não quer identificar-se, o projecto de
transformar todo o espaço em unidade hoteleira para dormidas, incluindo o do café
Angola e móveis Okapi, é da responsabilidade do(s) seu(s)
proprietário(s) -embora o meu depoente jure a pés juntos ser assim,
há rumores a circularem por entre becos e ruelas que a compra do
prédio foi efectivada por um conhecido hoteleiro com interesses na
Baixa. É verdade? É mentira? Não se sabe, mas também, para o
caso, não interessa nada. O que se sabe chega para informação.
Borbulhando de efervescência, é a cidade, na sua dinâmica natural,
a alterar o seu lineamento. Quem pode, se tem meios e quer, faz. É
este poder impositivo, aliando à decisão da vontade a um legítimo
interesse egoísta, que faz modificar a paisagem da cidade.
Numa
eterna discussão entre o estar, presente, e o ser,
futuro, para uns, os protectores do situacionismo, que naturalmente
não estão dentro da problemática económica do caso em apreço,
tudo deveria continuar igual. Para quem defende esta teoria, a urbe
do ponto de vista histórico deveria manter a sua fisionomia, com os
seus negócios a continuarem a atravessarem o bucolismo do tempo.
Para outros, mais desligados da problemática existencial, que
defendem o camartelo como instrumento de progresso, é simplesmente a
ordem natural das coisas. Quem tem razão? Se calhar ambos. Embora
mal nos apercebamos, porque parece que está sempre tudo igual para
pior, sendo justos, a verdade é que a natureza das coisas mostra-nos
que tudo se transforma, e, por muito que custe, é quase impossível
impedir -basta visionarmos uma paisagem urbana e compará-la com uma
fotografia com vinte anos para vermos que a transfiguração é
enorme. Na rectaguarda desta metamorfose está sempre a economia.
That's life! É a vida!
Sem comentários:
Enviar um comentário