Ontem realizou-se na cidade a “EDP II Maratona de Coimbra –Corrida do
Conhecimento”. Segundo os jornais cá da parvónia –porque, de facto, Coimbra, em alguns casos, é mesmo um lugarejo, pacóvio e atrasado- as demonstrações
que faziam parte das diversas provas desportivas foram um sucesso.
Antes de prosseguir, como primeira ressalva,
embirro solenemente com os trabalhos jornalísticos da nossa imprensa local que,
nos últimos anos, teima em descrever apenas os cenários de palco das diversas
peças que se vão desenrolando na cidade e raramente fala do bas-fond, da rectaguarda, dos baixios,
que não se vê iluminada pela luz dos holofotes. Em especulação, é como se os
jornais fossem uma máquina programada para agradar ao poder instalado. A meu
ver, enquanto leitor diário, sinto-me defraudado porque defendo uma imprensa
livre e um jornalismo independente –ou então, a ser parcial, comprometido com
os mais fracos e desprotegidos. Continuadamente e nos últimos anos a piorar, é
um relato a tentar mostrar o reflexo do espelho sem mostrar o reverso. É
apresentar os raios solares passados pelo filtro da peneira.
Por uma questão de honestidade
intelectual devo referir o Diário de Coimbra (DC) de hoje que, ao de leve, levezinho, doce e mansinho, aflora em subtítulo: “Forças
de segurança deixaram cidadãos reféns da sua cidade mas contribuíram pra o
êxito”. Ou seja, dá uma no cravo e
outra na ferradura. Plasma também: “Confrontado
com as lamentações pelos transtornos causados a alguns cidadãos com o corte do
trânsito em zonas da cidade que davam acesso ao percurso, Carlos Cidade
considerou que “as forças de segurança foram determinantes para o êxito da
prova e que isso faz parte da natural dinâmica das cidades”.
Como segunda ressalva, tenho de confessar que
admiro e gosto de Carlos Cidade. Deste Cidade, o homem que fala o DC. É um tipo
cá dos nossos, dos simples, sensível e sempre pronto a ajudar o próximo –dou o
meu testemunho pelo seu modo de se envolver nos problemas da Baixa. Só por isso
me contenho na fúria que me vai na alma –e, tal como o DC, dou uma no cravo e outra na ferradura. É
claro que, como sói dizer-se, no melhor pano cai a nódoa, mas tenho esperança
que, sendo este vereador do desporto diferente dos seus antecedentes na pasta,
veja a desordem que, desde há vários anos, continua a reinar nestes dias de
demonstrações desportivas na urbe e seja mais inteligente do que os anteriores.
No mínimo, largue a prova desportiva, entre dentro de um automóvel e faça o
percurso igual aos automobilistas.
MAS, AFINAL, NÃO FOI UM
SUCESSO?
E agora vou
directo ao assunto. Ontem, durante toda a manhã e até cerca das 12h30, por
causa destas provas desportivas, a cidade esteve sitiada e sem acesso ao centro
da Baixa. Não vou contar relatos de outros, eu vivi este “abusivo” coarctar de
um elementar e constitucional direito de circulação –não sou jurista mas
entendo que um direito superior da magna carta só pode ser suprimido quando, em
choque com outros menores, um valor maior se levanta. Ora, não me parece que
uma prova desportiva tenha essa matriz. Não me venham cá dizer que, em nome de
uma iniciativa promovida pela EDP, sem conciliar os interesses em questão, se
pode prejudicar uma maioria. O que acontece é que, como estamos numa terra de
ignorantes e ninguém reclama de viva voz, por dá cá aquela palha, recorre-se ao
mais fácil, porque dá jeito. Dá jeito aos cofres camarários porque durante uma
manhã não houve transportes colectivos. Dá jeito a um certo público bacoco que –já
agora não se ofendam, por amor da santa-, pagando para participar, fica todo
contente por impedir que outras pessoas que querem e precisam de trabalhar o
possam fazer em liberdade
MAS EXPLIQUE-SE, ALMA
DE DEUS!
