(Imagem da Web)
Que ninguém se ofenda pelo que vou escrever, tal como o algodão, as capas dos jornais
de hoje não enganam: somos um País miúdo, vestido de roupagem cara de
modernidade. Enquanto cidadãos, não passamos de uns subdesenvolvidos, analfabetos,
rústicos, broncos e hipócritas –naturalmente que me junto a esta classificação.
A generalidade da imprensa, falada e escrita, nacional e local –e aqui excluo o Diário as Beiras
que tratou o assunto com subtileza- apresenta em caixa-alta o strip-tease, ou show erótico, realizado por quatro
jovens, “comediantes que participam, em
Coimbra, num curso de teatro” –in Diário as Beiras-, nos jardins da Associação
Académica de Coimbra (AAC). Como se tudo fosse comandado por uma entidade
superior, de vez em quando, lá salta para a ribalta a “coisinha”, a minudência, para nos desviar atenção dos verdadeiros
problemas que minam o rectângulo.
Basta visionar o vídeo postado no
Youtube para verificar que é uma mera
brincadeira –aliás, de pouquíssima qualidade. Se não fosse cá por coisas pedia
responsabilidade ao autor. As mamocas das raparigas não se vêem como deve ser
e, por esse facto, sinto-me defraudado. Tenho direito a ver tudo e, com tantas
sombras, estamos perante um produto de baixíssima qualidade.
Acho muita graça, passados quarenta anos o
sexo, sobretudo em Portugal, continua a gerar polémica de sacristia. Durante o
Estado Novo era escondido dos olhares públicos e tudo se passava de baixo de
lençóis. A ignorância grassava nesta terra esconsa e atrasada. Aconteceu uma
revolução e, como seria de prever, o sexo libertou-se das amarras, sai
espavorido, e ganhou carta de alforria. Entrou nas famílias portuguesas por
tudo o que era frincha, porta, janela ou telhado. Como se recebe um familiar
chegado, todos o acolheram com um abraço –afinal é parte intrínseca e a
expressão do desejo- mas poucos procuraram conhecê-lo para o poderem explorar
devidamente. Tratam-no como uma droga de mera ocasião espontânea. Ingere-se e,
enquanto dura, leva-se ao limite. Quando passa o efeito esquece-se e até há
algum pudor em falar sobre ele –não vá o outro pensar que está perante um
tarado. Uma grande maioria não fala com o seu par sobre o assunto.
Os últimos governos levaram a educação sexual
para as escolas. Os resultados científicos desse presumível levantar do véu foram
apresentados à comunidade? Alguém sabe se serviu para o desenvolvimento
intelectual dos alunos? Os professores, que dão a matéria, sentem-se
confortáveis na explicação psico-somática, sabendo-se que os miúdos, na
generalidade, têm acesso a filmes pornográficos na Internet e, provavelmente,
já levam uma ideia equivocada das relações sexuais entre humanos e, mais que certo,
e ainda que erroneamente, saberão mais que o mestre?
Vivemos numa sociedade “faz de conta”! O Governo faz
de conta que, através da educação, promulga a educação sexual; os
professores fazem de conta que
ensinam; os chefes de família fazem de
conta que dão gozo às suas mulheres; as esposas, num fingimento aviltante, fazem de conta que têm prazer. O
resultado disto tudo é mais grave do que parece: é o convivermos diariamente
com a infelicidade, com a frustração palpável e perceptível nos rostos que
connosco se cruzam na rua.
Voltando à cidade como pano de fundo,
relembremos o caso do ex-comandante da Polícia Municipal (PM), Euclides Santos, que por ter enviado, no Natal de 2011, uns cartões de boas-festas em que apareciam
umas garotas em trajes menores foi punido pela “Coligação por Coimbra”. Talvez poucos saibam os custos familiares e
pessoais que esta deliberação pacóvia e anacrónica teve para o meu amigo
Euclides. Eu sei! E esta gente, pela sua irresponsabilidade política, social e
lesiva dos interesses de terceiros, deveria ter sido sentada no tribunal.
Coimbra não é uma cidade cosmopolita é
simplesmente uma paróquia de falsos moralistas.
1 comentário:
Parabéns pelo texto!
Eu também escrevi sobre isso num post:
http://blog.afundasao.com/2014/09/ai-jesus-maria-quem-nos-acode.html
Vou tomar a liberdade de recomendar a leitura deste seu texto.
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