O João José
Cardoso faleceu esta noite. Homem de causas, sempre pronto a ajudar,
controverso, teimoso que nem uma mula, comunista convicto que abraçava o seu
ponto de vista mesmo que fosse o único a defendê-lo, era o amigo do seu amigo
sempre certo mesmo que em tempo incerto. Activo militante do Bloco de Esquerda,
foi sempre, na cidade, uma voz erguida contra o que considerava ser atentatório
aos bons princípios comunitários. E respondia com bondade aos apelos sociais. Defensor de Coimbra e da sua história, da sua Baixa
que abraçava de corpo e alma, a cidade era quase a matriz da sua existência.
Era um escritor, blogueiro de conspiração, de excelência e as suas tiradas bem fundamentadas contra
a maioria governamental ficarão para sempre plasmadas no blogue Aventar.
Conheci o Cardoso já lá vão décadas, mas
convivi mais de perto com ele noutras lutas e sobretudo na defesa da Mata Nacional do Choupal quando,
pelo Governo de Sócrates em 2009 e 2010, se pretendia fazer atravessá-la com
uma auto-estrada. Graças a ele e a outras vozes que se ergueram contra aquela
construção de cimento o projecto ficou pelo caminho.
Há cerca de duas semanas fui visitá-lo a sua
casa, na Rua Ferreira Borges, e encontrei-o bastante combalido. Mal entrei no
seu quarto, e no muito que lhe era peculiar, ordenou: “faz-me duas coisas: fala baixo e senta-te!”. Por adivinhar que não
estaria para grandes conversas, estive pouco tempo na sua presença. À saída,
reportando aos meus escritos, recomendou: “continua a malhar neles!”
No último fim-de-semana, há oito
dias, portanto, tentei ir revisitá-lo mas já não consegui. Não insisti. Como
fui vendo esta semana as suas curtas mensagens no Facebook, dei como certo que
um lutador não se entrega facilmente à morte e esta teria que se esforçar muito
para conseguir os seus intentos, e pensei que ainda estaria para durar.
Infelizmente não foi assim e acabo de ler a notícia do seu falecimento.
Em nome de todos –se posso escrever assim-,
dos seus muitos amigos aqui na Baixa, pelos camaradas, pelos seus opositores
que não comungavam das suas ideias mas que o respeitavam, em nome dos seus muitos alunos da disciplina de história na Escola Secundária José Falcão, para a sua família
enlutada, que foi coarctada tão abrupta e precocemente de uma vida cheia de vida para
ajudar o próximo, os nossos mais sentidos pêsames. O seu funeral será realizado amanhã, Domingo, no Complexo funerário da Figueira da Foz cerca das 14h00. Até sempre, João José
Cardoso!
Deixo aqui um pretenso poema que escrevi em
sua memória:
Olha bem,
olha p’ra mim!
Os meus
olhos estão assim,
alagados em
mágoa e dor.
Vais embora
de partida,
em serena despedida,
sem deixar
um acenar!
É preciso te
louvar,
em nome do
recordar
das causas
que defendeste!
Foi desgraça
do destino,
que em má hora
e desatino
neste dia te
escolheu!
Não quebravas
na palavra
vibrante de
convicção,
como o rufar
dum tambor,
fosse noite,
ou qualquer dia,
correndo atrás
da utopia,
foste sempre
um sonhador.
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