sábado, 24 de outubro de 2015

QUANDO A CÂMARA MUNICIPAL NÃO DÁ VALOR À CIDADANIA





POR ALEX RAMOS


Quando, em várias edições, com  Luís fizemos a “Página da Baixa” a intenção era, por um lado, mostrar às pessoas o que se passava na zona, sobretudo as pequenas notícias que não eram divulgadas pelos jornais mas que mostravam uma outra vida da Baixa, a quem está no estrangeiro e a Coimbra, enquanto cidade. Por outro lado, pretendia-se denunciar para  eventuais problemas que não dignificam esta bela urbe, que a prejudicam e que retiram muito da sua beleza. Nalguns casos o objectivo era também alertar a câmara  sobre edifícios que,  por estarem muito degradados, podiam ruir e ferir pessoas, nomeadamente turistas, com a queda de objetos provenientes destes prédios, quem sabe até o possível colapso e causando muito provavelmente uma tragédia.
Acho que a câmara não deve ser apenas devoradora de taxas e pouco olhar para os problemas dos seus munícipes, por isso tentávamos ser a voz de alguns habitantes, comerciantes e outros que avisavam o executivo camarário para vários factos, ainda que minimalistas mas relevantes para quem um pequeníssimo problema pode ser um problemão. Ou seja, tentávamos ser uma ponte entre  munícipes sem voz e  uma câmara que, na sua imponência, parece pouco disposta a dar atenção aos mais pequenos. Às vezes sentia-me frustrado por perceber que a autarquia  não nos passava cartão e não queria saber o que se passava.
A Câmara, na sua passividade, não pode  ser o espelho de Coimbra parada no tempo. Passo a explicar. Desde sempre a cidade teve uma riqueza que muitas cidades têm e não soube aproveitar   no seu potencial.  Falo do Rio Mondego. A Lusa Atenas esteve sempre de costas voltadas para este manancial líquido e discriminou sempre uma das margens. Basta ver que na margem direita, no lado do Largo da Portagem, há -sempre houve- um desenvolvimento maior do que no lado esquerdo, de Santa Clara.
Hoje, porém, já é diferente  e o lado de lá já tem outro brilho, nota-se outro progresso acelerado. Basta  ver as recentes alterações ao trânsito e verificar como o movimento flui na ponte e artérias adjacentes. Coimbra, com estas alterações, transformou-se para melhor e em vez de só se olhar para um lado, como até há pouco, abraçou as duas margens em toda sua plenitude e já tira  mais potencial, pelo menos visual, do seu rio. Já há algumas atividades e até há um restaurante-barco, o Basófias. Mas, naturalmente, há muito mais a  fazer.
A edilidade, ao não ouvir os munícipes que se manifestam em blogues, jornais ou outros meios de informação, está a perder importantes aliados e que deveria acarinhar. Não lhes ligando patavina é como se, em metáfora, dissesse: falem, escrevam e estrebuchem para aí à vontade até se cansarem. O problema é vosso e não nosso!
Então pergunto: se mandam fora e repudiam quem está a praticar a cidadania, quer dizer que sabem tudo o que os habitantes precisam e têm necessidade? Ou têm receio destes cidadãos colaborantes, que têm outra visão do que os rodeia? Deveria haver outra maneira de interagir com quem quer trabalhar gratuitamente para ajudar os seus semelhantes. Restringir os queixumes às sessões camarárias é pouco. E também a ideia de levar os munícipes a um gabinete criado para sugestões e reclamações, a meu ver, não surte o desejável efeito. Estou a lembrar-me que o movimento “Cidadãos por Coimbra” fez isso –recebe os munícipes todas as sextas-feiras à tarde na Casa Aninhas- e, salvo melhor opinião, não me parece que as pessoas saiam de suas casas facilmente, a não ser que tenham uma dificuldade enorme e a isso obrigue. É aqui que o cidadão-correspondente faz um bom papel –ele vê, ouve e vai a casa de cada um. Isto é, faria um bom trabalho se a autarquia não o enxotasse e o varresse como lixo e, pelo desprezo, o obrigasse a desistir.
É certo que vejo que alguns problemas que denunciámos vão sendo resolvidos, mas é pouco. Numa certa “Página da Baixa”  criticámos  um mamarracho -que na  realidade eram dois- junto à Casa das Bonecas, no Beco das Canivetas. Segundo li,  parece que a obra vai avançar o que acho muito bem pois dignifica uma área algo abandonada.  É  muito bom saber. Quase sou levado a acreditar que o executivo começa a ouvir? Será? Tenho algumas dúvidas, mas pode ser que sim! Criticamos e elogiamos quando entendemos. Mas gostamos de saber quando nos ouvem.

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