quarta-feira, 7 de outubro de 2015

DEPOIS DA URNA






Como metáfora, pegando no título “depois da urna” –que é demasiado tétrico mas foi o que me ocorreu no seguimento do após-eleição legislativa e que decorreu no último Domingo- o que pode vir a seguir?
Não vou fazer grandes explanações sobre o que aconteceu –aliás, em acto de contrição, reconheço que, como presciente, sou uma desgraça. Se foi por isto, por aquilo, ou por aqueloutro estas narrativas deixo para quem sabe, e são muitos e cada um com sua explicação. O que vou escrever é que estou com uma ressaca que até me dói a barriga. Não sei bem se estou com depressão pós-parto, salvo seja, se estou doente da alma. O que sei é que apanhei uma traulitada na cabeça que nem consigo raciocinar.  Já o escrevi várias vezes, sou assumidamente liberal –de centro esquerda- e, embora já votasse em praticamente quase todos os partidos, o meu voto andou sempre entre o PSD –não neste, de Passos Coelho- e o PS –não deste, de António Costa. Quero dizer, portanto, que, como milhares de portugueses, votei à esquerda do PS. No entanto, salvaguardo que esperava ansiosamente que o PS ganhasse o sufrágio. Ou seja, erradamente como tantos eleitores que se deslocaram à urna, dei antecipadamente como favas contadas que o PS tinha o combate ganho. E perdeu! Perdeu porque minimizei as consequências. Como muitos outros votantes, a pensar como eu e que não se reviam em Costa, no Círculo de Coimbra e noutros, canalizaram o seu voto para eleger um deputado à esquerda do PS à Assembleia da República.

A SUGESTÃO DE CAVACO

Apesar de ter votado em Cavaco no primeiro mandato –logo que me apercebi do erro já era tarde para voltar atrás-, tenho para mim que é talvez o pior Presidente da República que tivemos depois do 25 de Abril. No entanto, se calhar em paradoxo, desta vez estou completamente de acordo com a disposição de nomear a Coligação para formar governo e sua sugestão para que sejam feitos acordos de bancada parlamentar para evitar a instabilidade que se prevê nos próximos tempos. Embora se saliente a sua posição inqualificável antes das eleições quando anunciou que só daria posse a uma maioria que oferecesse estabilidade governativa. Agora está a engolir o que proferiu. Mas admito o acto de contrição a favor da superior conveniência em causa.
Nestas análises, a meu ver, temos de ter em conta várias premissas:
Primeira, o interesse do País deve estar acima das ambições mesquinhas e interesseiras dos dirigentes partidários e dos partidos que lideram –e aqui refiro todas as formações políticas à esquerda do PS.
Segunda, sendo a Coligação a mais votada é legítimo que os dois partidos que a compõem sejam chamados para formar governo –aqui, no meu entendimento, Cavaco está a fazer o que deve. Pudera que fosse ao contrário. Cabe ao actual primeiro-ministro fazer o acordo parlamentar com o partido que entender – e aqui tenho de escrever que discordo completamente da posição do Bloco de Esquerda e da CDU em anunciarem o derrube deste governo minoritário.
Terceira, com a alta participação de Cavaco, seria absurdo formar um governo de esquerda simplesmente porque a agremiação de direita não alcançou a maioria. É preciso respeitar os ganhadores. Aqui, aceitando os resultados, é que se vê quem honra a maioritária decisão dos eleitores –do tal povo, estúpido ou não, enquanto massa abstracta.
As eleições ganham-se nas urnas e não na secretaria. Se a esquerda quer ser governo que se una –contrariamente ao que tem feito numa divisão de pequenos partidos cada vez maior. Mas para o ser terá mesmo de obter o maior número de votos.
Embora gostasse de ver um governo de esquerda a governar Portugal –para lhe dar possibilidade e oportunidade de mostrar o que é capaz de fazer- não alinho em golpes de estado palacianos,  in vitro.

HERÓI MORTO OU CRUCIFICADO VIVO?

António Costa, líder do segundo maior partido de oposição, o PS, está com um problema enorme entre mãos. A pior coisa que poderia ter feito foi ter derrubado António Seguro –pela alegada escassa margem vitoriosa- para conquistar o poder a qualquer custo. O povo não gostou e as várias facções do seu partido, seguristas, alguns soaristas e socratistas, em conspiração, fizeram tudo para minar a sua credibilidade. Depois, para piorar, foi o anúncio, na campanha eleitoral, de, em caso de perda de eleições, não viabilizar o Orçamento.
Agora, com o fantasma da facada segurista como encosto e com muitos seus correlegionários a pedirem a sua cabeça –e que estão para o PS como o Bloco e a CDU está para Portugal-, Costa está num trilema:
-Se fizer aliança com a Coligação, PàF, é crucificado vivo pelos seus opositores dentro do partido, que estão ceguinhos para subirem ao púlpito e erguerem a bandeira.
-Se se entender com Passos Coelho, dando o dito por não dito e engolindo as promessas de rejeitar o Orçamento, será um herói morto por todos os socialistas portugueses, que nunca mais lhe perdoarão a afronta e, provavelmente, o seu futuro político está condenado por traição à pátria rosa.
-Se seguir o que o partido parece querer impor-lhe, ou seja, não entrar em acordo, mais que certo, dentro de dois anos, se tanto, teremos novamente eleições com a Coligação a lamentar-se e a fazer de vítima pela obstrução e, se calhar, a conquistar nessa altura uma maioria que não obteve agora.

E ENTÃO? O QUE RESTA A COSTA?

Se António Costa for mesmo um patriota e colocar os interesses de Portugal acima dos seus perderá o respeito de muitos mas, negociando com Passos Coelho visando a conveniência de todos e sem hipotecar a sua personalidade, ganhará a estima dos portugueses e continuará na ribalta política.




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