quarta-feira, 24 de setembro de 2014

FUI AO BORDEL....




Normalmente, com pompa e circunstância, anunciam-se as despedidas de solteiro. Até faz sentido. Parte-se para uma aventura cheios de força, de fé e esperança numa vida a dois. Por parte do nubente, é comum ouvir-se: “ela é a mulher/homem da minha vida! Ela é a mulher/homem dos meus sonhos!”
O tempo, como ferro de engomar, vai vincando as coisas boas e, como coveiro prestimoso, vai enterrando as coisas más. Os sonhos, progressivamente, vão sendo arrumados em gavetões no mausoléu da memória e entregamo-nos à evidência de que a ambição é simplesmente um motor que gripou. Cresce a barriga e com o passar dos anos sentimos que estamos diferentes. Já não somos a mesma pessoa, crédula e sonhadora. Com o passar dos Outonos chuvosos e invernos gelados tornamo-nos fósseis, duros, inflexíveis, e damos por nós a contar histórias e mais histórias da nossa vida, como se a sua narração interessasse a alguém. Numa frase solta: tornamo-nos mais chatos que os animaizinhos assim baptizados.
As diferenças que sempre existiram entre nós e a/o consorte, de repente ou talvez não, como boias submergidas à força, irrompem e dão à tona e, o que até aí nunca foi, passam a ser um problema. Como mó desgastada pela rodagem rotineira, sentimos que tudo mudou à nossa volta.
O adeus à vida de casado, tanto quanto sei, raramente se faz nota. Entende-se! Afinal não há festa nenhuma! O ambiente é o de um velório. O que se apresenta são restos de uma vida em comum desfeita.
E porque estou eu aqui com esta lamechice? Então eu sei lá? Hoje, apeteceu-me ir ao bordel e pronto!

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