Como
metáfora, pegando no título “depois da
urna” –que é demasiado tétrico mas foi o que me ocorreu no seguimento do
após-eleição legislativa e que decorreu no último Domingo- o que pode vir a
seguir?
Não vou fazer grandes explanações sobre o que
aconteceu –aliás, em acto de contrição, reconheço que, como presciente, sou uma
desgraça. Se foi por isto, por aquilo, ou por aqueloutro estas narrativas deixo para quem sabe, e são muitos e
cada um com sua explicação. O que vou escrever é que estou com uma ressaca que
até me dói a barriga. Não sei bem se estou com depressão pós-parto, salvo seja,
se estou doente da alma. O que sei é que apanhei uma traulitada na cabeça que nem consigo raciocinar. Já o escrevi várias vezes, sou assumidamente
liberal –de centro esquerda- e, embora já votasse em praticamente quase todos
os partidos, o meu voto andou sempre entre o PSD –não neste, de Passos Coelho-
e o PS –não deste, de António Costa. Quero dizer, portanto, que, como milhares
de portugueses, votei à esquerda do PS. No entanto, salvaguardo que esperava
ansiosamente que o PS ganhasse o sufrágio. Ou seja, erradamente como tantos
eleitores que se deslocaram à urna, dei antecipadamente como favas contadas que
o PS tinha o combate ganho. E perdeu! Perdeu porque minimizei as consequências.
Como muitos outros votantes, a pensar como eu e que não se reviam em Costa, no
Círculo de Coimbra e noutros, canalizaram o seu voto para eleger um deputado à
esquerda do PS à Assembleia da República.
A SUGESTÃO DE CAVACO
Apesar de ter votado em Cavaco no primeiro
mandato –logo que me apercebi do erro já era tarde para voltar atrás-, tenho
para mim que é talvez o pior Presidente da República que tivemos depois do 25
de Abril. No entanto, se calhar em paradoxo, desta vez estou completamente de
acordo com a disposição de nomear a Coligação para formar governo e sua sugestão
para que sejam feitos acordos de bancada parlamentar para evitar a
instabilidade que se prevê nos próximos tempos. Embora se saliente a sua posição inqualificável antes das eleições quando anunciou que só daria posse a uma maioria que oferecesse estabilidade governativa. Agora está a engolir o que proferiu. Mas admito o acto de contrição a favor da superior conveniência em causa.
Nestas análises, a meu ver, temos de ter em
conta várias premissas:
Primeira, o interesse do País deve estar acima
das ambições mesquinhas e interesseiras dos dirigentes partidários e dos partidos
que lideram –e aqui refiro todas as formações políticas à esquerda do PS.
Segunda, sendo a Coligação a mais votada é
legítimo que os dois partidos que a compõem sejam chamados para formar governo –aqui,
no meu entendimento, Cavaco está a fazer o que deve. Pudera que fosse ao
contrário. Cabe ao actual primeiro-ministro fazer o acordo parlamentar com o
partido que entender – e aqui tenho de escrever que discordo completamente da
posição do Bloco de Esquerda e da CDU em anunciarem o derrube deste governo
minoritário.
Terceira, com a alta participação de Cavaco, seria
absurdo formar um governo de esquerda simplesmente porque a agremiação de
direita não alcançou a maioria. É preciso respeitar os ganhadores. Aqui,
aceitando os resultados, é que se vê quem honra a maioritária decisão dos
eleitores –do tal povo, estúpido ou não, enquanto massa abstracta.
As eleições ganham-se nas urnas e
não na secretaria. Se a esquerda quer ser governo que se una –contrariamente ao
que tem feito numa divisão de pequenos partidos cada vez maior. Mas para o ser
terá mesmo de obter o maior número de votos.
Embora gostasse de ver um governo
de esquerda a governar Portugal –para lhe dar possibilidade e oportunidade de
mostrar o que é capaz de fazer- não alinho em golpes de estado palacianos, in vitro.
HERÓI MORTO OU
CRUCIFICADO VIVO?
António Costa, líder do segundo maior partido
de oposição, o PS, está com um problema enorme entre mãos. A pior coisa que
poderia ter feito foi ter derrubado António Seguro –pela alegada escassa margem
vitoriosa- para conquistar o poder a qualquer custo. O povo não gostou e as
várias facções do seu partido, seguristas,
alguns soaristas e socratistas, em conspiração, fizeram
tudo para minar a sua credibilidade. Depois, para piorar, foi o anúncio, na
campanha eleitoral, de, em caso de perda de eleições, não viabilizar o
Orçamento.
Agora, com o fantasma da facada segurista como encosto e com muitos seus correlegionários a
pedirem a sua cabeça –e que estão para o PS como o Bloco e a CDU está para
Portugal-, Costa está num trilema:
-Se fizer aliança com a Coligação, PàF, é
crucificado vivo pelos seus opositores dentro do partido, que estão ceguinhos
para subirem ao púlpito e erguerem a bandeira.
-Se se entender com Passos Coelho, dando o
dito por não dito e engolindo as promessas de rejeitar o Orçamento, será um
herói morto por todos os socialistas portugueses, que nunca mais lhe perdoarão
a afronta e, provavelmente, o seu futuro político está condenado por traição à
pátria rosa.
-Se seguir o que o partido parece querer
impor-lhe, ou seja, não entrar em acordo, mais que certo, dentro de dois anos,
se tanto, teremos novamente eleições com a Coligação a lamentar-se e a fazer de
vítima pela obstrução e, se calhar, a conquistar nessa altura uma maioria que
não obteve agora.
E ENTÃO? O QUE RESTA A
COSTA?
Se António Costa for mesmo um patriota e
colocar os interesses de Portugal acima dos seus perderá o respeito de muitos
mas, negociando com Passos Coelho visando a conveniência de todos e sem
hipotecar a sua personalidade, ganhará a estima dos portugueses e continuará na
ribalta política.
Sem comentários:
Enviar um comentário