(Imagem da Web)
Vamos aos factos. A minha vizinha, a menina
Sonsinha Boateira, uma velhota de cerca de noventa anos, deu em espalhar pelas
esquinas da minha rua, becos e praças em redor, que eu, cidadão puritano e que
quando vê um decote com umas boas mamas cerra a cortina dos olhos, ando a
assediá-la e que, para além de ser devasso, tenho em mente a prática de sexo.
Como se fosse pouco, como é colaboradora do “Jornal da Caserna” –um matutino que talvez seja pouco conhecido-
deu em malhar na minha pessoa e metralhar a minha vida íntima forte e feio. Chega
a escrever que sou uma nulidade na cama, que sou mais rápido que Coelho a tombar governo, e que durmo logo a seguir ao acto sexual
como uma besta dorminhoca. Para agravar, ainda me acusa de envergonhar o género masculino.
Como é de imaginar, sinto-me em baixo
completamente com esta perseguição jornalística e boateira da menina Sonsinha.
Os danos na minha pessoa são irreparáveis, com ansiedade crescente e tendência
depressiva que, sei lá, para provar a minha masculinidade, pode fazer de mim um
potencial violador. Se a minha contra-prestação do meu baixo-ventre poderia até
agora deixar algo a desejar –saliento que não houve queixas-, agora, sinto-me
um combatente que perdeu a guerra e traz a espingarda ao pendurão.
Sendo uma figura pública na minha rua e
arredores, sinto a minha reputação muito abalada. De tal modo que quando mando
uns piropos a umas garotas de meio-século que passam por mim, numa displicência
provocadora dos maiores conflitos catárticos, estas mulheres dão em rir na
minha cara.
Como se vê, nesta contenda liberdade de
imprensa/manumissão boateira versus direito ao meu bom nome, onde a ofensa
consumada é declarativa, é muito claro que os meus fundamentos são elegíveis e,
para além de estar a sentir-me um cidadão de segunda apanha, como quem diz, de
rebusco, está de ver que um dos pratos da balança se inclina fortemente para a violação dos
meus direitos de personalidade.
Devo intentar uma providência cautelar para calar a boca à Sonsinha e silenciar o "Jornal da Caserna"?
(Qualquer comparação com um caso público que está a decorrer é pura coincidência)
(Qualquer comparação com um caso público que está a decorrer é pura coincidência)
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