Normalmente, com pompa e circunstância,
anunciam-se as despedidas de solteiro. Até faz sentido. Parte-se para uma
aventura cheios de força, de fé e esperança numa vida a dois. Por parte do
nubente, é comum ouvir-se: “ela é a
mulher/homem da minha vida! Ela é a mulher/homem dos meus sonhos!”
O tempo, como ferro de engomar, vai vincando as coisas boas e, como
coveiro prestimoso, vai enterrando as coisas más. Os sonhos, progressivamente,
vão sendo arrumados em gavetões no mausoléu da memória e entregamo-nos à
evidência de que a ambição é simplesmente um motor que gripou. Cresce a barriga
e com o passar dos anos sentimos que estamos diferentes. Já não somos a mesma
pessoa, crédula e sonhadora. Com o passar dos Outonos chuvosos e invernos
gelados tornamo-nos fósseis, duros, inflexíveis, e damos por nós a contar
histórias e mais histórias da nossa vida, como se a sua narração interessasse a
alguém. Numa frase solta: tornamo-nos mais chatos que os animaizinhos assim
baptizados.
As diferenças que sempre
existiram entre nós e a/o consorte, de repente ou talvez não, como boias submergidas
à força, irrompem e dão à tona e, o que até aí nunca foi, passam a ser um
problema. Como mó desgastada pela rodagem rotineira, sentimos que tudo mudou à
nossa volta.
O adeus à vida de casado, tanto quanto sei,
raramente se faz nota. Entende-se! Afinal não há festa nenhuma! O ambiente é o
de um velório. O que se apresenta são restos de uma vida em comum desfeita.
E porque estou eu aqui com esta
lamechice? Então eu sei lá? Hoje, apeteceu-me ir ao bordel e pronto!
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