terça-feira, 13 de outubro de 2015

TRANSDEV(IR) SEM CAGANÇA

(Foto, a preto e branco, de João José Cardoso)




O terminal de camionagem de Coimbra, antiga Rodoviária Nacional e agora propriedade da Transdev, uma operadora de transportes públicos francesa e líder na transportação de passageiros em autocarro e metro/eléctrico, colocou um sistema de barramento e cobra cinquenta cêntimos para os seus clientes usarem a casa-de-banho.
Especulando, a partir do nome que se tornou marca, “Transdev”, que nos arrebata para um estádio de transcendência, para um “devir”, conceito filosófico que significa as modificações pelas quais tudo passa, já que neste mundo nada é permanente, imutável, excepto a mudança e a transformação, poderemos ser levados a entender que a multinacional gálica, ao aplicar uma taxa obrigatória para uma necessidade natural e legítima dos seus constituintes, procura contrariar o progresso. Como se sabe o progresso assenta na ideia de que o mundo pode tornar-se gradualmente melhor com a ajuda da ciência, tecnologia, modernização, liberdade e qualidade de vida. Quero dizer, portanto, que a “Transdev”, com esta medida, reporta-nos para o eterno retorno, para as nossas origens, quando para satisfazer uma necessidade fisiológica se recorria a qualquer canto e onde calhava. Raciocinando, implicitamente, parece dizer: “Portugueses, vocês são um povo rústico e atrasado. Como fizeram até há poucas décadas, cagar e mijar é em qualquer canto. Como imperativo categórico por falta de escolha, entre o pagar e não pagar, façam-no em qualquer recanto da estação rodoviária!”
Depois destas incursões filosóficas, no fundo a tentar justificar o injustificável, como é que se pode compreender uma medida destas?


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