sábado, 13 de janeiro de 2018

UMA CARTA PARA OS JUSTOS REFLETIREM

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Olá Luís. Como está? Desde já, desejo-lhe um bom 2018.

O que me levou a enviar este email foi o ter lido esta noticia no Correio da Manhã (CM):


Este é um problema a nível nacional. Por isso, Coimbra não é excepção à regra, Conheço alguns casos e sei de um bastante próximo familiarmente.
O Luís já publicou alguns textos com este tema das rendas como assunto principal. E hoje, ao ler esta noticia acima referida, estava acompanhado de uma pessoa. Eis então que, como metralhadora a cuspir balas, começou a debitar uma serie de afirmações assim:

 “Coitados dos pobres!; não há direito de fazer uma coisa destas!; os senhorios são uma cambada de fascistas!; só neste pais é que isto acontece!; etc, etc, etc...

Não sendo estas declarações totalmente falsas, analisando, também não são totalmente verdadeiras. Isto é, não refletem com justiça a realidade do arrendamento urbano.
Repetindo, o que me levou a escrever-lhe foi, por um lado, gostar de ler a sua opinião, por outro, dar a minha. Na parte que me toca, acho que estas noticias, por serem mal elaboradas, pecando por defeito dos jornalistas que as publicitam, suscitam sempre a mesma condenação dos senhorios e proprietários. Repare que não é dito quanto é que o idoso pagava de renda mensal. Para uma informação isenta, não era obrigação do representante do CM perguntar qual o valor em causa? Claro que era. Porém, mas não foi. E ao não ser declarada deturpa e limita completamente uma análise justa por parte do leitor.
Vou dar só um exemplo real. Convido a quem tanto critica os senhorios a ler com atenção:
Imagine que recebe uma herança composta de um prédio com 4 fracções, dois T2 no rés-do-chão e dois T2 no primeiro-andar. Visto o embrulho do presente de fora, até aqui tudo bem, não é assim? Quem não gostaria de herdar quatro casas de uma assentada para arrendar e ter um bom rendimento mensal?
Acontece que depois de desatar os laços verificamos que é uma prenda envenenada. O prédio foi construído há cerca de meio-século. No rés-do-chão, há uma fracção ocupada com um inquilino que paga 18 euros e que precisa de obras urgentes -o arrendatário já se queixou à Câmara Municipal. Outra, também no mesmo piso, está inabitável. No primeiro-andar, um dos inquilinos paga 27 euros e outro 44.
Desde os quatorze a laborar no comércio, o herdeiro tem agora 70 anos de idade. Poupanças tem zero. O que foi conseguindo foi enterrando no estabelecimento em que, nos últimos vinte anos, continua a trabalhar. Mas, pior, falta liquidar alguns empréstimos bancários que foi contraindo ao longo do tempo para fazer face ao dia-a-dia.
Em resumo, para além de não ter dinheiro para recuperar o edifício que o pai lhe deixou, atente-se na idade do sujeito-proprietário. Veja-se também, com olhos de ver, que o rendimento mensal do prédio -mesmo sem deduzirmos o IMI-, nem sequer dá para pagar dois dias a um pedreiro!
Pergunto: ainda acham que os senhorios são todos uns sacanas e insensíveis?
A começar pelos governos nacionais, que apenas estão interessados no voto e pouco em justiça social -que para a ser tem uma obrigatoriedade de geral-, toda a gente tem pena dos inquilinos, “coitadinhos”, “tão espezinhados pelos senhorios e blá, blá, blá”! E quem defende os proprietários, que recebendo rendas miseráveis e, em muitos casos, vivem ainda pior que os arrendatários? Protegidos por leis iníquas, em muitos casos, são estes inquilinos sem escrúpulos, com pensões milionárias, que exigem obras, remodelações gerais e tudo e mais alguma coisa, que acabam a gozar com quem se está a substituir à Segurança Social -que, como se viu no caso relatado pelo CM nem a sua parte na assistência jurídica cumpre com zelo e eficácia. São os governantes que temos porque elegemos. Ponto e parágrafo.
Quem quer uma herança maldita?
Abraço Luís. (desculpe lá este desabafo)”

Marco Pinto
(Coimbra)

(arranjo ortográfico e gramatical de Luís Fernandes)

3 comentários:

António HortaPinto disse...

O idoso pagava um renda de 69 euros e o senhorio exigia-lhe 600,quando a pensão dele era apenas de 390.
Quem tem pensões milionárias vive normalmente em casa própria.
Quanto à pessoa que refere, muita sorte tem ela por ter herdado um prédio; poucos têm esse privilégio.
Os senhorios não são todos maus nem muito menos fascistas, nem os inquilinos são todos bonzinhos ou coitadinhos. Mas é absolutamente desumano,seja em que circunstâncias for, pôr na rua um velho de 80 anos, exigindo-lhe uma renda superior ao montante da sua pensão.

Unknown disse...


O sr.Antonio Horta tem toda a razão quando diz «Os senhorios não são todos maus nem muito menos fascistas, nem os inquilinos são todos bonzinhos ou coitadinhos.»Quando dei a minha opinião não foi acerca do inquilino idoso referido na noticia,a leitura da noticia é que teve como consequência aquele pensamento em relação a este tema em geral,em abstrato e não no caso em concreto.
Mas desde já lhe digo que tenho quase a certeza que não é proprietário ,nem recebe um arrendamento de 69euros!esta quantia quase não dá para pagar as despesas de electricidade e água quanto mais de uma renda!
Quanto á sua afirmação que se é um priviligiado em receber uma herança destas...que sorte! um comerciante falido receber em mãos uma carga de trabalhos destas...
Abraço,Marco Pinto

LUIS FERNANDES disse...

https://questoesnacionais.blogspot.pt/2018/01/dois-comentarios-recebidos-e-uma.html