Ontem, pouco passava das 10h00, provindo da
Estrada da Beira, tinha por destino a minha loja, na Baixa da cidade. Por
incrível que pareça, já que sou um bom malandro, eu estava a trabalhar. Tinha
objectos que pretendia descarregar no estabelecimento. Calmamente, percorri a
zona da Rua Carlos Seixas e entrei na Avenida Urbano Duarte. Cá ao cimo, sem
qualquer sinalização anterior –por exemplo, no mínimo, que estivesse um agente
da PSP a desviar o trânsito para a Ponte Rainha Santa- umas grades em ferro
obstaculizavam a passagem. Tal como outros, voltámos para trás e entrei na nova
ponte em direcção à Rotunda das Lages. Dentro da rotunda vários agentes
impediam que se prosseguisse e mandavam os carros para trás sem uma explicação –como
quem diz, para a Nacional número 1. Manda a lógica que este corte estivesse a
ser feito anteriormente e junto à Rotunda do Hotel Dom Luís. Voltei para
trás e, porque naturalmente conheço bem a zona- mas há quem desconheça-, direcionei
para a Cruz de Morouços e depois Santa Clara. Na rotunda do criador dos
escuteiros vários “PSP” bloqueavam o caminho. Fui para a área do Lidl e cortei
para a zona do Fórum. Na base da entrada para o desvio do Portugal dos
Pequeninos, mais uma patrulha obstruía a estrada. Voltei para trás e fui à Rotunda
do Almegue. Atravessei a Ponte Açude e virei para a Rua Abel Dias Urbano onde,
num caos sem descrição possível e aos montes vários condutores reclamavam com
um agente da PSP –por sinal mal-humorado, o que, pela pressão, até se admite-, que
aconselhava que os queixumes fossem encaminhados para a Câmara Municipal de
Coimbra. Tanto me valeu dizer-lhe que precisava de ir descarregar e que tinha
de ir para um funeral daí a uma hora na Figueira da Foz como nada. Não passava
e pronto! E poderia estacionar na Avenida Fernão de Magalhães ao seu lado e nas
suas costas, de modo a ficar mais próximo? Interroguei. Levei com um rotundo
não. O façanhudo agente já estava esgotado de paciência e –digo eu sem
acreditar- nem que fosse um ministro. A
menos que quisessem sair de algum hotel, por ali ninguém entrava de popó, mesmo
que não se avistasse um único atleta.
E QUANTO TEMPO SE ROUBOU
AO TEMPO?
Neste andar
de curvas e contra curvas e carregar ao ombro os artigos para a loja demorei
uma hora. Ora, falo por mim, foi um tempo desperdiçado que não beneficiou
ninguém. Ganhei uma brutal irritação, logo a começar pelo polícia do “dura lex, sed lex” mas tive de me conter.
Cheguei ao funeral da Figueira da Foz com uma hora e meia de atraso. Com todo o
respeito com este pretenso humor negro, como o falecido era meu amigo esperou
por mim.
Quero dizer com isto que, num
país em que o Governo corta feriados fundamentais –como sejam o 1.º de Dezembro
e o 5 de Outubro- para aumentar a produtividade, custa a entender como é que,
com estas parolas medidas anti-económicas, se fecha uma cidade ao labor.
MAS OLHE LÁ, Ó
ESPERTINHO, E COMO É QUE SE PODE FAZER MELHOR?
Bom, está de ver que isto não pode continuar
assim. A primeira medida a tomar seria o vereador Carlos Cidade chamar-me para
assessorar o seu pelouro –com um ordenadito acima de mil euros, que eu sou
modesto e passo com pouco. Na impossibilidade de eu não aceitar porque, lá na
autarquia e sem ofensa para alguém em especial, por um lado, há por lá gente
que não me vendia um automóvel, por outro, não vão à bola com a minha cara, o
que se deveria fazer é o óbvio. Isto é, sejam maratonas, cortejos alegóricos especiais,
ou mesmo passagem de Nossa Senhora de Fátima pela cidade, nada justifica
encerrar tudo só porque sim. É
preciso fazer planeamento –e aqui também ofereço os meus serviços de aconselhamento
ao Comando da PSP. Seja lá o que for, não pode haver justificação para passar ao lado dos direitos dos automobilistas. É preciso não esquecer que a cidade tem cerca
de 100 mil habitantes e, segundo a imprensa, ontem, só participaram à volta de
quatro mil pessoas.
Como até estamos em democracia, poderemos ser
tentados em apelidar esta medida de populista. Claro que se fosse no “tempo da outra senhora” isto era ditadura.
Mas vão-se os ventos e os costumes arreigados mantém-se! Mas é uma pena! Palavra
que é! Sobretudo com um vereador tão arejado nas ideias. Mas tenho fé que ele
seja abençoado pela luz divina, se converta, e encontre o caminho da
harmonização de interesses e contribua para a paz.
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