quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

UMA CONTRA-RESPOSTA E UM RETORNO



Caro Quintans, li atentamente o que escreveu. Respeito o que diz e concordo com a maior parte. Há , no entanto, alguns pontos, sobre o meu pensamento, que queria esclarecer consigo. Nunca foi minha intenção dizer-lhe , ou pressioná-lo, para alterar a linha editorial desta página (Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial). Nem sequer alimentar uma polémica. Tal como o Quintans também acredito na liberdade individual daí longe de mim querer alterar fosse o que fosse quer no seu pensamento quer na sua acção. O moderador é o Quintans. Eu sou membro do grupo. O meu papel é bem mais fácil do que o seu. Se o Quintans tem de se preocupar e meditar sobre problemas como o conflito entre a liberdade de expressão de quem difunde ideias homofóbicas e xenófobas e o seu papel pessoal-e desta página- como suporte na difusão dessas ideias da minha parte o meu papel-e problema- é bem mais fácil de resolver. Reconheço a liberdade de reunião a todos no entanto nem todos se podem reunir no meu quintal. Reconheço a liberdade de expressão a todos no entanto não quero publicidade neo-fascista no meu ecrã de computador (como não quereria publicidade estalinista, nazi, norte coreana, do presidente Trump, de Nicolas Maduro, do Bolsonaro etc, etc, etc....). Como melhor perceberá agora o que eu pretendia da vossa página era apenas um esclarecimento sobre a vossa posição para eu poder definir a minha. Desta forma retirar-me-ei de membro. Apenas isso. Da próxima vez em que o encontrar na baixa, ou em que apareça na sua loja, serei para consigo o mesmo de sempre.”


Obrigado pela contra-resposta Ricardo Kalash. Antes de ir às saudações democráticas, deixe-me mostrar uma ressalva: não tenho mais simpatia pela força política de que falamos do que outra qualquer do léxico partidário. Isto, no entanto, não quer dizer que, igualmente como outras da esquerda à direita, não concorde com algumas das suas posições políticas.
Por outro lado, gostava de esclarecer um pormenor que marca toda a diferença: o que está em causa é um post, colocado por um membro, a fazer publicidade a uma conferência com o título “Ideologia de Género – uma desconstrução social”, promovida pelo PNR, Partido Nacional Renovador. Acontece que o caro amigo Kalash tomou esta iniciativa local a realizar num pequeno café como se estivesse em causa toda a política do PNR, e se fossem fazer lavagens cerebrais a quem comparecer. Ou seja, em metáfora, tomou o grão de areia pela praia. Em linguagem mais pragmática, num apriorismo latente, respondeu ao estímulo exactamente como não se deve agir, que é tomar a amostra pelo todo.
Peço-lhe encarecidamente que não entenda a minha dissertação como professoral, ou sobre bitola de superioridade existencial, mas já sou velho, cheio de cabelos brancos e a alma cheia de cortes angustiantes dados pela vida. Então, seguindo esta “deixa”, vou dizer-lhe que, durante cerca de uma dúzia de anos, fui dono de um pequeno café de bairro. Tenho para mim que o exercício da hotelaria é a maior escola da vida no que toca à prática das relações humanas. Foi ali que aprendi a generalizar olhando todas as pessoas como boas até prova concreta em contrário (tese de Rosseau). Isto é, partir do bom para o mau.
Ora, se permite, o Ricardo, faz exactamente ao contrário. Num silogismo digno de nota, sem debate e aceitando de ânimo leve ideias correntes, leva a sério que se um membro de uma determinada congregação é mau e difunde ideias perniciosas, logo toda a sua irmandade é repelente. Como adivinha, a esta forma de proceder chama-se preconceito.
Por outro lado, é minha opinião que, sobretudo em Portugal, o fantasma da extrema-direita está a levar a um irracionalismo exacerbado de muitos livres-pensadores – como o Kalash. Ao escusar-se uma discussão pública, fechando o assunto numa caixa hermética sem análise, está a gerar-se uma falsa ideia de movimento forte e concertado. Quem segue a política portuguesa com atenção sabe que nada disto é verdade.
Quanto ao seu pedido de demissão desta página, respeitando a sua opinião, acho que faz mal. Pense bem! Ao abandonar, está a demitir-se de uma responsabilidade social, que é a crítica legítima de quem olha para além do horizonte, e a aceitar passivamente o que outros parecem querer impor.
(Não fui muito longo, pois não?)
Sempre com amizade, ao seu dispor.
António Luís Fernandes Quintans

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