(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
“Olá
Luís. Como está? Desde já, desejo-lhe um bom 2018.
O
que me levou a enviar este email foi o ter lido esta noticia no
Correio da Manhã (CM):
Este
é um problema a nível nacional. Por isso, Coimbra não é excepção
à regra, Conheço alguns casos e sei de um bastante próximo
familiarmente.
O
Luís já publicou alguns textos com este tema das rendas como
assunto principal. E hoje, ao ler esta noticia acima referida, estava
acompanhado de uma pessoa. Eis então que, como metralhadora a cuspir
balas, começou a debitar uma serie de afirmações assim:
“Coitados
dos pobres!; não há direito de fazer uma coisa destas!; os
senhorios são uma cambada de fascistas!; só neste pais é que isto
acontece!; etc, etc, etc...”
Não
sendo estas declarações totalmente falsas, analisando, também não
são totalmente verdadeiras. Isto é, não refletem com justiça a
realidade do arrendamento urbano.
Repetindo,
o que me levou a escrever-lhe foi, por um lado, gostar de ler a sua
opinião, por outro, dar a minha. Na parte que me toca, acho que
estas noticias, por serem mal elaboradas, pecando por defeito dos jornalistas que as publicitam, suscitam sempre a mesma condenação
dos senhorios e proprietários. Repare que não é dito quanto é que
o idoso pagava de renda mensal. Para uma informação isenta, não era
obrigação do representante do CM perguntar qual o valor em causa?
Claro que era. Porém, mas não foi. E ao não ser declarada deturpa e limita
completamente uma análise justa por parte do leitor.
Vou
dar só um exemplo real. Convido a quem tanto critica os senhorios a
ler com atenção:
Imagine
que recebe uma herança composta de um prédio com 4 fracções, dois
T2 no rés-do-chão e dois T2 no primeiro-andar. Visto o embrulho do
presente de fora, até aqui tudo bem, não é assim? Quem não
gostaria de herdar quatro casas de uma assentada para arrendar e ter
um bom rendimento mensal?
Acontece
que depois de desatar os laços verificamos que é uma prenda
envenenada. O prédio foi construído há cerca de meio-século. No
rés-do-chão, há uma fracção ocupada com um inquilino que paga 18
euros e que precisa de obras urgentes -o arrendatário já se queixou
à Câmara Municipal. Outra, também no mesmo piso, está inabitável.
No primeiro-andar, um dos inquilinos paga 27 euros e outro 44.
Desde
os quatorze a laborar no comércio, o herdeiro tem agora 70 anos de
idade. Poupanças tem zero. O que foi conseguindo foi enterrando no
estabelecimento em que, nos últimos vinte anos, continua a trabalhar. Mas, pior, falta liquidar
alguns empréstimos bancários que foi contraindo ao longo do tempo
para fazer face ao dia-a-dia.
Em
resumo, para além de não ter dinheiro para recuperar o edifício
que o pai lhe deixou, atente-se na idade do sujeito-proprietário.
Veja-se também, com olhos de ver, que o rendimento mensal do prédio
-mesmo sem deduzirmos o IMI-, nem sequer dá para pagar dois dias a
um pedreiro!
Pergunto:
ainda acham que os senhorios são todos uns sacanas e insensíveis?
A
começar pelos governos nacionais, que apenas estão interessados no
voto e pouco em justiça social -que para a ser tem uma
obrigatoriedade de geral-, toda a gente tem pena dos inquilinos,
“coitadinhos”, “tão espezinhados pelos senhorios e blá,
blá, blá”! E quem defende os proprietários, que
recebendo rendas miseráveis e, em muitos casos, vivem ainda pior que
os arrendatários? Protegidos por leis iníquas, em muitos casos, são
estes inquilinos sem escrúpulos, com pensões milionárias, que
exigem obras, remodelações gerais e tudo e mais alguma coisa, que
acabam a gozar com quem se está a substituir à Segurança Social
-que, como se viu no caso relatado pelo CM nem a sua parte na
assistência jurídica cumpre com zelo e eficácia. São os
governantes que temos porque elegemos. Ponto e parágrafo.
Quem
quer uma herança maldita?
Abraço
Luís. (desculpe lá este desabafo)”
Marco
Pinto
(Coimbra)
(arranjo ortográfico e gramatical de Luís Fernandes)
(arranjo ortográfico e gramatical de Luís Fernandes)
3 comentários:
O idoso pagava um renda de 69 euros e o senhorio exigia-lhe 600,quando a pensão dele era apenas de 390.
Quem tem pensões milionárias vive normalmente em casa própria.
Quanto à pessoa que refere, muita sorte tem ela por ter herdado um prédio; poucos têm esse privilégio.
Os senhorios não são todos maus nem muito menos fascistas, nem os inquilinos são todos bonzinhos ou coitadinhos. Mas é absolutamente desumano,seja em que circunstâncias for, pôr na rua um velho de 80 anos, exigindo-lhe uma renda superior ao montante da sua pensão.
O sr.Antonio Horta tem toda a razão quando diz «Os senhorios não são todos maus nem muito menos fascistas, nem os inquilinos são todos bonzinhos ou coitadinhos.»Quando dei a minha opinião não foi acerca do inquilino idoso referido na noticia,a leitura da noticia é que teve como consequência aquele pensamento em relação a este tema em geral,em abstrato e não no caso em concreto.
Mas desde já lhe digo que tenho quase a certeza que não é proprietário ,nem recebe um arrendamento de 69euros!esta quantia quase não dá para pagar as despesas de electricidade e água quanto mais de uma renda!
Quanto á sua afirmação que se é um priviligiado em receber uma herança destas...que sorte! um comerciante falido receber em mãos uma carga de trabalhos destas...
Abraço,Marco Pinto
https://questoesnacionais.blogspot.pt/2018/01/dois-comentarios-recebidos-e-uma.html
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